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A agricultura na era da tecnologia


Amélio Dall’Agnol
O momento pelo qual passa o setor agrícola brasileiro, induziria qualquer um a pensar que há bons motivos para comemorações, de vez que a safra brasileira de quase 100 milhões de toneladas de grãos é recorde, o PIB do setor agro-industrial passa dos 200 bilhões de dólares e a produtividade das principais culturas do País cresceu mais de 70% ao longo dos últimos 25 anos. Mas no campo nem tudo são flores. O bom desempenho do agronegócio nacional é parcialmente anulado pelos baixos preços das commodities agrícolas no mercado internacional, que, em apenas quatro anos, caíram 30% e as expectativas não são estimulantes. Parte da responsabilidade por este quadro é dos abusados e desleais subsídios praticados pelos países ricos, que, ademais de subsidiarem a produção local que os auto-abastece, restringem as nossas exportações, impondo ridículas barreiras tarifárias e não tarifárias, além de deprimir os preços internacionais, colocando sobras subsidiadas no que resta de mercado. Mas uma coisa é certa, não há mal que sempre dure e nem bem que nunca acabe. O protecionismo e os subsídios tenderão a desaparecer por pressão da lógica dos mercados. Vencerão os mais capazes de competir, condição que se adquire via uso intensivo de modernas tecnologias, obtidas através de pesados investimentos em pesquisa. O Brasil pode orgulhar-se de ter desenvolvido a mais avançada tecnologia agropecuária para a produção em regiões tropicais, resultado de significativos investimentos realizados em décadas passadas na formação de cientistas de alto nível e na construção de modernos e bem equipados centros de pesquisa onde exercessem suas atividades. O produtor rural que não souber incorporar tecnologia ao processo produtivo da sua lavoura, compensando com aumentos de produtividade a queda dos preços, muito provavelmente engrossará o contingente dos desesperançados que habitam as periferias de nossas grandes e pequenas cidades, criando, para a sociedade urbana, um sério problema social e econômico. O êxito financeiro de uma empresa agrícola depende da sua capacidade de competir. No passado, essa capacidade dependia, fundamentalmente, da quantidade e da qualidade dos recursos naturais que possuía. Hoje não é mais assim. Deverá ter mais êxito uma empresa agrícola que possui terras agrícolas marginais, mas utiliza modernas técnicas de produção, que outra, detentora de terras férteis, mas exploradas com baixo nível tecnológico. Em outros termos, o produtor rural moderno deverá ser mais competitivo utilizando intensivamente insumos intelectuais, do que abundantes insumos materiais. Para ilustrar, há o exemplo de Israel, que cultivando desertos, compete vantajosamente no mercado internacional de produtos agrícolas com países bem mais aquinhoados de recursos naturais, como o Brasil. O crescimento da produção agropecuária que o País experimentou ao longo dos últimos 25 anos, não é obra do acaso. Coincide com a vida da Embrapa, responsável, juntamente com outros parceiros públicos e da iniciativa privada nacionais, pela geração e transferência de modernas tecnologias, cuja importância é reconhecida no Primeiro Mundo, como bem ilustra a reportagem “
Sojicultores brasileiros ofuscam agricultores americanos “, veiculada no jornal “The New York Times”, onde a Embrapa Soja, aqui do Paraná, é citada como “líder mundial em pesquisa sobre soja tropical”. Paradoxalmente, ao tempo que se reconhece a importância da tecnologia como fonte de competitividade, e o setor agro-industrial como motor do crescimento econômico e social, vemos o montante dos recursos públicos destinados à geração de novos conhecimentos agrícolas diminuir paulatinamente, como resultado do ajuste do Estado à nova economia mundial, que exige redução do gasto público e do aparato estatal. Isso, no entanto, não tem desestimulado os cientistas brasileiros da área, pois novas fontes de financiamento foram identificadas, principalmente junto ao setor privado, fato muito positivo, de vez que sinaliza a satisfação do setor produtivo com os resultados disponibilizados pela pesquisa, estimulantes o bastante para motivar o empresariado nacional - tradicionalmente avesso a apoiar esse tipo de iniciativa - a prestar sua importante e necessária colaboração à área. Os incontestáveis avanços alcançados pelo Brasil na produção agrícola, como resultado de significativos aportes de recursos em ciência e tecnologia agropecuária, de décadas passadas, não serão suficientes para garantir êxitos futuros permanentes. Esses avanços serão rapidamente superados pela adoção de novas tecnologias de maior impacto, principalmente as biotecnologias. Para não perder espaços no mercado globalizado, por parte de quem persistir na busca de novos e mais avançados conhecimentos, o Brasil precisará não apenas manter, mas ampliar os atuais investimentos em pesquisa agrícola.

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