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Florescimento de trigo desperta atenção para a ocorrência de giberela


Opinião Livre
De acordo com dados da EMATER, cerca de 50% das lavouras do RS estão entrando no estádio de florescimento. Embora a condição fitossanitária das lavouras esteja boa até o momento, não podemos descuidar das doenças de espiga. Uma das principais é a giberela, causada pelo fungo Gibberella zeae (Fusarium graminearum). Essa é uma doença de infecção floral e depende da duração do molhamento das espigas e da temperatura para infecção. São necessárias em torno de 48 h de molhamento contínuo (chuva) e temperaturas médias acima de 20 C° para a manifestação dos sintomas. O pico de suscetibilidade dos cereais de inverno ocorre durante a extrusão das anteras (florescimento), mas pode se estender até o início de enchimento de grãos, o que faz com que por pelo menos 30 dias do ciclo da cultura, exista a possibilidade de infecção. Além de afetar o rendimento e a qualidade de grãos (grãos chochos), há o risco de contaminação dos grãos por micotoxinas, o que impacta negativamente na cadeia produtiva. Uma das principais micotoxinas é a deoxinivalenol (DON), pertencente à classe dos tricotecenos. DON é popularmente chamada de "vomitoxina" por induzir vômitos e rejeição a alimentos em várias espécies animais. No Brasil, a legislação que versa sobre o tema é recente. Somente em 2011 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) passou a regulamentar os níveis toleráveis de micotoxinas em grãos, não só de trigo, mas de outros cereais. Até o final de 2016 o nível tolerável de micotoxinas para diversos cereais deverá ser reduzido gradativamente. 
Giberela é considerada uma doença de difícil manejo, tanto pela dificuldade de se atingir o sítio de infecção (as espigas) quanto pela performance nem sempre satisfatória dos fungicidas em campo. O grande número de plantas hospedeiras, incluindo plantas daninhas, bem como, a capacidade de sobrevivência do patógeno em restos culturais na superfície do solo faz com que a rotação de culturas não seja uma medida eficiente de controle, visto que o fungo sobrevive em restos culturais não só de trigo, mas também de aveia, arroz, cevada, centeio, milho, sorgo, soja, papuã, milhã e braquiária. Para controle de giberela em anos muito favoráveis à doença (como nas safras 2014 e 2015), resultados de pesquisa indicam que duas aplicações de fungicida, sendo a primeira entre 25 a 50% de florescimento e a segunda de 7 a 10 dias após, seriam ideais. Porém, devido aos elevados custos de produção e aos baixos preços praticados em trigo, isto nem sempre é viável. A utilização de misturas comerciais contendo os princípios ativos metconazol e protioconazol têm apresentando os maiores níveis de controle. A adição de carbendazim às misturas também contribui para redução dos níveis de doença e de micotoxinas. No entanto, em países como a China, onde epidemias de giberela são frequentes, o carbendazim, utilizado lá desde 1970 para controle da doença, já perdeu sua eficiência. No Brasil, alguns estudos in vitro já indicam a existência de alguns isolados do fungo menos sensíveis ao tebuconazol e ao carbendazim, o que deve impactar no manejo futuro da doença. Esses dados evidenciam que o controle não pode ser baseado tão somente no uso de fungicidas, visto que, como organismos vivos, os fungos sofrem mutações, tornando-os capazes de suportar as aplicações de fungicida, sem sofrer alterações em seu ciclo, ou seja, tornando-os resistentes. Já se está vivenciando isso com a ferrugem da soja e a sua menor sensibilidade para alguns grupos químicos de fungicidas. Dessa forma, deve-se evitar o uso de um princípio ativo em isolado, optando-se sempre por misturas comerciais com distintos modos de ação. Além disso, o desenvolvimento de variedades com resistência à giberela é um desafio aos melhoristas. Embora algumas cultivares já possuam certa resistência à doença, os níveis presentes em materiais adaptados às nossas condições ainda são baixos. Assim, a adoção de medidas conjuntas, como: resistência genética; manejo cultural, pela escolha de época/locais menos favoráveis à doença; e controle químico, pela aplicação de fungicidas com princípios ativos mais efetivos para a doença são medidas fundamentais para minimizar os impactos gerados por giberela.
Caroline Wesp Guterres é bióloga, com Mestrado e Doutorado em Fitopatologia pela UFRGS e atua como pesquisadora na Cooperativa Central Gaúcha (CCGL TEC), em Cruz Alta, RS. 
Contato: [email protected]                   

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