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A soja e o lucro da Indústria


Opinião Livre
Por: Silvio Kolling - Diretor Executivo da Equipasa 
É antigo o conceito de que a soja, como vai para a indústria de óleo, pode ser conservada de qualquer maneira que no final vira tudo em óleo.
Muito comum é julgar-se que a soja comercializada com teores entre 9 e 10,5% B.U. é muito melhor para a indústria, visto que já estaria com a umidade ideal para trituração e laminação, dispensando assim o custo para ressecagem até os índices adequados à extração.

Pesquisas que já datam de mais de 20 anos, comprovaram diferenças significativas entre produtos que alcançaram os 10% de umidade em diferentes condições.
Considerando uma estrutura de armazenagem que não oferece condições adequadas para conservação do grão, verificamos sempre uma aceleração da atividade metabólica, mais conhecida como respiração, que consiste numa reação química típica assim expressa:
 C6H12O6    +       6O2                 6CO2         +   6H2O   +     677,2Kcal.
  glicose              oxigênio      gás carbônico      água              calor
ou seja, queima espontânea dos carboidratos e gorduras que resultam em acidificação pela ação  enzimática mais intensa.
Nesse caso, o primeiro a ser penalizado é o próprio armazenador, pela perda direta de umidade e peso do produto comercializado.
Ao adentrar com essa matéria prima na indústria, digamos que com umidade já ideal para esmagamento, estaremos suprimindo o custo de ressecagem, porém, nos deparamos com outros problemas que são proporcionados por esse grão.
Produtos que perderam umidade por problemas com conservação, apresentam teor de acidez mais elevado.
Presente no óleo bruto, as indústrias via de regra, consideram 0,7% um teor de acidez aceitável para extração, sendo que a partir dessa baliza, cada ponto percentual de acidez passa a ser contabilizado como prejuízo, uma vez que representa um descarte volumétrico equivalente ao dobro desse índice.
Esses números tornam-se relevantes no processo de refino quando soma-se a isso o consumo da soda cáustica para correção da acidez e ácido fosfórico para ajuste dos fosfolipídios a medida em que a perda da lecitina passa a ser expressiva ao superar o patamar de 1,0% F.F.A (Free Fatly Acid).
Se tomarmos como exemplo uma indústria com capacidade de esmagamento de 1.800ton/dia e que por sua vez identifica um índice de acidez no óleo na casa de 2%, há nesse caso uma perda direta de 8.500kg diários de produto refinado, custo ao qual agregam-se as despesas com os próprios insumos mencionados acima, gerando um prejuízo que pode chegar facilmente aos R$ 20.000,00/dia.

O aumento da acidez na soja, provocados por armazenagem inadequada, conforme demonstrado na tabela a seguir, além dos prejuízos acima relacionados, resultam também em farelo de baixa proteína e desempenho operacional da planta, abaixo da sua capacidade nominal.
Por outro lado, tomando-se como base uma estrutura de armazenagem dotada de tecnologias como Aeração, Termometria, Sistema de Exaustão Cycloar, além de práticas operacionais rigorosas, possibilita-se uma baixa atividade metabólica dos grãos proporcionando a manutenção da umidade e peso, resultando em um produto de alta qualidade e valor comercial compensador.
Grãos conservados com esses critérios, normalmente chegam à indústria a um custo mais elevado, seja pelo peso específico, seja pelo teor de umidade mais elevado, o que requer a aplicação da ressecagem para apropriação ao esmagamento, considerado como adicional no custo do processamento.
Embora a indústria tenha que arcar com o custo adicional de secagem, ainda assim haverá uma gama de benefícios considerável.
Conclui-se então, que uma soja que chegou por exemplo com 10% de umidade pela alta atividade respiratória proporcionada pelas condições precárias de conservação é diferente de outra que bem conservada precisou ser ressecada até 10%B.U.
A medida em que a indústria tornar-se mais exigente quanto a qualidade do produto, mais uniforme será o desempenho das plantas e por conseguinte mais lucrativas.
Fica evidente que quando se produz e conserva com qualidade, todos ganham, inclusive o próprio consumidor que vai receber em sua mesa, alimentos nutritivos e saudáveis.

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