Enchentes no RS elevam preços de produtos agropecuários em Santa Catarina
Impacto das enchentes no RS reflete em alta de preços e mudanças no mercado agrícola
O mercado começa a repercutir os problemas causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul em várias cadeias produtivas agropecuárias. O estado, que é o maior produtor de arroz, o segundo maior produtor de soja e o terceiro maior produtor de leite do país, enfrenta um impacto nos preços pagos aos produtores e no atacado. As informações são do Boletim Agropecuário de maio, publicado pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) de Santa Catarina.
Outras cadeias produtivas, como a de carnes, também poderão ser afetadas, dependendo do tempo necessário para o restabelecimento das condições de escoamento da produção no Rio Grande do Sul. O milho, embora tenha sofrido perdas devido às enchentes, não apresentou oscilações significativas de preço, graças às boas safras em outras regiões do país, que mantiveram a oferta estável. O Boletim Agropecuário pode ser acessado no site do Observatório Agro Catarinense, da Epagri e da Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária (SAR).
Em Santa Catarina, os preços do arroz em casca, que até abril estavam em queda devido à colheita e comercialização, subiram na primeira quinzena de maio. Segundo Glaucia Padrão, analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural, a prolongada enchente no Rio Grande do Sul influenciou a elevação dos preços, fazendo com que a saca de 50 kg ultrapassasse R$ 100,00, um aumento de 3% em relação à média de abril.
Padrão explica que, apesar de mais de 80% da área semeada de arroz no Rio Grande do Sul já ter sido colhida, as incertezas sobre as perdas do que ainda está no campo ou armazenado nas indústrias devem manter o mercado aquecido. Em Santa Catarina, a safra de arroz 2023/2024 está projetada para diminuir 8,11% em relação à safra anterior, devido à redução da área plantada e problemas climáticos. A produção estimada é de 1,16 milhão de toneladas, com 99% da área plantada já colhida.
Com uma safra menor, as importações de arroz devem aumentar. Entre janeiro e abril, Santa Catarina importou cerca de US$ 11,2 milhões em arroz e derivados, uma variação de 160,97% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Os preços da soja em grão para os produtores catarinenses recuperaram as cotações do início do ano em abril, após um recuo em fevereiro e março. O valor médio mensal foi de R$ 117,25 por saca de 60 kg, um aumento de 5,8% em relação ao mês anterior. Apesar disso, houve uma queda de 12,9% na comparação com março de 2023, influenciada por uma boa safra esperada nos Estados Unidos e a recuperação da safra argentina.
O preço do leite pago aos produtores catarinenses aumentou pelo sexto mês consecutivo em maio, influenciado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que responde por cerca de 13% do leite cru adquirido pelas indústrias inspecionadas no Brasil. Tabajara Marcondes, analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, afirmou que as enchentes mudaram o mercado, elevando significativamente os preços do leite spot e UHT, tendência que deve se estender a outros produtos.
A média de preço pago aos produtores catarinenses em maio foi de R$ 2,41, um aumento de aproximadamente 3,5% em relação ao mês anterior.
O Boletim Agropecuário de maio também confirmou uma redução de 21,8% na produção total de milho em Santa Catarina, com a estimativa atual apontando para 2,26 milhões de toneladas. As condições climáticas no início da safra afetaram o potencial produtivo, e até agora 92% da área plantada foi colhida. Os preços do milho apresentaram uma ligeira recuperação de 3,7% nos primeiros 15 dias de maio, devido ao aumento do consumo interno e à menor produção nacional.
Em abril, os preços do feijão-carioca caíram quase 20%, enquanto o feijão-preto teve uma desvalorização de 35,5% em relação ao mês anterior. A safra de feijão em Santa Catarina deve chegar a 117 mil toneladas, um aumento de 2,82% em relação à safra anterior.
Os preços do trigo permaneceram estáveis em abril, mas tiveram uma variação negativa de 21,31% em relação ao mesmo mês de 2023. Os custos de produção e as previsões climáticas serão determinantes para a próxima safra, com o custo referencial estimado em R$ 4.898,92 por hectare, uma diminuição de 4,21% em relação à safra anterior.
Na primeira quinzena de maio, o preço médio da arroba do boi gordo permaneceu praticamente inalterado, com uma variação de apenas -0,01%. Comparado a maio de 2023, houve uma queda de 16%. Os preços de atacado da carne bovina variaram conforme o tipo de corte, com uma alta de 0,8% na carne de dianteiro e uma queda de 0,9% na carne de traseiro.
Em abril, Santa Catarina exportou 104 mil toneladas de carne de frango, um aumento de 10% em relação a março e de 19,7% em relação a abril de 2023, com receitas de US$ 200,7 milhões. No acumulado do primeiro quadrimestre, as exportações somaram 381,5 mil toneladas, com receitas de US$ 722 milhões, alta de 4,2% em quantidade, mas queda de 8,1% em receitas comparadas ao mesmo período de 2023.
As exportações de carne suína também cresceram, com 60,5 mil toneladas exportadas em abril, um aumento de 14% em relação ao mês anterior e de 7,1% em relação a abril de 2023, gerando receitas de US$ 138,7 milhões.
As importações de alho em abril aumentaram 48,36% em relação ao mesmo mês do ano passado, com a Argentina e a China sendo os principais fornecedores. O preço médio do quilo de alho importado foi de US$ 1,47, um aumento de 13,95% em relação a março.
O preço da cebola nacional na Ceagesp/SP em abril foi de R$ 6,32 por quilo, um aumento de 1,44% em relação a março. As importações de cebola no primeiro quadrimestre ultrapassaram 160 mil toneladas, com a Argentina sendo o principal fornecedor.
O mercado da banana em Santa Catarina apresentou desvalorização nos preços no primeiro quadrimestre devido ao aumento da oferta nacional. As exportações brasileiras de banana reduziram 61,3% no volume em comparação ao mesmo período do ano anterior.