O Ártico em alerta: mudanças climáticas transformam regiões polares em fontes de carbono
João Pedro Cuthi Dias, analisou o impacto do fenômeno
O Ártico, uma das principais áreas de armazenamento de carbono do planeta, está emitindo mais gases de efeito estufa do que absorve. Essa mudança é atribuída ao aquecimento global e aos incêndios florestais cada vez mais intensos na região. O engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias, analisou o impacto desse fenômeno.
De sumidouro a emissor de carbono
O aquecimento do Ártico é um fenômeno crítico. "Antes, os solos eram cobertos por camadas de gelo e neve, que refletiam os raios solares e mantinham a temperatura do solo mais baixa. Com o derretimento, essas áreas agora absorvem mais calor, elevando ainda mais a temperatura", explicou Dias. Esse ciclo de aquecimento intensifica o degelo do permafrost — solo permanentemente congelado que armazena carbono há milênios. Ao descongelar, o carbono é liberado na forma de dióxido de carbono e metano, agravando a crise climática.
Além disso, os incêndios florestais no Ártico não apenas liberam carbono da vegetação, mas também removem camadas isolantes do solo, acelerando o degelo. Segundo a Agência Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa), desde 2003, as emissões de carbono provenientes de incêndios florestais circumpolares atingiram uma média de 207 milhões de toneladas por ano.
Impactos na agricultura global e no Brasil
As mudanças no Ártico têm implicações globais. Dias alertou que os eventos climáticos extremos estão se intensificando em todo o mundo: "Secas mais severas e chuvas excessivas estão se tornando mais comuns, impactando diretamente a produtividade agrícola. No Brasil, já enfrentamos uma seca de quase cinco meses em algumas regiões e enchentes devastadoras no Sul."
O aumento da concentração de gases de efeito estufa — hoje em cerca de 420 partes por milhão, contra 170 a 180 ppm antes da Revolução Industrial — amplifica esses fenômenos. "A má distribuição de água, somada ao aumento de incêndios florestais, resulta em perdas significativas para a agricultura, afetando a produção de grãos, carnes e outros produtos essenciais", afirmou Dias.
Soluções e práticas sustentáveis no campo
Apesar do cenário alarmante, há soluções viáveis. Segundo Dias, práticas agrícolas regenerativas e tecnologias sustentáveis podem mitigar os impactos das mudanças climáticas. "O Brasil é líder em integração lavoura-pecuária-floresta e no uso de sistemas de plantio direto. Além disso, práticas como a cobertura morta e a antecipação do plantio de culturas ajudam a preservar o solo e aumentar a resiliência agrícola."
Outra estratégia é a recuperação de florestas degradadas. "Se recuperarmos 12 milhões de hectares de matas degradadas no Brasil, sequestraremos uma enorme quantidade de carbono e ainda protegeremos nossos rios", destacou o agrônomo. Ele também enfatizou a importância de aumentar a matéria orgânica no solo, que funciona como um reservatório de carbono.
Um alerta para o futuro
O cenário traçado por João Pedro Cuthi Dias é claro: as mudanças climáticas já estão aqui, e suas consequências são irreversíveis em muitos casos. "Estamos vivendo a crônica de uma morte anunciada", alertou. No entanto, ele acredita que o Brasil tem um papel fundamental na promoção de soluções sustentáveis e na adaptação às novas condições climáticas. "Precisamos usar a natureza como aliada e liderar pelo exemplo", concluiu.