La Niña forte na safra de verão?

As condições oceânicas estão em um patamar de Neutralidade neste momento, ou seja, saímos da condição de El Niño com forte intensidade – águas mais quentes – porém as águas ainda estão quentes demais para a configuração da La Niña – quando as águas são mais frias do que o normal.

No entanto, o que vem se tornando cada vez mais evidente é a configuração da La Niña ao longo dos próximos meses, com o resfriamento gradual das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico. 

A evidência disso já é observada nas águas abaixo da superfície do mar, com bolsões de água fria surgindo na costa do Peru, com  temperaturas de até -6°C abaixo da média em profundidades de até 100 metros abaixo da superfície.

Bolsão de águas mais frias do que o normal surgindo abaixo da superfície do mar em áreas da costa do Peru. Ao mesmo tempo, as anomalias quentes são suprimidas em toda a região de monitoramento.  Fonte: NOAA

 

 

Anomalias de temperatura na superfície do mar na região de monitoramento do El Niño - Oscilação Sul. Áreas em azul, indicam temperaturas abaixo da média. Áreas em vermelho indicam temperaturas acima da média. Fonte: NOAA.

 

El Niño forte significa La Niña forte? Entenda essa relação climática

Uma das perguntas que surge neste momento é sobre a intensidade esperada dessa La Niña prevista. No entanto, é cedo para confiar nas previsões dos modelos climáticos, pois estamos saindo da barreira de previsibilidade da primavera, um período notoriamente difícil para previsões. As possíveis variações ainda são grandes, o que torna prematuro fazer afirmações precisas sobre a força da próxima La Niña.

No entanto, avaliando os eventos passados, as vezes que o Pacífico tropical passou de El Niño para La Niña dentro de um mesmo ano, não fica claro a relação entre a intensidade dos eventos. 

Desde 1950, houve 10 casos em que o padrão climático ENSO mudou de El Niño para La Niña  dentro do mesmo ano no período de inverno. Cada linha neste gráfico mostra a evolução das anomalias de temperatura da superfície do mar na região Niño-3.4 do Pacífico tropical (a principal região de monitoramento do ENSO). Muitos, mas não todos, dos El Niños mais fortes (linhas vermelhas) evoluíram para La Niñas fortes. Fonte: NOAA

 

A relação entre a força do El Niño e a força da La Niña subsequente é complexa. É raro, mas não impossível, que El Niños fracos ou moderados favoreçam o surgimento de La Niñas fortes. Em apenas 2 ocasiões essa condição aconteceu. 

Entretanto, 4 dos 6 El Niños fortes evoluíram para La Niñas Fortes. Contudo, o El Niño mais forte resultou na La Niña mais fraca. Portanto, a intensidade de um evento não garante a intensidade do outro.

A força da próxima La Niña ficará mais clara conforme nos aproximamos do evento. 

É importante lembrar que a intensidade de um El Niño ou La Niña não é um bom indicador da força dos impactos de temperatura ou precipitação em um local específico. 

Eventos mais fortes aumentam a probabilidade de impactos típicos em áreas propensas, mas não necessariamente resultam em impactos mais fortes. Mesmo uma La Niña moderada ou fraca pode ter um grande impacto em determinadas regiões. Já sabemos que há uma alta probabilidade (85%) de que a La Niña se estabeleça no verão de 2024/25.

Projeção de probabilidades para La Niña (azul), Neutralidade (cinza) e El Niño (vermelho). Fonte: NOAA