O Tabaco em Canguçu: Modernizações, desafios e expectativa de super-safra para este ano
Há pelo menos três safras, Canguçu lidera o ranking como maior produtor de tabaco do Brasil
Há pelo menos três safras, Canguçu lidera o ranking como maior produtor de tabaco do Brasil. O município é conhecido no Rio Grande do Sul como a Capital da Agricultura Familiar e possui o maior número de minifúndios da América Latina, graças a sua vasta extensão rural.
Na safra passada, a cultura movimentou cerca de 22,7 mil canguçuenses. Em números, fora 5.502 famílias produzindo o tabaco, em 9.905 hectares (ha), gerando 21.141 toneladas de tabaco da variedade Virgínia que, em números, representaram um valor de R$ 203.254.000,00. Em todo o estado, o tabaco movimenta cerca de 300 mil pessoas.
Para o coordenador do Departamento de Mutualidade de Canguçu e Camaquã, Valdir Mundstock, a cultura teve uma maior adoção dos agricultores a partir do ano 2000.
Antes, havia um crescimento, mas ele era lento e gradual. “De 2000 em diante, a produção praticamente dobrou. A partir de 2010, houve um aumento significativo na migração de culturas para o fumo”, explica.
Tabaco é a “grande locomotiva” da economia municipal
Para o chefe do Executivo, Marcus Vinicius Pegoraro, a cultura do tabaco foi a principal motriz na economia de Canguçu.
Segundo ele, com a chegada da cultura, o município teve um aumento de pelo menos 17 vezes mais no orçamento municipal. Antes do tabaco, a cidade possuía um orçamento de R$ 8 milhões. Em 2018, o orçamento foi mais de R$ 139 milhões, e a expectativa para este ano é ultrapassar R$ 160 milhões.
“O tabaco é a grande locomotiva da economia de Canguçu. Observamos um grande crescimento desses agricultores em investimento na área urbana, investimento que tem ajudado a fortalecer o mercado, principalmente na construção civil. O tabaco foi um propulsor que proporcionou manter aquecida a economia local”, afirma o prefeito.
Para Pegoraro, embora os agricultores tenham que mandar o fumo para Santa Cruz do Sul – pois não há fumageira no município – eles retornam para aplicarem o recurso no comércio, gerando o desenvolvimento local. “O maior valor do Produto Interno Bruto (PIB) não vem da agricultura, mas do setor de serviços”, diz.
É importante destacar que é a agricultura mantém o comércio, e o tabaco é a principal cultura a gerar uma rede de empregos paralela, como o transporte da safra até a fumageira, e ajuda com mais intensidade na economia.
Conforme o prefeito, o tabaco representa 42% do valor que forma o índice para retornar ao Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). De acordo com ele, isso foi possível devido a algumas características da cultura do tabaco, como a assistência técnica das fumageiras e o auxílio para financiamento de insumos com um custo mínimo.
Segundo Mundstock, a segurança do tabaco pode ser passada a partir da redução no índice de inadimplência no seguro das lavouras. “Hoje o nosso produtor não está mais endividado, Na parte do seguro, estamos com um índice muito baixo de inadimplência. Dos 5 mil associados, pouco mais de 70 apresentaram dificuldade no pagamento no último ano. Isso representa menos de 2% do total”, destaca.
Modernização e novas formas de produção
Nos últimos 3 anos, os canguçuenses se mostraram mais receptivos às tecnologias e às novas técnicas de plantio. A modernização do trabalho na lavoura proporcionou uma maior qualidade do produto oferecido e, consequentemente, um retorno financeiro maior.
Apesar da maior parte dos produtores produzirem em pequenas propriedades, o ponto não desestimula a modernização e a busca pelo progresso. Praticamente todas as 7 mil estufas já contam com um sistema de ar forçado que facilita o processo de secagem do tabaco.
“Temos visto uma grande evolução no uso de tecnologia no tabaco, o agricultor mesmo plantando em uma área menor, tem mantido a sua rentabilidade e, em alguns casos, até aumentado”, explica o chefe do Executivo.
Mundstock destacou o crescimento na adesão a um sistema integrado de fertilização e irrigação, conhecido como fertirrigação. Com ele, a água e os nutrientes às plantas vão pela mesma tubulação, simultaneamente.
Para o supervisor, o sistema garante uma maior produtividade e qualidade e diminui a mão de obra, uma vez que o produtor não precisa ir com o salitre e a ureia, de pé em pé. Segundo ele, cerca de 400 ha do município são trabalhadas com o sistema de irrigação. A adoção da rotação de cultura também tem auxiliado na expansão da qualidade do tabaco.
“O sistema de irrigação tem um custo inicial alto, mas sistema produz cerca de 2,3 mil kg por ha, com a irrigação certamente chegará a 4,5 mil kg. É um processo simples e extremamente funcional. Em outras palavras: ‘é injeção na veia”, ressalta.
Já a fumicultura orgânica teve uma adesão menor. O preço da quilograma acaba sendo melhor, mas a mão de obra é maior. A produção é feita sem o uso de adubo químico e antibrotante para capação.
Em vez disso, é usado esterco de galinha e um óleo mineral. A colheita e a classificação também precisam ser separadas do tabaco comum. Estima-se que 70 produtores trabalhem com a fumicultura orgânica no município.
Projeções e desafios
Mundstock destaca a preocupação do setor com a redução de produtores jovens. Segundo ele, dos 5 mil associados, apenas 10% estão abaixo dos 50 anos. Para ele, este pode ser o principal desafio para que a produção seja expandida.
“A lavoura de tabaco dá trabalho, mas é a que traz maior retorno. São necessários 50 ha de soja para se aproximar do que produz 2 ha de fumo. Não sei se uma pequena propriedade consegue sobreviver com outra cultura se não com o fumo”, diz.
A projeção da Afubra é que a colheita deste ano deve superar a do ano passado e Canguçu se manter no topo do ranking. A estimativa oficial da associação é uma produção de R$ 22,5 mil toneladas, mas o número pode chegar a R$ 26 mil toneladas, devido aos produtores sem registro.
“Esse ano vai ser uma super safra. Canguçu se manteve como maior produtor no ano passado, mesmo com a estiagem e o granizo que atingiu cerca de 1,6 mil produtores locais. É o município com o maior número de famílias e certamente será novamente, o que irá produzir mais neste ano”, comenta o coordenador.
A projeção desta safra, nos três estados do Sul, é uma produção de 669 mil toneladas, o que vai representar um pagamento de R$ 6,1 bilhões aos 150 mil produtores. Ao todo, com os impostos, a cadeia produtiva gira mais de 20 milhões.