Produção de oliva é reduzida por vazamento de herbicidas hormonais
Uso exige cuidados rigorosos, principalmente por causa da alta volatilidade

A deriva de herbicidas hormonais tem provocado sérios danos à produção de azeitonas no Rio Grande do Sul, estado que nos últimos anos tem conquistado reconhecimento internacional pela qualidade do azeite produzido. O tema foi debatido em audiência pública na Assembleia Legislativa, proposta pelo deputado estadual Elton Weber (PSB) e conduzida pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo. Representantes de entidades como o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e do governo estadual participaram do encontro.
O presidente do Ibraoliva, Renato Fernandes, revelou que, apesar do azeite gaúcho ter recebido mais de 500 premiações nos últimos cinco anos, a produção está em queda, e a perspectiva de novos investimentos no setor preocupa. “Há produtores desistindo e interessados que não ingressam na atividade por receio de estar próximos a lavouras de soja. Em 2023, produzimos cerca de 600 mil litros de azeite, mas em 2024 esse número caiu para apenas 192 mil litros. É possível que este ano não passemos dos 300 mil litros, e a Deriva tem relação direta com essa redução”, afirmou Fernandes.
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O professor Vagner Brasil, da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), aprofundou o debate com dados técnicos e científicos. Segundo ele, o herbicida 2,4-D – um dos principais produtos utilizados nas lavouras vizinhas – reduz a fotossíntese das oliveiras, comprometendo não apenas a produção atual, mas também a do ciclo seguinte. Estudos em laboratório mostram que o contato do produto com o pólen das cultivares arbequina e koroneiki pode reduzir drasticamente a viabilidade da polinização. “Dependendo da dosagem, 100% do pólen pode se tornar inviável”, destacou.
Herbicidas hormonais: uso e impactos
De acordo com o engenheiro agrônomo, Anderson Wolf, os herbicidas hormonais ou auxínicos, como o 2,4-D, dicamba e picloram, são amplamente utilizados na agricultura para o controle de plantas daninhas de folhas largas. Eles imitam o hormônio natural de crescimento das plantas, a auxina, e causam crescimento desordenado nas ervas daninhas até levá-las à morte. Em culturas como arroz, milho, trigo, cana-de-açúcar, soja e feijão, esses herbicidas desempenham um papel importante, especialmente na dessecação pré-colheita.
Wolf salienta que o uso exige cuidados rigorosos, principalmente por causa da alta volatilidade. A Deriva – ou seja, o desvio das gotículas do produto para áreas não-alvo – tem se tornado um problema recorrente. Mesmo pequenas quantidades podem atingir culturas sensíveis, como oliveiras, uvas, frutas cítricas e hortaliças, causando danos irreversíveis à produção. As condições climáticas, o tipo de formulação usada e a tecnologia de aplicação influenciam diretamente na ocorrência da deriva.