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Calor e destruição: como o mundo falha em combater a crise climática

Ações precisam sair do papel e ser implementadas efetivamente


Foto: Freepik

O Portal Agrolink conversou com João Pedro Cuthi Dias, engenheiro agrônomo, para discutir como os governos e organizações internacionais estão se preparando e respondendo ao aumento frequente e intenso de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, incêndios florestais e tempestades, especialmente considerando as recentes fatalidades e destruição em diversas regiões do mundo.

"A resposta tem sido muito lenta. A situação é bastante complicada, especialmente considerando o Acordo de Paris, assinado há quase 10 anos. Os países comprometeram-se a limitar o aumento da temperatura média global a 1,5 °C até 2030. Estamos em 2024 e já atingimos 1,45 °C", alerta João Pedro Cuthi Dias. Ele destaca que os recursos destinados a investimentos em energias renováveis e descarbonização não estão sendo alocados conforme o planejado, o que agrava a situação. No Hemisfério Norte, temperaturas extremas aumentam o uso de energia para resfriamento, mas muitas matrizes energéticas ainda dependem de combustíveis fósseis, intensificando as emissões de gases de efeito estufa.

O impacto na saúde pública é evidente, como visto recentemente no Oriente Médio, onde temperaturas acima de 50 °C e a falta de água e ventilação resultaram em mortes em massa. "Além disso, o aquecimento global está provocando mais incêndios florestais. No Centro-Oeste brasileiro, estamos batendo recordes de focos de incêndio no Pantanal, e a fumaça intensa está prejudicando a saúde das pessoas que vivem próximas a essas áreas", explica Dias. A combinação de altas temperaturas e umidade também favorece a proliferação de vetores de doenças, como o mosquito Aedes aegypti, responsável pela dengue. Este ano, o Brasil pode atingir cerca de 6 milhões de casos de dengue, um recorde histórico.

As ações concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa são urgentemente necessárias. Dias enfatiza a necessidade de investimentos em transportes coletivos e em alternativas mais sustentáveis, como transporte hidroviário e ferroviário. Enquanto no Brasil apenas 25% da carga é transportada por trens, países como China e algumas nações europeias investem significativamente em eletrificação do transporte ferroviário.

O Brasil sediará a COP25 no próximo ano, em Belém do Pará. "Será fundamental focar na redução do desmatamento ilegal na Amazônia, que representa uma significativa parcela das emissões de gases de efeito estufa do país. As ações precisam sair do papel e ser implementadas efetivamente para enfrentar a realidade dos impactos climáticos", conclui João Pedro Cuthi Dias.

Leia a entrevista com João Pedro Cuthi Dias na íntegra.

Portal Agrolink: Como os governos e organizações internacionais estão se preparando e respondendo ao aumento frequente e intenso de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, incêndios florestais e tempestades, especialmente considerando as recentes fatalidades e destruição em diversas regiões do mundo?

João Pedro Cuthi Dias: A resposta tem sido muito lenta. A situação é bastante complicada, especialmente considerando o Acordo de Paris, assinado há quase 10 anos. Os países comprometeram-se a limitar o aumento da temperatura média global a 1,5 °C até 2030. Estamos em 2024 e já atingimos 1,45 graus. Os recursos destinados a investimentos em energias renováveis e descarbonização não estão sendo alocados conforme o planejado, o que agrava a situação. No Hemisfério Norte, por exemplo, estamos observando temperaturas extremamente altas, o que aumenta o uso de energia para resfriamento em residências e escritórios. Infelizmente, muitas dessas matrizes energéticas ainda dependem de combustíveis fósseis, como gás natural, óleo combustível e carvão, o que continua a aumentar as emissões de gases de efeito estufa. Como resultado, eventos climáticos extremos, como ondas de calor e tempestades severas, estão se tornando mais frequentes. No Rio Grande do Sul, recentemente, enfrentamos um evento climático trágico com um volume excessivo de água, onde a infraestrutura de drenagem não conseguiu suportar.

Portal Agrolink: Quais são as implicações a longo prazo para a saúde pública e infraestrutura global se a tendência de eventos climáticos extremos continuar a se intensificar? Como podemos melhorar os sistemas de monitoramento e alerta para mitigar os impactos negativos dessas condições extremas?

João Pedro Cuthi Dias: O aumento da temperatura está diretamente relacionado a problemas de saúde, como vimos recentemente no Oriente Médio, onde temperaturas acima de 50 °C e a falta de água e ventilação causaram mortes em massa. Além disso, o aquecimento global está provocando mais incêndios florestais. No Centro-Oeste brasileiro, por exemplo, estamos batendo recordes de focos de incêndio no Pantanal, e a fumaça intensa está prejudicando a saúde das pessoas que vivem próximas a essas áreas. Altas temperaturas e umidade também aumentam a proliferação de vetores de doenças, como o mosquito Aedes aegypti, responsável pela dengue. Este ano, o Brasil pode atingir cerca de 6 milhões de casos de dengue, um recorde histórico. As ações concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa são urgentemente necessárias. Devemos investir em transportes coletivos e em alternativas mais sustentáveis, como transporte hidroviário e ferroviário. Por exemplo, enquanto no Brasil apenas 25% da carga é transportada por trens, países como China e algumas nações europeias investem significativamente em eletrificação do transporte ferroviário. O Brasil sediará a COP25 no próximo ano, em Belém do Pará. Será crucial focar na redução do desmatamento ilegal na Amazônia, que representa uma significativa parcela das emissões de gases de efeito estufa do país. As ações precisam sair do papel e ser implementadas efetivamente para enfrentar a realidade dos impactos climáticos.

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