ENTENDA: La Niña nem chegou e já pode acabar, mas mexe na safra
Mesmo com curta duração, fenômeno pode mexer com a safra
A promessa da La Niña vem sendo indicada desde o início de 2024 para o segundo semestre do mesmo ano. No entanto, a cada nova atualização das projeções, o fenômeno vinha sendo adiado. Ao que tudo indica, podemos ter o estabelecimento do fenômeno nas próximas semanas, com alguns impactos nas lavouras do Brasil.
Segundo a NOAA, para atingir o patar de La Niña, são necessários alguns parâmetros oceânicos e atmosféricos. Dentre estes, as águas do oceano pacifico equatorial precisam estar pelo menos -0.5°C abaixo da média para o período, sustentado por pelo menos 3 meses consecutivos. Por outro lado, o Bureau Australiano de Meteorologia considera um período de La Niña a partir do momento em que as águas do oceano estão -0,8°C abaixo da média, além das componentes atmosféricas.
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No monitoramento, o primeiro momento em que as condições atingiram o patamar de La Niña foi na semana de 11 de dezembro de 2024, com o valor de -0.6°C.
A partir de então, os valores das anomalias permaneceram abaixo desse limiar, com o menor valor na semana de 25 de dezembro (-1,1°C) e entrando o ano de 2025 com -0,7°C e diferença em relação à média.
No entanto, para o trimestre de outubro a dezembro, a média das anomalias ficaram na casa de -0,4°C.
Talvez, essa discussão entre muito no caráter técnico e não muito prático, mas, o que estamos observando na atmosfera são algumas respostas sutis e fracas de uma La Niña.
Além disso, avaliando o levantamento histórico – que considera os dados desde 1950 – apenas uma vez, em 1968, tivemos a La Niña se configurando nos meses de verão (entre dezembro e fevereiro), com o seu fim entre março e maio daquele mesmo ano.
Ao que tudo indica, esse é o cenário mais provável para o ano de 2025.
Impactos na safra 2024/25
No último dia 27 de dezembro, o USDA Brasília aumentou as expectativas da safra de soja no país, com a estimativa de 165 mi ton 7,87% superior aos 152 mi ton da safra anterior.
Dá para se dizer que estamos numa condição muito favorável às lavouras, pois são poucas áreas com déficit hídrico, e boa parte da soja já está em estádios avançados do enchimento de grãos.
A grande preocupação neste momento, vem com as chuvas recorrentes na faixa central do Brasil – um padrão esperado com a presença da La Niña – como observado na safra de 2022/23.
E podemos dizer que desde os estádios iniciais, as lavouras de soja do Brasil central vêm se desenvolvendo sob uma condição mais úmida, resultando inclusive numa maior procura em relação ao combate da ferrugem asiática
Diante disso, é sabido que dias encobertos e a falta de luz solar direta durante o enchimento de grãos da soja podem afetar significativamente a produtividade. A luz solar é essencial para a fotossíntese, processo responsável por gerar a energia e os açúcares necessários para o crescimento e desenvolvimento dos grãos.
Principais Riscos de Falta de Luz Solar:
- Redução na Fotossíntese: A falta de luz limita a capacidade da planta de produzir energia, resultando em menos carboidratos disponíveis para o enchimento dos grãos. Isso leva a grãos menores e menos pesados.
- Grãos Mal Formados (Enchimento Incompleto): Sem energia suficiente, o enchimento dos grãos é prejudicado, resultando em grãos chochos, menores e de menor qualidade.
- Diminuição da Produtividade: A menor transferência de açúcares para as vagens compromete o peso final da produção, reduzindo a produtividade por hectare.
- Atraso na Maturação: A planta pode demorar mais para completar o ciclo, afetando o cronograma de colheita e aumentando o risco de perdas por fatores climáticos adversos.
- Aumento da Respiração e Estresse: Em condições de tempo encoberto, a planta continua respirando, mas com baixa produção de energia, resultando em um balanço energético negativo.
Período mais seco na colheita
Contudo, as projeções indicam um período mais seco no decorrer da colheita. Por um lado, as lavouras mais adiantadas podem se beneficiar dessa condição, enquanto que as lavouras mais tardias, ainda têm uma alta demanda hídrica.
Então, apesar do otimismo no rendimento da safra, o cenário é muito delicado.