A força da agricultura familiar de Santarém (PA)
Os mercados são constantes na cidade e trazem desde os produtos oriundos da pesca, uma das principais atividades local, aos do artesanato e aos da agricultura familiar
À beira do rio Tapajós e do rio Amazonas, o município de Santarém, localizado na região Oeste do estado do Pará, se destaca por sua beleza e vivacidade. Os mercados são constantes na cidade e trazem desde os produtos oriundos da pesca, uma das principais atividades local, aos do artesanato e aos da agricultura familiar.
O agricultor familiar Francinon Ferreira Linhares, de 64 anos, é um dos que se beneficiam desses comércios. Nascido e criado na roça, no Ceará, ele chegou em Santarém aos 19 anos. Hoje exerce o ofício que o faz feliz, em sua pequena propriedade de 1,5 hectare, que fica na comunidade Perema. “Desde que me entendo por gente, trabalho na agricultura. Eu gosto muito de fazer isso, tenho minha roça onde planto frutas, hortaliças, e também tem criação de galinha. Tudo que a gente produz a gente vende na feira, esse é um espaço que conseguimos juntos”, conta Francinon.
Santarém possui três feiras destinadas à comercialização de produtos da agricultura familiar. A ideia surgiu dos próprios agricultores que fizeram o pedido dos espaços à prefeitura por meio de uma associação. Estima-se que cerca de 1.100 produtores se beneficiem do local e se reversam para atender as demandas dos moradores.
“A gente só consegue agregar alguma benfeitoria se trabalharmos no coletivo”. A fala é do agricultor e presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Santarém (Cooprusan), Cidinei Nunes. Ele saiu de Santa Catarina para trabalhar no Pará a convite de um produtor de arroz e, depois de dois anos, sua vida ganhou rumos diferentes. “Eu vendi o carro, comprei minha terra e comecei a produzir alimentos para vender na feira. A minha principal atividade é a produção de mandioca, mas já tenho muitos pés de acerola e agora vou começar a plantar o taperebá. Com o meu desempenho na feira, os agricultores me chamaram para fazer parte dessa cooperativa que eu sou presidente. Desde então, estamos caminhando juntos para fazer com que os nossos produtos sejam conhecidos em todo o Brasil”, diz o agricultor.
A Cooprusan comercializa polpas de frutas (cupuaçu, maracujá, cacau, carambola, abacaxi acerola, caju, goiaba, jaca, manga, murici e taperebá) além de produtos de horti-frutti que atendem a uma rede de supermercados local e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). São 78 agricultores associados dos municípios Santarém, Mojuí dos Campos e Beltera.
“O potencial da região em produzir frutas é muito grande, e com isso nós cuidamos da floresta, transformamos essa proteção em fonte de renda para os agricultores. Agora o objetivo é só fazer a nossa marca crescer. Unidos nós conseguimos montar a cooperativa, a agroindústria e tudo mais. Tudo o que temos é fruto do suor de cada produtor que acreditou nesse projeto”, explica Cidinei.
Macaxeira
Há 42 anos como técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Santarém, Francisco Chaves explica que existem cerca de 15 mil famílias de agricultores no município. A principal atividade desenvolvida é o cultivo da mandioca, também conhecida como macaxeira na região. A raiz é destinada à produção de farinha, bolos, biscoitos, beiju, além da goma que compõe pratos típicos como o tacacá e o tucupi.
Além disso, tais agricultores também plantam milho, criam pequenos animais, como a galinha caipira, e cultivam hortaliças e frutas com destaque para laranjas e tangerinas. Prestando assistência a eles, Chaves tem desenvolvido um projeto para aumentar a produção de macaxeira e a resistência dessa raiz a pragas. Todo o trabalho tem como parceria a prefeitura local, a Emater e a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), além da Embrapa de Cruz das Almas na Bahia, que destinou 75 variedades da planta para a região.
“Apareceu uma doença chamada ‘podridão na raiz’, que chega a destruir 100% da produção. Com isso, conseguimos esse intercâmbio com a Embrapa. Das 75 mudas, registramos que 11 variedades que são resistentes, e agora estamos começando a medir a produtividade”, explica o engenheiro agrônomo. Os resultados vão sendo avaliados a cada dia, mas pelas 11 variedades que têm dado certo, Francisco já está satisfeito. “Eu me sinto realizado pelas conquistas que tenho como extensionista e como agrônomo da Emater. Porque quando vejo um agricultor com uma variedade de mandioca como essa que nós trouxemos de Cruz das Almas, que dá para ver o sorriso do agricultor ao colher, ao colocar na mesa para comer, macia, amarelinha, é o suficiente. Acho que é o melhor o presente”, disse Francisco.
Ater
Para valorizar, incentivar e ainda garantir que a Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) seja uma política constante no Brasil, o Governo Federal, por meio da Secretaria de Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead), tem criado políticas públicas voltadas para a ampliação desse tipo de serviço.
O secretário especial da Sead, José Ricardo Roseno, explica que no final de 2016 foram repassados R$ 52 milhões a empresas públicas de Ater, viabilizando a compra de cerca dois mil veículos e computadores portáteis. “A razão de existência da Sead é a agricultura familiar, e eu hoje eu acredito que a nossa missão nessa secretaria é possibilitar e dar meios para que a extensão rural seja praticada. Esse serviço se faz presente em todo o Brasil há mais de 80 anos, em todas as etapas da agricultura, em mais de cinco mil municípios, com um efetivo de quase 20 mil profissionais”, explica Roseno. Segundo o secretário, a estratégia da Sead vai ser implementar as políticas públicas voltadas para a agricultura familiar através de uma grande rede já consolidada.