Mudanças climáticas aumentam vulnerabilidade do trigo à brusone, aponta estudo na Nature
Brusone já se espalhou para países como Bangladesh e Zâmbia
A brusone do trigo, doença causada pelo fungo Magnaporthe oryzae patótipo Triticum, poderá se tornar uma ameaça global ainda maior sob os efeitos das mudanças climáticas. Um estudo publicado recentemente na Nature Climate Change alerta que o aquecimento global e o aumento da umidade podem expandir significativamente as áreas vulneráveis à doença, comprometendo a segurança alimentar mundial.
Originária do Brasil, onde foi registrada pela primeira vez em 1985, a brusone já se espalhou para países como Bangladesh e Zâmbia. Utilizando um modelo que combina simulações de safra e de propagação da doença, os pesquisadores estimaram que, sob as condições climáticas atuais, 6,4 milhões de hectares de terras cultiváveis estão em risco. No entanto, com o cenário climático projetado para 2050 (RCP 8.5), esse número pode crescer exponencialmente, particularmente no Hemisfério Sul.
As perdas globais de trigo podem atingir 69 milhões de toneladas por ano, o equivalente a uma redução de 13% na produção mundial. Regiões tropicais e subtropicais, como América do Sul, sul da Ásia e África subsaariana, são apontadas como as mais afetadas.
As simulações mostram que estados brasileiros como Paraná são altamente suscetíveis, refletindo surtos passados que já comprometeram colheitas locais. De acordo com o estudo, áreas ainda não afetadas, como partes do Uruguai e sudeste dos Estados Unidos, também estão sob ameaça.
Além de perdas diretas na produção, a expansão da brusone deve elevar os custos de controle e manejo, pressionando ainda mais os sistemas agrícolas de países em desenvolvimento. “As mudanças climáticas estão aumentando o desafio de garantir segurança alimentar global. Precisamos de estratégias urgentes para mitigar esses riscos”, ressaltam os autores na Nature.