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Tratamento de sementes em trigo: uma poderosa ferramenta após uma safra desafiadora

Veja a importância do TS no estabelecimento da cultura


Foto: Paulo kurtz/ Embrapa

A safra de trigo de 2023 foi extremamente impactada por desafios climáticos. Os altos volumes de chuva favoreceram a incidência de doenças de espiga, comprometendo a qualidade e produtividade do cereal na região sul do Brasil. Segundo a Conab, a produtividade foi quase 32% menor que na safra anterior.

O impacto também afetou a produção de sementes do cereal, que trará consequências na safra atual, principalmente quanto a doenças. Por esse motivo, adotar estratégias que minimizem os possíveis efeitos negativos no estabelecimento da safra atual podem ser definitivas. O tratamento de sementes com certeza é a principal ferramenta pensando no estabelecimento inicial da cultura. Para falar desse assunto, conversamos com o Coordenador de Fitopatologia da GDM Seeds, Flávio Chupel.

Na conversa, o fitopatologista frisou o desafio que o agricultor terá nessa safra em função dos danos causados durante a produção de sementes em 2023. “Agora em 2024 é que a gente vai ver os impactos da safra anterior que foi tão desafiadora como 2023, principalmente pela ocorrência de doenças de espiga. Uma dessas doenças é a Giberela, que é uma doença causada por Fusarium graminearum e quando infecta as espigas do trigo, causa o dano e também consegue sobreviver nas sementes que são produzidas naquela safra. Fizemos algumas análises de patologia de sementes aqui na GDM, onde mais de 90 lotes de sementes foram analisados e a quantificamos a incidência de fungos. Avaliamos quais e o quanto desses fungos estavam nessas sementes. O fungo mais prevalente nesses lotes foi F. graminearum. Em alguns lotes a incidência chegou a 90% de incidência do F. graminearum. Isso quer dizer que a cada 100 sementes, 90 estão infectadas com esse fungo. O fungo tem a capacidade de apodrecer as sementes e também tem de causar a podridão comum de raízes. Nessa podridão comum de raízes, a semente chega a germinar, emerge, mas a raiz apodrece e a plântula morre. Isso causa um déficit no estande de plantas reduzindo a população. Isso pode causar uma perda bastante significativa em componentes de rendimento”, comentou Chupel.

A previsão indica para esse ano a ocorrência de La Niña. Segundo Chupel, o clima mais seco costuma predispor a ocorrência de oídio. Então é importante, além de posicionar um tratamento para Fusarium, por estar presente na semente e para proteger esse estande inicial, é fundamental tratar de sementes pensando no oídio. Além disso há a prevalência maior de pragas, logo, os pulgões apresentarão uma maior população, o que acarretará em uma maior ocorrência de vírus do nanismo amarelo da cevada (VNAC), que é transmitido por essa praga. Então, é necessário posicionar o inseticida no tratamento de sementes (TS).

O fitopatologista comentou que no trigo, o tratamento de sementes visa controlar principalmente alguns fungos que estão dentro da semente, ou seja, na forma infectiva da semente, como é o caso do Fusarium. Esse tratamento visa a redução da transmissão desses fungos que têm a capacidade de ser transmitidos da semente para a parte aérea ou para sistema radicular. Além do Fusarium, os principais fungos são Drechslera e Bipolaris, são causadores de manchas foliares que podem ser transmitidos para a parte aérea na fase inicial da planta. O tratamento de sementes também utiliza Fungicidas protetores que protegem contra doenças do solo causadas por Rhizoctonia e Gaeumannomyces, que causa o mal-do-pé. Outro patógeno alvo é o agente causador do oídio. Então são utilizados Fungicidas sistêmicos, principalmente triazóis e algumas carboxamidas. Durante o processo de germinação e emergência, esse fungicida vai atuar como um protetor contra a infecção inicial, protegendo as folhas até a emissão da quarta folha. Chupel comenta que alguns Fungicidas conseguem ter uma persistência de até 30 dias após a emergência, protegendo a cultura contra a infecção desses patógenos. “A gente não pode esquecer da importância dos Inseticidas. que também nos ajuda manejar doenças do trigo. A VNAC é um exemplo de doença transmitida por um pulgão. Então a utilização de inseticida para controle desse pulgão no TS também vai ajudar a prevenir a ocorrência dessa doença”, ressaltou o engenheiro agrônomo.

Flávio Chupel chamou a atenção para a importância de entender os problemas da cultura para posicionar de forma correta e assertiva os componentes do TS: “Quando a gente fala em tratamento de sementes é importante saber por que tratar a semente. Escolher um único fungicida suporta todos os patógenos? Não. Assim como a gente sempre faz esse comparativo com o ser humano. Se eu tenho uma dor de cabeça ou uma dor de estômago, normalmente não é o mesmo remédio que vai tratar as duas dores que eu tenho, quando nós falamos em doenças de plantas também existem especificidade de Fungicidas. Então o primeiro ponto é entender qual fungo e quanto desse fungo tem na semente depois escolher qual fungicida deve ser utilizado para tratar sementes. Se soubermos o que há na semente, a chance de taxa de sucesso nessa estratégia de manejo de doenças vai aumentar muito. Então é importante o primeiro ponto saber o que tem na semente, depois entender quais Fungicidas atuam sobre aqueles fungos. Aqui no setor de fitopatologia, a gente realiza alguns ensaios buscando avaliar a performance do tratamento de sementes, principalmente quanto a doenças fúngicas do trigo. Mas além das doenças, a GDM também avalia outros problemas que são englobados no tratamento de sementes, como para o controle de pragas ou plantas daninhas, por exemplo.”

O tratamento de sementes industrial (TSI) é uma importante ferramenta e tem inúmeras vantagens quanto comparado ao tratamento de semente on-farm. O TSI possibilita a aplicação das tecnologias mais avançadas e o uso de formulações que incluem diversos componentes, como Fungicidas, Inseticidas, nematicidas, polímeros, micronutrientes, bioestimulantes e tratamentos biológicos, em um único procedimento. Além disso, o processo é realizado por equipamentos industriais modernos que não causam danos mecânicos às sementes, que permitem também uma dosagem precisa, com menos risco de contaminação, química, física e biológica.  “Estamos vivendo uma transição. Ainda há produtores que preferem fazer o tratamento de sementes on-farm, por questões culturais, de custo, ou por optar por produtos que o tratamento industrial não fornece. O que a gente busca, é que cada vez mais o produtor adquira sementes com o TSI, devido a qualidade que o tratamento oferece, principalmente quanto a tecnologia envolvida e recobrimento que o TSI tem”, salientou o coordenador.

O TS em trigo ainda é feito basicamente com produtos químicos, mas pesquisas com produtos biológicos já vêm sendo conduzidos. Segundo Chupel, alguns biológicos já apresentam viabilidade em parte aérea num curto prazo. Já no TS ainda não foi incorporado, já que não há dados robustos sobre.

 

Franquiéle Bonilha da Silva

Dra. em Ciência de Solo

Consultora Agronômica em PDI

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