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Trigo tropical: "ausência absoluta de microtoxinas", afirma pesquisador

Pesquisador em Melhoramento de trigo destaca vantagens e os desafios do cultivo


Foto: Seane Lennon

A expansão do cultivo de trigo tropical no Brasil tem sido um marco para a agricultura nacional, resultado direto de anos de pesquisa e inovação. A Embrapa, em parceria com produtores e instituições de pesquisa, tem sido crucial para esse avanço. O Dr. Vanoli Fronza, Pesquisador em Melhoramento de trigo, destaca as características e os desafios desse cultivo, além de suas vantagens e perspectivas.

Segundo o Dr. Fronza, para o cultivo de trigo em sequeiro, as variedades devem possuir boa resistência à brusone, tolerância à seca e ao calor. "O trigo tropical sequeiro é plantado mais cedo do que em outras regiões do país, logo após a safra da soja, ali no mês de março, quando as temperaturas ainda estão mais elevadas", explica Fronza.

A diferença entre os sistemas de cultivo sequeiro e irrigado também é destacada pelo pesquisador. "O produtor com sistema de irrigação pode optar por culturas que exigem menos cuidados do que as hortaliças, como o trigo. O trigo de sequeiro, por sua vez, aproveita o final da época de chuvas", afirma Fronza.

O manejo do trigo tropical difere daquele realizado na região sul do Brasil. "Aqui, o plantio ocorre em uma época mais quente. A adubação não pode ser negligenciada, e é essencial o uso de sementes certificadas. O controle de plantas daninhas e a adubação de cobertura são críticos. A principal doença aqui é a brusone na espiga, ao contrário do sul, onde a giberela é mais comum", diz o pesquisador.

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A rotação de culturas é uma prática comum para manter a produtividade e a saúde do solo. "A principal cultura de verão em rotação com o trigo é a soja, seguida pelo milho. No entanto, o milho de verão tem sido substituído pelo milho safrinha, plantado antes do trigo", explica Fronza.

Quanto à qualidade do grão, o trigo tropical apresenta vantagens. "A ausência absoluta de microtoxinas, como as microtoxinas são causadas por ataque de giberela, e nós não temos problema com giberela aqui. A qualidade desse trigo tropical também, a exigência dos moinhos aqui é trigo para panificação, então nós só plantamos trigo com uma força de glúten mais elevada. E dessa forma, o trigo produzido aqui no Brasil Central com relação à qualidade de farinha para panificação, está equiparado aos melhores trigos do mundo em termos de qualidade. Não deixa nada a desejar com o trigo canadense ou outros trigos que têm fama de bons trigos", destaca o pesquisador. Ele acrescenta que o trigo brasileiro já ultrapassou o trigo argentino em qualidade, consolidando sua posição no mercado.

Os recentes eventos climáticos têm afetado o cultivo do trigo tropical. "Estamos enfrentando um período com temperaturas noturnas mais elevadas e falta de chuva. Abril teve precipitação abaixo da média histórica e maio praticamente sem chuvas, o que comprometeu muitas lavouras plantadas mais tarde", alerta Fronza.

As cultivares lançadas no Brasil Central são rigorosamente testadas para atender às exigências da indústria. "Se uma cultivar não atende às exigências, ela é descartada. Os produtores plantam apenas variedades classificadas como trigo pão ou melhorador. Isso garante que o trigo tropical atenda bem à indústria, com alguns moinhos utilizando exclusivamente o trigo do Brasil Central", finaliza Fronza.

Com o contínuo apoio da pesquisa e inovação, o trigo tropical brasileiro promete manter seu crescimento e qualidade, reforçando a posição do Brasil como um importante produtor de trigo no cenário global.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

Portal Agrolink: Quais são as principais características para uma cultivar de trigo em relação ao cultivo de trigo tropical? 

Dr. Vanoli Fronza - Pesquisador em Melhoramento de Trigo: Se a gente for pensar em trigo de sequeiro, teria que ter boa resistência à brusone e uma certa tolerância à seca e tolerância ao calor também, porque o trigo tropical sequeiro é plantado mais cedo do que em outras regiões do país, logo após a safra da soja, ali no mês de março, quando as temperaturas ainda estão mais elevadas. 

Portal Agrolink: 80% da área cultivada em sequeiro contra 20% do cultivo sob irrigação. O que define se a cultura será cultivada em um sistema sequeiro ou irrigado? 

Dr. Vanoli Fronza - Pesquisador em Melhoramento de Trigo: Na verdade, o produtor tem um sistema de irrigação, então normalmente ele precisa de uma outra cultura que os pede menos doenças do que as hortaliças que ele utiliza, chamadas HFs, e aí o trigo encaixa com uma luva nisso, então ele tendo estrutura, aí ele vai fazer o trigo irrigado. O trigo de sequeiro daí é normal, sem irrigação, só aproveitando o final da época de chuva.

Portal Agrolink: E quais seriam as principais diferenças quanto ao manejo em relação ao trigo cultivado na região sul do Brasil?

Dr. Vanoli Fronza - Pesquisador em Melhoramento de Trigo: Sobre as características do cultivo aqui, é que é plantado numa época mais quente. A questão da adubação, também a gente não pode abrir mão, uma boa semente é sempre certificada. A questão da adubação de cobertura, controle de plantas daninhas, o que mais oferecia um cultivo de sequeiro, por exemplo, da região sul, é que aqui a principal doença para nós é a brusone. Brusone na espiga, né? E lá no sul ela não costuma ser problema, muito raramente ela ocorre lá. As temperaturas são mais baixas, e lá o problema mesmo na espiga é a giberela, que é outra doença muito importante no trigo no Brasil.

Portal Agrolink: Sabemos que uma alternativa é diversificação de culturas, quais seriam as culturas de verão que o trigo está sendo rotacionado? Quais vêm apresentando os melhores resultados em produtividade tanto para a cultura de verão quanto para o trigo?

Dr. Vanoli Fronza - Pesquisador em Melhoramento de Trigo: A principal cultura de verão feita em rotação com o trigo é a soja, e aí em algumas áreas é cultivado também o milho, o milho-verão, mas a área de milho-verão tem diminuído muito, e o milho na verdade tem ficado como uma cultura de safrinha, que seria plantada antes do que o trigo, uma soja mais precoce, e o plantio no mês de fevereiro, então ele não seria um concorrente do trigo. Então, a principal cultura que antecede o trigo é a da soja. 

Portal Agrolink: E quanto à qualidade do grão, o trigo tropical apresenta alguma vantagem, principalmente em relação às microtoxinas?

Dr. Vanoli Fronza - Pesquisador em Melhoramento de Trigo: Essa é uma das principais vantagens que tem o trigo produzido no Brasil Central. Praticamente a ausência absoluta de microtoxinas, como as microtoxinas são causadas por ataque de giberela, e nós não temos problema com giberela aqui. É muito raro acontecer algum pequeno ataque de giberela, mas talvez, quem sabe, no sul de Minas, normalmente não é problema. E aí, a qualidade desse trigo tropical também, a exigência dos moinhos aqui é trigo para panificação, então nós só plantamos trigo com uma força de glúten mais elevada. E dessa forma, o trigo produzido aqui no Brasil Central com relação à qualidade de farinha para panificação, está equiparado aos melhores trigos do mundo em termos de qualidade. Não deixa nada a desejar com o trigo canadense ou outros trigos que têm fama de bons trigos. Na verdade, a gente pode dizer que o trigo brasileiro já ultrapassou, em qualidade, o trigo argentino, o trigo tropical aqui no Brasil Central. 

Portal Agrolink: Quanto aos recentes eventos climáticos que têm afetado as lavouras brasileiras, trouxeram algum tipo de impacto no cultivo do trigo tropical da região? 

Dr. Vanoli Fronza - Pesquisador em Melhoramento de Trigo: O que está acontecendo é que a gente está enfrentando um período com temperaturas mais elevadas, as temperaturas mínimas durante a noite, durante a madrugada, não estão baixando como nos outros anos, que era comum. A gente está passando por um ano atípico, que seria uma influência dessas condições climáticas reinantes atualmente. E um pouquinho também de falta de chuva, o mês de abril, por exemplo, desse ano ficou com a quantidade de chuva abaixo da média histórica e o mês de maio praticamente não teve nenhuma chuva e sempre vinha alguma chuva durante o mês de maio. Então isso afeta a produção do trigo tropical, muitas lavouras ficaram comprometidas, principalmente aquelas lavouras que foram plantadas mais tarde, no final de março e início de abril.

Portal Agrolink: O trigo tropical tem atingido as características industriais desejadas? Como ele tem sido classificado para a indústria no geral? 

Dr. Vanoli Fronza - Pesquisador em Melhoramento de Trigo: As empresas de melhoramento que lançam as cultivares para serem cultivadas aqui no Brasil Central, elas já têm por regra testar esses trigos antes de serem lançados como os moinhos, para ver o que a indústria como geral acha desse trigo. Se o trigo por acaso não atender a exigência da indústria, ele não vai para frente, ele é descartado. E os produtores também só escolhem para plantar variedades classificadas como trigo pão ou trigo melhorador, então os trigos de melhor qualidade. Dificilmente se planta um cultivar que com baixa força de glúten, a não ser um nicho, por exemplo, a produção de biscoito. Mas aí é tudo, digamos, conversado com a indústria. O padrão é o trigo para panificação e as cultivares, plantadas para os produtores atendem bem a industria. Tanto que tem moinhos que rodam que só usam o trigo do Brasil Central. Só se não encontrar trigo o suficiente, buscar no norte do Paraná ou, às vezes, até o trigo importado.

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