CI

A Voz do Mercado: como guerra comercial entre EUA e China pode afetar o Brasil

Especialistas debatem desafios do agronegócio brasileiro no cenário global



Foto: Divulgação

O talk show "A Voz do Mercado", realizado na última quarta-feira (12), reuniu especialistas e líderes do setor agropecuário para discutir os desafios do agronegócio diante do atual cenário econômico e geopolítico. 

O evento ocorreu na Fundação Instituto de Administração (FIA), em São Paulo, com transmissão ao vivo pelo canal do Portal Agrolink no YouTube. A 27ª edição teve como tema "O Agro em Tempos de Turbulências" e foi mediada por Ivan Wedekin e Suelen Farias.

Pedro de Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira e ex-integrante do Conselho Monetário Nacional, destacou as múltiplas turbulências que afetam o setor agropecuário. Segundo ele, a instabilidade no Brasil envolve debates sobre inflação, preços dos alimentos e possíveis restrições à exportação, dificultando o planejamento do produtor.

No cenário internacional, Camargo Neto citou o impacto da política tarifária dos Estados Unidos e a ausência de regras estáveis no comércio global. “Se o Trump fizer o que quer hoje, amanhã pode ser a China. Bem ou mal, tudo pode mudar de um dia para o outro, o que é uma perda de longo prazo efetiva”, explicou Neto.

Além disso, ressaltou os desafios climáticos, fator essencial para a agricultura. “Temos que viver um dia após o outro. São dias difíceis de prever e falar sobre o futuro", afirmou.

Sobre a disputa comercial entre EUA e China, ele observou que o Brasil pode se beneficiar no curto prazo, mas alertou para os riscos no longo prazo, devido à crescente instabilidade nas relações comerciais globais. “A China já é a maior importadora, então no que a gente concorda com os EUA, a soja, a carne, acho que pode ter um benefício de curto prazo”, comentou.

Assista a edição na íntegra: clique aqui.

O economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, destacou a dependência brasileira do mercado externo, especialmente no agronegócio e na exportação de minérios. Ele criticou a postura dos EUA em relação ao comércio internacional, que, segundo ele, gera instabilidade econômica.

Silveira alertou para o aumento da inflação global e a provável elevação das taxas de juros nos EUA entre 2024 e 2025, o que pode afetar o mercado brasileiro. "O Brasil terá que operar em um ambiente de planejamento difícil, com horizontes cada vez mais curtos para tomada de decisão", avaliou. 

Apesar das incertezas, ele prevê um aumento da receita agrícola em 2024, impulsionado pelas safras de milho, soja e café. “O Brasil não pode reclamar sendo bafejado com a sorte neste ano por uma expectativa de aumento de receita agrícola, algo em torno de R$100 bilhões a mais puxados pelas lavouras de milho, soja e café em grande medida. Poderemos ter dificuldades de planejamentos, mas com mais recursos”, mencionou o economista.

A executiva Larissa Wachholz, sócia da Vallya Agro, enfatizou que as guerras comerciais trazem prejuízos generalizados e que o Brasil precisa pensar estrategicamente a longo prazo.

Ela mencionou a retaliação da China contra produtos agrícolas dos EUA, destacando que isso pode criar oportunidades para o Brasil. “Numa guerra comercial, todo mundo sai perdendo. se não sair perdendo no curto prazo, sai perdendo no médio ou longo prazo. A gente precisa ter uma certa tranquilidade de longo prazo, ter estratégias bem definidas e quando a gente pensa em eventuais ganhos que podemos ter no curto prazo, isso pode nos iludir com o eventual benefício e pode ser bem curto”, explicou Wachholz.

No entanto, ela alertou que, caso os países cheguem a um novo acordo, o Brasil pode perder mercado. "O melhor cenário para a China ainda é um acordo com os EUA, e caso isso aconteça, o Brasil pode ser prejudicado. Nossa preocupação precisa ser essa, mesmo que a gente tenha ganho no curto prazo. A gente precisa pensar que a tendência é que essas duas grandes economias cheguem num acordo. E esse acordo provavelmente vai direcionar o comércio dos Estado Unidos para a China para fazer com que a China se comprometa em comprar mais produtos agrícolas norte-americanos e isso pode fazer com que a ela compre menos do Brasil", afirmou.

O evento contou com o apoio da Abisolo (Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal) e da Asbram (Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais).

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.