Falta de proteção financeira prejudica o agro
A escassez de modalidades de seguro específicas também afeta práticas sustentáveis
De acordo com artigo de James Hodge, publicado no site da WTW, o Brasil tem potencial para alimentar 900 milhões de pessoas, cerca de 10% da população mundial. Dados do BTG Pactual reforçam essa posição, mas desafios estruturais, como desperdícios e mudanças climáticas, limitam o aproveitamento total dessa capacidade. Segundo o IBGE, aproximadamente 30% dos alimentos produzidos são perdidos, o que equivale a 270 milhões de pessoas que poderiam ser alimentadas, reduzindo a capacidade real para 600 milhões.
O desperdício não é o único problema. As mudanças climáticas têm causado grandes perdas em culturas-chave. Em 2024, a safra de laranja registrou uma queda de 24%, a maior em 36 anos, devido ao calor extremo e à estiagem, o que aumentou os preços em 26%. O café também foi duramente afetado, com geadas atingindo cerca de 9,5 mil produtores, reduzindo suas margens e dificultando os investimentos para futuras safras. Esse ciclo de perdas gera impactos em toda a cadeia produtiva, do produtor ao consumidor.
Outro desafio importante é a falta de proteção financeira. Apenas 7% das áreas agrícolas possuem seguros rurais, segundo o artigo. A baixa adesão se deve à falta de subvenções e à inadequação dos modelos disponíveis, que foram adaptados de realidades internacionais e não atendem às necessidades locais. A ausência dessa proteção agrava os impactos de eventos climáticos, prejudicando especialmente culturas como açaí, cacau e mandioca, nas quais o Brasil é destaque global.
Além disso, a escassez de modalidades de seguro específicas também afeta práticas sustentáveis, como a produção agroflorestal. Sem cobertura adequada, produtores que enfrentam imprevistos ficam desprotegidos e sem recursos para se recuperar. Repensar os modelos de seguros rurais é essencial para garantir a sustentabilidade financeira dos agricultores, proteger o setor e consolidar o Brasil como um verdadeiro “celeiro do mundo”.