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Bactéria amazônica pode controlar praga do tomate

Há um universo microbiano ainda pouco explorado



Foto: Canva

Microrganismos isolados dos sedimentos dos rios Solimões e Negro, na Amazônia, demonstraram eficácia surpreendente no controle da murcha bacteriana do tomateiro, uma das doenças mais severas que afetam a cultura. Segundo dados divulgados pela Embrapa, a pesquisa conduzida por cientistas brasileiros identificou três bactérias com alto potencial de biocontrole da Ralstonia solanacearum, patógeno responsável por prejuízos significativos à produção de tomates e outras culturas.

Coordenado pelo pesquisador Gilvan Ferreira da Silva, da Embrapa Amazônia Ocidental, o estudo revelou que os isolados Priestia aryabhattai RN 11, Streptomyces sp. RN 24 e Kitasatospora sp. SOL 195 foram capazes de inibir o crescimento da bactéria em 100%, 87,62% e 100%, respectivamente. Além do controle da doença, os microrganismos também promoveram o crescimento das plantas, mostrando versatilidade como agentes biológicos.

Durante os testes realizados em diferentes estações do ano, o isolado P. aryabhattai RN 11 se destacou por reduzir a incidência da murcha bacteriana em até 90% durante o período chuvoso e por estimular o desenvolvimento das plantas mesmo sob estresse. Os outros dois isolados também apresentaram taxa de sobrevivência entre 85% e 90% e suprimiram o patógeno em mais de 90% dos casos.

“Esses resultados apontam para o enorme potencial da biodiversidade microbiana amazônica como fonte de soluções sustentáveis para a agricultura”, destaca Ferreira. A pesquisa representa um marco ao demonstrar, pela primeira vez, a aplicação agrícola direta de microrganismos extraídos de rios da floresta.

Os isolados foram obtidos a partir de expedições realizadas entre 2018 e 2019 nos rios Madeira, Purus, Solimões, Juruá e Negro, com coleta de sedimentos a cada 50 quilômetros. Após análises em laboratório, foram identificadas diversas espécies com potencial biotecnológico, com aplicações que vão do controle de patógenos agrícolas à produção de bioinsumos e compostos industriais.

A descoberta de possíveis novas espécies de Streptomyces e Kitasatospora reforça a importância da pesquisa na Amazônia para o desenvolvimento de biofertilizantes e defensivos naturais. A Embrapa destaca ainda que a Ralstonia solanacearum afeta não apenas tomates, mas também outras culturas como batata, pimentão, pimenta, berinjela, banana, amendoim, feijão e soja, ampliando a relevância dos estudos para a agricultura nacional.

O pesquisador defende que a prospecção microbiana na região amazônica pode ser até mais rentável do que a mineração de recursos tradicionais. Ele utiliza o termo “mineração genômica” para descrever o processo de identificação de microrganismos capazes de gerar moléculas com alto valor agregado para uso biotecnológico.

“O potencial da Amazônia vai além da biodiversidade vegetal. Há um universo microbiano ainda pouco explorado que pode transformar a forma como fazemos agricultura”, conclui Ferreira.

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