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Estiagem no RS compromete mais de 50% da safra

Soja e milho sofrem perdas severas com a falta de chuva no Rio Grande do Sul



Foto: Patrick Barcellos de Lima

Poucos meses após o Rio Grande do Sul enfrentar as enchentes de maio de 2024, agora a estiagem prolongada coloca novamente o agronegócio em estado de alerta. Com ausência de chuvas há mais de 30 dias em algumas regiões, especialmente no oeste do estado, os prejuízos para as lavouras de soja e milho já ultrapassam 50%. O fenômeno La Niña, mesmo previsto para ser de curta duração, intensificou os impactos.

Patrick Barcellos de Lima, produtor rural e engenheiro agrônomo que atua nas regiões de Santa Maria, Rosário do Sul e São Gabriel, descreve um cenário crítico. “Atendo uma área de aproximadamente 10 mil hectares, e as perdas aumentam a cada dia. No milho, quem plantou cedo conseguiu escapar, mas a soja foi muito afetada. Desde o Natal, os níveis de umidade no solo começaram a cair drasticamente, agravando a situação das lavouras”, afirma.

A situação é ainda mais severa na região oeste, abrangendo municípios como São Borja, Itaqui, Uruguaiana, Santiago e Alegrete. “Os relatos de perda são muito consideráveis. A falta de umidade no solo somada ao calor extremo compromete a capacidade das plantas de metabolizar a água. Elas perdem umidade rapidamente pelas folhas, o que agrava ainda mais o estresse hídrico”, explica Patrick.

Além dos impactos na produção agrícola, a estiagem já afeta o abastecimento de água para a população. Dados da Federação das Associações de Municípios do RS (Famurs) indicam que 124 mil pessoas enfrentam restrições, com algumas cidades registrando desabastecimento parcial. Na região metropolitana de Porto Alegre, a captação do Rio Gravataí para lavouras, pecuária e indústria está temporariamente suspensa.

Previsões climáticas falham e dificultam planejamento no campo

Patrick também destaca a dificuldade dos produtores em planejar suas atividades diante das falhas nas previsões meteorológicas. “Os modelos de previsão climática erram muito no curto prazo, especialmente no verão, quando o clima é mais instável. Às vezes, há expectativa de chuva para vários dias, mas ela não vem, prejudicando o planejamento de plantio e manejo das lavouras”, relata.

A falta de chuvas regulares e a forte radiação solar de janeiro e fevereiro agravam o quadro. “Mesmo com pancadas isoladas, elas são muito esparsas e não ajudam significativamente. Além disso, não há frentes frias previstas para amenizar o calor nos próximos meses, o que torna a situação ainda mais complicada”, diz.

Irrigação como alternativa, mas sem garantias

Para mitigar os efeitos da estiagem, a irrigação é apontada como uma ferramenta essencial. No entanto, Patrick alerta que, dependendo da intensidade da seca, nem mesmo a irrigação garante bons resultados. “Se o período sem chuva for muito prolongado, a irrigação pode não ser suficiente. Tudo depende da radiação solar e do tempo que a lavoura consegue resistir”, pondera.

Futuro do agro gaúcho: necessidade de diversificação

Diante das recorrentes perdas, Patrick acredita que é hora de repensar o modelo agrícola no estado. “A soja dominou o cenário desde a década de 1980, mas talvez seja o momento de diversificar. Antes, o trigo era muito forte, e hoje enfrentamos sucessivas safras frustradas. Quem investe apenas na soja está em uma situação muito difícil”, avalia.

Ele defende que pesquisas e incentivos sejam direcionados para o desenvolvimento de culturas mais resilientes à seca. “Precisamos de um trabalho mais focado da Embrapa e outras instituições para diversificar o que é plantado no estado. Além disso, a rotação de culturas e o manejo adequado do solo são fundamentais para evitar impactos ainda maiores em anos de estiagem como este”, conclui.

 

 

 

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