Tecnologia transforma manejo de pastagens na Nova Zelândia
Pastagem de precisão avança na Nova Zelândia

A Nova Zelândia tem se consolidado como referência global no uso de tecnologias aplicadas ao manejo de pastagens, elemento central para a produtividade da pecuária leiteira no país. Segundo o pesquisador Ian Yule, em artigo publicado na Revista Leite Integral, “a pastagem é extremamente importante para a agricultura mundial, e sua produtividade é difícil de ser medida”. Yule destaca os desafios impostos pela diversidade de espécies forrageiras, estágios variados de maturação e exigências do manejo de precisão.
O artigo traça uma linha do tempo de 17 anos de estudos conduzidos pela Universidade Massey, com foco na aplicação de tecnologias de agricultura de precisão ao manejo de pastagens. Os primeiros experimentos, realizados entre 1999 e 2001, utilizaram um prato medidor acoplado a GPS para mapear variações na produtividade de piquetes em fazendas universitárias.
A pesquisa resultou na criação do C-DAX Pasture Meter, comercializado a partir de 2006, e hoje presente em cerca de 3.000 das 11.000 fazendas leiteiras da Nova Zelândia. “Ficou claro que os produtores não estavam interessados em mapas de variação espacial, mas sim na variação entre piquetes”, explica Yule. A ferramenta mede, com alta frequência, a altura do pasto, gerando estimativas de massa seca que orientam o planejamento da rotação de pastejo.
O uso regular do equipamento tem possibilitado melhorias significativas no aproveitamento das pastagens, contribuindo para evitar o subpastejo ou o desperdício. Além disso, produtores têm utilizado os dados para identificar áreas de baixa produtividade e redirecionar investimentos em programas de replantio ou fertilização.
Um estudo de caso citado no artigo aponta que o uso intensivo de tecnologia levou à redução de custos, melhora na rentabilidade e desempenho geral. “Se você não mede o desempenho, como pode melhorá-lo?”, questiona Yule.
Além do monitoramento da pastagem, o artigo aborda a integração entre o comportamento animal e o ambiente. Tecnologias de rastreamento com baixo consumo de energia estão tornando viável o acompanhamento das vacas mesmo em sistemas extensivos. Isso permite identificar preferências de pastejo e padrões de deposição de nutrientes no solo.
A fertilização de precisão também evolui. Amostras de solo passaram a ser coletadas por piquete, em vez de representar médias da fazenda inteira. “Essa prática revelou-se extremamente rentável”, afirma o autor, ao citar resultados que permitiram reduzir aplicações desnecessárias de insumos.
O sensoriamento remoto e proximal por sensores multiespectrais tem sido testado, mas apresenta limitações. “Na pastagem, a variabilidade é maior do que em monoculturas, o que reduz a confiabilidade das leituras baseadas em reflexão luminosa”, explica Yule. Ainda assim, ferramentas como o sensor TopCon Cropspec mostraram-se promissoras quando acopladas a caminhões de aplicação de fertilizantes.
Embora o uso de drones na agricultura ganhe popularidade, Yule ressalta que a precisão dos sensores atuais ainda não atende às exigências de medições frequentes, necessárias para o manejo de pastagens. “Esse é um campo de rápido desenvolvimento, mas ainda há barreiras a serem superadas”, afirma.
O avanço mais significativo apontado no estudo é o uso do sensoriamento hiperespectral. A tecnologia permite medir parâmetros como fibra e energia metabolizável, além da estimativa de matéria seca e composição das espécies forrageiras. “Essa abordagem representa uma mudança de paradigma”, destaca o pesquisador. Segundo ele, a agricultura está migrando de um cenário de dados escassos para um ambiente de “dados abundantes” e, futuramente, “superabundantes”, com informações temporais contínuas.
Projetos em parceria com empresas como a Ravensdown Fertilisers Ltd e o Ministério das Indústrias Primárias visam integrar imagens hiperespectrais com sistemas de aplicação aérea de fertilizantes. A expectativa é criar plataformas digitais que ofereçam modelos precisos de manejo, baseados em dados integrados do solo, planta e clima.
Para Yule, essa transformação exige uma nova postura das instituições de pesquisa. “Se continuarmos presos a metodologias antigas, corremos o risco de estagnar e perder oportunidades diante dessa revolução digital”, alerta.