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El Niño é um cenário possível e traz uma situação de risco para o Brasil

Brasil pode enfrentar El Niño antes do previsto



Foto: Pixabay

As condições climáticas recentes no Brasil têm seguido um padrão característico da La Niña, com estiagem no centro-sul do país e na região norte da Argentina, afetando a soja.  Por outro lado, as chuvas foram recorrentes em áreas da região centro-norte do Brasil, incluindo áreas do centro-oeste. Contudo, nem todos os centros vinham concordando com a atuação do sistema. 

Os diferentes centros meteorológicos globais divergem sobre a real intensidade da La Niña nos últimos meses. O Bureau de Meteorologia da Austrália (BOM) vinha apontando , ao longo dos últimos meses que as condições não eram persistentes o suficiente para caracterizar o fenômeno, enquanto a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) considera que a La Niña esteve presente desde o final de dezembro.

La Niña é o resfriamento anormal das águas do Pacífico Equatorial, quando os valores ficam abaixo de -0.5°C em relação a média do período de forma persistente. Essa condição afeta o clima global, provocando secas em algumas regiões (como o Sul do Brasil) e chuvas intensas em outras (como o Nordeste brasileiro).

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O meteorologista do Portal Agrolink, Gabriel Luan Rodrigues, explica que essa divergência ocorre porque o aquecimento anormal das águas oceânicas pode estar mascarando a real influência da La Niña. “O principal ponto sobre essa discussão entre os centros, é devido ao aquecimento anormal das águas oceânicas, o que segundo a NOAA, pode estar “ocultando” a real intensidade e atividade da La Niña, ao usar os índices clássicos de classificação”, diz o meteorologista.

Segundo Rodrigues, nos levantamentos mais recentes, a média das temperaturas na região de monitoramento do fenômeno já atingiram patamares de neutralidade, ou seja, transitando de uma condição mais fria (La Niña) para uma condição de temperaturas dentro da média para o período, porém, a taxa de aquecimento atual é um ponto de atenção devido à sua velocidade acentuada. As temperaturas saíram de 26.45°C (-1.01°C abaixo da média) em 25 de janeiro, para 27.53°C (+0.46°C acima da média) em 12 de março de 2025, um aquecimento +1.47°C em 46 dias. 

Particularmente essa transição de condição de La Niña (-1.01°C), para valores próximos do limiar de El Niño (+0.46°C), costuma levar entre 6 e 12 meses. Em média, esse intervalo de neutralidade antes da mudança direta para El Niño fica próximo de 9 meses, embora existam registros com transições mais curtas, em torno de 3 a 6 meses, especialmente em situações em que há um forte aquecimento das águas superficiais do Pacífico Equatorial.

O relatório mais recente da NOAA, divulgado no dia 13 de março, aponta que as condições de neutralidade do ENOS devem se estabelecer nos próximos meses e persistir ao longo do inverno brasileiro, com uma probabilidade de 62% para o período entre junho e agosto de 2025. 

No entanto, essa projeção pode não refletir adequadamente o cenário atual, no qual o aquecimento das águas tem se mostrado mais intenso do que o normal, indicando uma possível transição para El Niño ainda durante o inverno de 2025.

Essa discrepância entre as previsões e as condições atuais é perceptível inclusive nas simulações dos modelos matemáticos, que indicam uma descontinuidade entre os valores observados e a previsão para os próximos meses, mas com alguns cenários apontando para temperaturas acima da média ainda em maio de 2025.

Estamos transitando para uma condição de neutralidade climática, o que sugere que o outono deverá transcorrer sob o regime neutro do ENOS. Porém, caso o aquecimento anormal das águas do Pacífico Equatorial continue no ritmo atual, existe a possibilidade de desenvolvimento do fenômeno El Niño já no final do inverno deste ano.

Caso o fenômeno se consolide ainda neste ano, o inverno poderá ser menos rigoroso com temperaturas acima da média, especialmente na região Sul. Isso poderia reduzir o risco de geadas e beneficiar as lavouras típicas de inverno, como trigo e aveia. “No entanto, é preciso considerar também que períodos mais quentes podem aumentar a pressão de pragas e doenças nestas culturas, ou até mesmo diminuir a quantidade de frio necessário para o desenvolvimento das culturas de clima temperado”, alerta Rodrigues

Além disso, Rodrigues explica que a chegada do El Niño costuma intensificar a frequência e intensidade das ondas de calor, especialmente entre o fim do inverno e o início da primavera. Esses episódios podem resultar em condições desfavoráveis para lavouras mais sensíveis ao calor extremo, elevando o consumo de água e afetando negativamente o desenvolvimento das plantas.

Por outro lado, o fenômeno El Niño costuma intensificar as chuvas durante a primavera, especialmente nas regiões Sul e partes do Sudeste e Centro-Oeste. Este cenário pode favorecer a recarga hídrica dos solos, proporcionando melhores condições iniciais para o plantio das culturas de verão, como soja e milho, no fim da primavera. Contudo, o excesso de umidade também pode representar dificuldades. “Temperaturas mais elevadas podem comprometer culturas sensíveis ao calor extremo, enquanto o excesso de chuvas pode dificultar operações agrícolas e favorecer o surgimento de doenças fúngicas”, observa.

Vale ressaltar que estas são apenas possibilidades avaliadas com base no cenário atual, levando em consideração as condições observadas neste momento. “As projeções climáticas de longo prazo sempre envolvem incertezas, e por isso é essencial acompanhar as atualizações para um melhor planejamento agrícola”, conclui Rodrigues.

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