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Retrospectiva 2024: um ano de desafios e conquistas no agronegócio brasileiro

Veja os destaques de 2024



Foto: Divulgação

O agronegócio brasileiro enfrentou um ano de desafios e avanços em 2024. De enchentes históricas no Rio Grande do Sul que afetaram a produção de grãos à abertura de novos mercados internacionais, cada mês trouxe lições para o setor. A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, a regulamentação dos bioinsumos no Brasil e as iniciativas sustentáveis do Plano Safra reforçaram a importância de inovação, resiliência e adaptação em um cenário cada vez mais complexo. Confira os principais destaques mês a mês.

Janeiro: soja em foco e desafios do produtor rural

As previsões para a safra de soja marcaram o início do ano. Segundo a TF Agroeconômica, a produção brasileira poderia alcançar 154 milhões de toneladas, desafiando a visão pessimista de algumas análises regionais. Apesar disso, os estoques globais elevados, que passaram de 101,92 milhões para 114,21 milhões de toneladas, pressionaram os preços para baixo. A recomendação para os produtores foi vender o quanto antes, evitando perdas ainda maiores.

Além do mercado da soja, os custos elevados e a necessidade de sustentabilidade pautaram as discussões no campo. A tecnologia UC System foi destaque, permitindo a limpeza rápida de mangueiras hidráulicas e reduzindo o consumo de óleo das máquinas agrícolas. Essa inovação fortaleceu a economia circular, alinhando-se às demandas do ESG (ambiental, social e governança).

Outro ponto relevante foi o alerta para os danos causados pela contaminação em sistemas hidráulicos, que representam 80% das falhas em máquinas agrícolas. Ao adotar práticas preventivas, os produtores poderiam evitar prejuízos de até R$ 150 mil por máquina, contribuindo para a produtividade e sustentabilidade no campo.

Fevereiro: pressões internacionais e mercados em ebulição

O avanço das exportações brasileiras para a Europa gerou protestos de produtores locais, que pressionaram seus governos para impor barreiras ao comércio. A competitividade brasileira, segundo Aline Locks, CEO da Produzindo Certo, desafiou os modelos produtivos europeus, levando líderes políticos, como Emmanuel Macron, a se posicionarem contra acordos comerciais com o Mercosul.

Outro destaque foi o aumento das compras de soja brasileira pelos Estados Unidos, motivadas pela sua alta qualidade e preço competitivo. Esse movimento inédito despertou atenção no mercado internacional, gerando especulações sobre o impacto nas cotações em Chicago. Especialistas alertaram para o efeito de novas transações no equilíbrio da oferta e demanda globais.

Enquanto isso, no Brasil, as negociações com mais de 160 países destacaram o papel estratégico do agro na geopolítica global. A diversificação dos mercados e a necessidade de atender a exigências ambientais reforçaram a importância de um planejamento robusto para manter a liderança no setor.

Março: liderança no Paraguai e alta no preço do leite

A história inspiradora de José Marcos Sarabia, brasileiro que se tornou líder do agronegócio no Paraguai, ganhou destaque com o lançamento de seu livro "Sementes de Sucesso". O relato de Sarabia trouxe lições de resiliência, inovação e visão estratégica, ressaltando a importância da sucessão familiar para o crescimento sustentável dos negócios.

Enquanto isso, o preço do leite no Brasil registrou alta de 4,5% pelo terceiro mês consecutivo, conforme o Cepea. Essa valorização foi acompanhada por aumentos nos derivados lácteos, como o leite UHT e a muçarela. Apesar disso, o déficit da balança comercial do setor foi reduzido devido ao crescimento das exportações, indicando uma recuperação gradual.

No cenário agrícola, produtores enfrentaram desafios com os custos estáveis da pecuária leiteira. Mesmo com a desvalorização dos grãos, outros insumos encareceram, mantendo o custo operacional elevado. O cenário exigiu estratégias eficientes para sustentar a produção e atender à crescente demanda interna e externa.

Abril: rota para a Ásia e BRICS no mercado de grãos

O Brasil celebrou a abertura do mercado sul-coreano para subprodutos de origem animal, marcando a 27ª conquista comercial do agronegócio no ano. A expansão fortaleceu a posição brasileira como fornecedor estratégico na Ásia, impulsionando as exportações de farinhas e gorduras de aves.

Simultaneamente, a Rússia pressionou os BRICS para criar uma bolsa de grãos interbloco, buscando maior influência nos preços globais. O presidente Vladimir Putin destacou a necessidade de alternativas ao controle europeu e norte-americano sobre as cotações, gerando discussões sobre a viabilidade do projeto.

Essa iniciativa dividiu opiniões entre os países-membros, que consideraram os benefícios econômicos e os desafios técnicos da proposta. Para o Brasil, o fortalecimento do BRICS poderia abrir novas oportunidades comerciais, mas também exigir adaptações no modelo produtivo.

Maio: enchentes no RS e impacto na produção

As enchentes no Rio Grande do Sul devastaram áreas agrícolas, deixando mais de 422 mil pessoas afetadas e causando prejuízos significativos na produção de soja, arroz e milho. Especialistas destacaram que a interrupção da colheita resultou em perdas de milhões de toneladas, pressionando os preços futuros das commodities.

Além disso, a logística do setor foi comprometida, com bloqueios nas estradas dificultando o transporte de rações e insumos para a cadeia produtiva de carnes. A tragédia evidenciou a necessidade de infraestrutura mais resiliente e de políticas públicas voltadas à mitigação de riscos climáticos.

Históricos comparativos mostraram que a enchente de 2024 superou a devastação de 1941, quando Porto Alegre enfrentou 24 dias de chuvas consecutivas. Os números reforçaram o impacto das mudanças climáticas e a importância de estratégias preventivas.

Junho: recuperação do solo e alta nos fertilizantes

A erosão do solo no RS emergiu como um dos maiores desafios pós-enchentes, exigindo práticas de manejo que favorecessem a regeneração da matéria orgânica. Especialistas alertaram que a recuperação poderia levar até uma década, dependendo de investimentos públicos e privados.

Os preços dos fertilizantes também dispararam, com alta de 21% na ureia importada devido a restrições em países produtores como Egito e China. O aumento agravou os custos de produção, especialmente para culturas de grãos, pressionando a rentabilidade dos produtores.

A situação destacou a necessidade de políticas que incentivassem o uso de bioinsumos e tecnologias mais acessíveis, reduzindo a dependência de insumos importados e fortalecendo a segurança alimentar.

Julho: Plano Safra impulsiona sustentabilidade e inovação

O Governo Federal lançou o Plano Safra 2024/2025, com R$ 400,59 bilhões destinados ao setor agropecuário. Desse total, R$ 293,29 bilhões foram alocados para custeio e comercialização, enquanto R$ 107,3 bilhões apoiaram investimentos. Entre as inovações, destacou-se o programa RenovAgro, que promoveu práticas sustentáveis, como recuperação de áreas degradadas e implantação de sistemas integrados de produção.

As taxas de juros foram ajustadas para atrair ainda mais adesão. Produtores enquadrados no Pronamp tiveram acesso a financiamentos com juros de 8% ao ano, enquanto programas específicos ofereceram taxas entre 7% e 12%. Além disso, o uso de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) permitiu maior flexibilidade no acesso a recursos.

Outra novidade foi o RenovAgro Ambiental, que financiou reparações ambientais em áreas embargadas, incentivando a regularização e o uso sustentável das terras. Essa abordagem fortaleceu o compromisso do Brasil com a sustentabilidade, alinhando produção e preservação.

Agosto: Congresso Andav e as oportunidades globais do agro

Durante a 13ª edição do Congresso Andav, Paulo Guedes ressaltou o papel estratégico do Brasil no agronegócio global. Em sua palestra, destacou o potencial do país para liderar a segurança alimentar e energética mundial, alertando para a importância de decisões internas assertivas e estratégias que evitem a autossabotagem.

A análise de Guedes abordou o cenário de escassez de alimentos e energia enfrentado por várias nações, reforçando a posição privilegiada do Brasil como fornecedor global. Ele afirmou que a combinação de recursos naturais, tecnologia e políticas públicas consistentes pode consolidar o país como líder no setor.

A mensagem principal foi clara: o agronegócio brasileiro tem tudo para prosperar, desde que saiba aproveitar suas vantagens competitivas e superar desafios internos. A integração entre agroindústria e sustentabilidade foi apontada como caminho essencial para o futuro.

Setembro: exportações de soja sob pressão

O ritmo acelerado das exportações brasileiras de soja em setembro gerou preocupações sobre um possível esgotamento do excedente exportável. Projeções indicaram remessas de 8,45 milhões de toneladas em agosto e entre 6,25 e 6,75 milhões de toneladas em setembro. Com 90,6% da meta anual já alcançada, analistas levantaram dúvidas sobre a sustentabilidade desse ritmo.

Os impactos dessa situação foram sentidos no mercado global. Uma eventual redução na oferta brasileira poderia influenciar os preços internacionais, alterando a dinâmica da demanda e afetando estoques estratégicos de grandes importadores, como a China.

Além disso, o cenário evidenciou a complexidade do mercado de commodities agrícolas. Estratégias de longo prazo para equilibrar exportações e estoques internos se tornaram essenciais para manter a competitividade e atender às demandas internacionais sem comprometer o mercado interno.

Outubro: municípios mais ricos do agro lideram produção nacional

Dados do IBGE revelaram os 100 municípios mais produtivos do Brasil em 2023, responsáveis por 31,9% do valor total da produção agrícola. Sorriso (MT) liderou a lista, com uma produção avaliada em R$ 8,31 bilhões, seguido por São Desidério (BA) e Sapezal (MT).

A soja manteve sua posição como a cultura mais valiosa, representando 42,8% do total, seguida pelo milho e pela cana-de-açúcar. A diversidade da produção brasileira ficou evidente com a relevância de culturas como algodão, café e laranja, consolidando o país como um dos maiores fornecedores globais de alimentos.

A região Centro-Oeste destacou-se com 36 municípios na lista, mostrando a força agrícola de estados como Mato Grosso e Goiás. Esses números reforçaram a importância da inovação e da gestão eficiente para sustentar o crescimento e a competitividade do agronegócio.

Novembro: Trump, China e os reflexos no agro brasileiro

A vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos reacendeu debates sobre uma possível nova guerra comercial com a China. Em seu mandato anterior, Trump impôs tarifas sobre produtos chineses, levando Pequim a retaliar com tarifas sobre produtos agrícolas norte-americanos, como soja e milho.

O Brasil, que se beneficiou dessa disputa em 2018 e 2019, está novamente em posição de vantagem. Caso Trump reinicie as tarifas, espera-se um aumento nas exportações brasileiras para a China. No entanto, analistas alertaram para os riscos de volatilidade no mercado e possíveis pressões sobre a capacidade produtiva do país.

Além disso, as políticas migratórias mais rígidas de Trump, que afetam a mão de obra agrícola nos EUA, podem beneficiar indiretamente o Brasil, destacando sua competitividade no fornecimento global de alimentos.

Dezembro: bioinsumos regulamentados e a segurança jurídica para o agro

O Senado aprovou o PL 658/21, que regulamenta a produção e o uso de bioinsumos, consolidando o Brasil como referência em práticas agrícolas sustentáveis. O projeto corrigiu lacunas normativas que colocavam em risco a autonomia dos agricultores e a inovação no setor.

A Associação Brasileira de Bioinsumos (ABBINS) celebrou a aprovação como um marco para a agricultura regenerativa e a segurança jurídica. A medida foi vista como um incentivo à redução do uso de agrotóxicos, promovendo uma transição para sistemas mais sustentáveis e competitivos.

Com a sanção presidencial esperada, especialistas previram um crescimento acelerado no uso de bioinsumos, beneficiando não apenas o meio ambiente, mas também a saúde pública e a economia rural. O Brasil encerrou o ano com uma importante conquista para o futuro do agro.

Cada mês de 2024 reforçou a resiliência do agronegócio brasileiro diante de desafios climáticos, econômicos e políticos. O setor demonstrou sua capacidade de adaptação, inovando e ampliando sua relevância global. Com aprendizados , o ano deixou um legado de avanços que moldarão o futuro do agro no Brasil e no mundo.

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