A produção existe e não tem outro destino, senão a exportação, diz ministro da Agricultura.
Mesmo insistindo que o governo respeita a legislação que impede o cultivo transgênico para fim comercial, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, deixou claro que o Brasil exportará cerca de 6 milhões de toneladas de soja alterada geneticamente e que está sendo colhida principalmente no Rio Grande do Sul. O governador Blairo Maggi também manifestou-se favorável, "Claro que sou (favorável). A gente não pode enfiar essa soja debaixo do tapete", argumentou. Os dois posicionamentos, idênticos, foram feitos ontem, durante coletiva do ministro em Cuiabá, onde se participou da abertura do Encontro dos Negócios da Pecuária (Enipec).
O ministro disse que não há números oficiais sobre o cultivo de soja transgênica, mas admitiu que ele existe e que deve girar em torno de 6 milhões de toneladas, "Basicamente produzidas por pequenos agricultores do Rio Grande do Sul". Disse ainda que o governo terá que escoar esses grãos sem que isso implique em flexibilizar a fiscalização para impedir novos plantios.
O governo tem interesse em furar a nascida dos transgênicos e jogou a batata quente nas mãos do Congresso. Produtor hereditário, Roberto Rodrigues sabe que basta apertar o cerco até agosto para impedir novos cultivos transgênicos, porque depois desse mês, não haverá tempo para o agricultor comprar sementes visando a próxima safra. "Pode ser que até lá, (agosto) a situação esteja resolvida. Mas, pode ser que não", ponderou.
Enquanto permanecer proibida, a semente de soja transgênica será alvo de fiscalização. Quanto a semente que já brotou e foi colhida, bem quanto a essa o destino são os países onde tanto faz quanto tanto fez que o produto seja oriundo da transgenia ou de cultivo convencional.
O governador e presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Blairo Maggi, destacou que recentemente alertou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a encruzilhada em que o país se encontra diante dos transgênicos. Blairo avalia que o montante transgênico produzido no Brasil deverá representar uma receita de R$ 1,2 bilhão.
Roberto Rodrigues não anunciou nada específico para Mato Grosso. Porém, determinou que um de seus secretários atendesse a uma reivindicação da associação dos suinocultores (Acrismat), que protesta pela alta do milho e por falta de estoques reguladores do cereal. "Isso, porém, não se resolve numa só safra", esquivou-se o ministro.
"A guerra poderá criar protecionismo dentro da (Organização Mundial do Comércio) OMC", alertou o ministro. Para ele, não há risco de retaliações comerciais dos Estados Unidos ao Brasil pela postura de Brasília em relação ao conflito armado no Golfo Pérsico, que pode eclodir ainda hoje, conforme o ultimado do presidente George Bush ao líder iraquiano Sadam Hussein.
Do pior ao melhor mundo. Foi esse o sentido figurado dado pelo ministro para pintar um hipotético cenário para o suprimento de petróleo do Brasil em caso de guerra. "O pior", seria um demorado conflito que acabaria interferindo significativamente nos preços do petróleo. "O melhor", seria uma guerra curta, sem poder de fogo na área comercial. Roberto Rodrigues não avaliou o quadro diante da - ainda que remota - possibilidade de se manter a paz.
Ao contrário da aspereza verbal demonstrada no dia 11, em Araçatuba (SP), onde taxou de "malandros" os usineiros que não estariam cumprindo acordo com o governo, de produzirem mais álcool, Roberto Rodrigues abrandou o tom e admitiu que não conhece especificamente o caso (da produção de álcool e açúcar em Mato Grosso) embora insistisse em afirmar que sabe bem da situação no plano nacional. Ele espera que o setor sucroalcooleiro produza na safra que começa em abril, 12,6 bilhões de litros, o que significaria 1,5 bilhão a mais que a colheita anterior. Trocado em miúdos: se assim for, não há razão para o rótulo azedo aos capitães dos engenhos, que assim estariam honrando os fios de bigode empenhados.