Para evitar problemas na venda de soja à China, maior comprador do Brasil, em 15 dias o governo vai reunir os exportadores e sugerir o fim da mistura das cargas brasileiras com lotes argentinos embarcados nos portos brasileiros. Tecnicamente, será o fim da chamada operação 'top off', segundo informou assessor de Assuntos Internacionais do Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal do Ministério da Agricultura, Gilson Westin Cosenza. O encontro ainda não tem data.
No começo de junho, o governo chinês reclamou que uma carga de soja importada do Brasil e da Argentina tinha excesso de umidade, plantas daninhas e porções significativas de terra. A umidade proporciona o aparecimento de fungos que favorecem o desenvolvimento da aflatoxina, substância cancerígena. Reclamação refere-se a lote enviado depois de abril, quando começaram os embarques da safra brasileira 2002/2003. 'Na época de colheita da soja brasileira, a umidade não é comum. No nosso sistema de colheita, mecanizado, também não é normal a mistura de grãos com muita terra', disse Cosenza, sugerindo que os problemas não são da soja brasileira, mas do produto comercializado pela Argentina.
Como os lotes dos grãos são misturados nos portos da Argentina e do Brasil - a Argentina alega que seus portos não têm calado suficiente para permitir que os navios saiam carregados -, não é possível confirmar a origem dos prejuízos. Por isso, Cosenza não concorda que o governo brasileiro emita certificados a toda a carga, sendo a metade embarcada em portos do país vizinho.
O representante do Ministério da Agricultura estimou que metade da soja brasileira que irá para a China este ano não foi embarcada, mas enfatizou que não há problemas com os embarques. No ano passado, os chineses compraram 11,5 milhões de toneladas de soja do Brasil. 'A China constatou irregularidade em um navio', afirmou Cosenza, informando que as exportações para o mercado chinês em 2003 devem superar os resultados de 2002. Ele calcula que um navio graneleiro carregue cerca de 6 mil toneladas de grãos.
A queixa do governo chinês foi registrada dia 6 de junho, no encontro de representantes das embaixadas dos dois países para tratar de uma reclamação de exportadores brasileiros. Eles alegavam que o Ministério da Agricultura da China demorava para autorizar a entrada das cargas vendidas pelo Brasil. Os chineses rebateram a reclamação, dizendo que os exportadores brasileiros estavam sendo precipitados no fechamento de contratos sem ter a permissão para exportar.