Preço do produto nacional reduz competitividade de Pernambuco em relação ao Sul.
O risco de desabastecimento de milho está pondo em risco a avicultura de Pernambuco e os avicultores esperam que o governo federal garanta, claramente, a liberação para importação de milho transgênico da Argentina. Desde as celeumas jurídicas que impediram o desembarque do milho no Porto do Recife, no ano 2000, os avicultores vinham mantendo o plantel avícola comprando milho, produzido na região Centro Oeste do Brasil, nos leilões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), pelo mesmo preço do milho argentino. Mas, segundo o vice-presidente de ovos da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe), Antônio Correa, não há mais estoque de milho da Conab para 2003, e o de 2002, já acabou no ano passado.
A última remessa de 14,5 mil toneladas de milho leiloado pela Conab, que chegou ao Porto do Recife, na sexta-feira passada, é insuficiente para garantir o abastecimento até o final do mês. O volume representa menos da metade do consumo mensal do setor avícola no Estado, que chega a 50 mil toneladas. A promessa do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, no encontro com os avicultores do Nordeste, no último dia 31, em Brasília, de leiloar 150 mil toneladas de milho para o Norte, o Nordeste, Minas Gerais e o Espírito Santo, ainda está sem previsão de ser cumprida.
´Até agora nem o edital de compra do milho pelo governo federal foi publicado. Não sabemos quando o leilão vai acontecer´, reclama Correa, ainda lamentando as perdas de R$ 100 milhões em produtos avícolas em 2002, com a queda da atividade em 32% no Estado. Segundo ele, os avicultores estão pagando caro para manter a produção de frangos e ovos no Estado e perdendo em competitividade.
Enquanto a saca de 60 quilos de milho importado da Argentina pode chegar ao Porto do Recife por R$ 26,00 ou R$ 27,00, os pequenos avicultores, que não dispõem de logística própria para importar o insumo, estão comprando no Centro Oeste ou na região de Barreiras, na Bahia, por até R$ 38,00.
Suicídio econômico
Para os grandes avicultores, que têm melhores condições de transporte, a diferença não é muita e eles pagam entre R$ 34,00 e R$ 35,00 pela saca. ´Isso é um suicídio econômico a médio prazo e nos deixa sem condições de competir com a produção do Sul do País, onde a saca de milho custa R$ 20,00´, diz Antônio Correa.
A solução para a crise que, segundo dados da Avipe, chegou a desempregar 18 mil trabalhadores só em Pernambuco, no ano passado, está na liberação das importações de milho transgênico da Argentina. A posição da Avipe é apoiada pelo governo de Pernambuco.
O secretário de Produção Rural e Reforma Agrária de Pernambuco, Gabriel Maciel, diz que o tipo importado é o Bt, uma bactéria largamente utilizada para controle biológico de pragas específicas da cultura. ´A ração animal produzida com esse milho tem a mesma composição físico-química do convencional, não causa nenhum efeito colateral no produto final para o consumidor´, explicou Maciel, que defendeu a liberação, na reunião do Fórum Nacional de Secretários de Agricultura (FNSA), em Brasília, com a participação do ministro Roberto Rodrigues. Segundo Maciel, o governo promete uma solução para os transgênicos em 30 dias.