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Senador dos EUA: Brasil levou Cancún ao fracasso


Em programa de rádio, Charles Grassley diz que G-21 deixou negociações sem apresentar propostas.

O presidente da Comissão de Finanças do Senado, Charles Grassley, insinuou num programa de rádio que o Brasil foi o responsável pelo fracasso da reunião ministerial da Organização Mundial de Cancún, na semana passada, dizendo que o País "liderou o grupo de 21 países que se retiraram, sem colocar propostas na mesa".

A afirmação foi feita durante o programa Talk of the Nation, da rede nacional de rádios públicas, na terça-feira. "Temos levantado a questão se há ou não há subsídios à agricultura no Brasil", afirmou o senador, que é plantador de soja em Iowa. Ele não fez nenhum comentário sobre um estudo, encomendado por ele ao Departamento de Agricultura dos EUA, que concluiu, no mês passado, que os ganhos de produtividade e produção da soja brasileira, nos últimos anos, não se explicam por política de subsídios, que o País não pratica.

Grassley, que fez parte da uma delegação de 30 parlamentares americanos à reunião da OMC em Cancún, disse que compreenderia se os países em desenvolvimento se retirassem insatisfeitos com a negociação, mas não antes mesmo de ela começar. Grassley deixou claro que terá os países do Grupo dos 21 na mira, citando especificamente dois deles, Costa Rica e Guatemala, que negociam atualmente um acordo de livre comércio com os EUA, junto com seus vizinhos da América Central. "Talvez devamos negociar apenas com os outros três", disse ele, referindo-se a El Salvador, Honduras e Panamá.

A caracterização do colapso da reunião como um resultado de uma retirada dos países em desenvolvimento é contestada por várias pessoas que participaram do encontro, inclusive funcionários do governo americano. Mas o episódio deixou um travo amargo em relação ao Brasil no Ministério de Comércio Exterior americano (USTR).

"O embaixador (Robert) Zoellick acredita que há países que foram a Cancún mais para pontificar do que para negociar", disse ao Estado uma fonte do USTR. Perguntado se ele incluía o Brasil entre esses países, o funcionário respondeu: "Ele não foi específico, mas o Brasil foi o porta-voz do Grupo dos 21 e estava em Cancún". De acordo com fontes bem informadas, apesar da má disposição que o desfecho de Cancún deixou no USTR em relação ao Brasil - alguns disseram que Zoellick é vingativo e dará o troco -, a orientação da Casa Branca continua a ser de preservar as relações com o Brasil dos danos causados pelo episódio. A fonte do USTR disse que "é muito difícil ver", agora, como as negociações sobre a Alca poderão avançar no prazo previsto de 2005. "Isso não vai nos impedir de buscar acordos bilaterais com quem estiver realmente interessado em negociar e caberá a cada país decidir se a oportunidade perdida em Cancún atende a seus interesses."

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