Seca barra doença severa da videira
Cerca de 5% dos vinhedos mundiais morrem pela esca todos os anos
A seca e as doenças são uma fonte de pressão nos vinhedos, causando perda de rendimento e mortalidade. Mas esses estresses da planta não agem necessariamente em sinergia. Uma equipe de pesquisa do INRAE, da Bordeaux Sciences Agro, da Université de Bordeaux e do Institut Français de la Vigne et du Vin, descobriu recentemente que as condições de seca suprimem o aparecimento de sintomas da doença de esca, uma das doenças mais comuns da madeira da videira. Os resultados são um grande avanço na compreensão desta doença e das complexas interações entre plantas, patógenos e clima.
Segundo a Embrapa a esca é uma doença complexa, que provoca alterações estruturais e fisiológicas em plantas maduras, com mais de oito anos. É causada por uma sucessão de fungos como Phaeomoniella chlamydospora, Phaeoacremonium aleophilum, P. inflatipes e Fomitiporia sp. Os sintomas da doença podem ser verificados no tronco, nos ramos, nas folhas e bagas. Em plantas adultas, com 8 a 10 anos ou mais, o sintoma interno mais comum é uma podridão branca ou amarelada, que gradualmente altera a firmeza da madeira, que se decompõe e adquire um aspecto esponjoso, normalmente rodeada por uma linha grossa de cor escura, que separa a parte afetada da sadia. As videiras afetadas vão perdendo o vigor e progressivamente murcham e morrem.
Nos últimos vinte anos, uma deterioração global foi observada nos vinhedos. A produtividade e a longevidade das videiras estão diminuindo e há um aumento na mortalidade das videiras nas parcelas (uma queda de produção de 3,4 milhões de hectolitros foi estimada em vinhas na França em 2014). Estima-se que a mortandade devido a doenças da madeira provoca a perda de 5% da superfície da vinhedos todos os anos.
Estudo avalia a esca da videira em condições de seca
Os mecanismos subjacentes à esca são mal compreendidos porque é uma doença difícil de estudar em condições controladas. Por afetar apenas as vinhas com mais de sete anos, só pode ser observada nas parcelas ao ar livre. A fim de criar condições de seca controlada, os cientistas desenvolveram um método de transplante de videiras para vasos com base em métodos usados ??para cultivar árvores bonsai. Eles transplantaram 51 vinhas Sauvignon blanc de 30 anos da propriedade experimental Grande Ferrade do INRAE, perto de Bordeaux, na França. Essas vinhas já vinham sendo monitoradas para esca há seis anos. Durante dois anos, eles monitoraram pela primeira vez o aparecimento de sintomas de esca em um ambiente controlado, analisando com precisão o estado fisiológico das plantas, metade das quais em condições de seca.
A seca inibe os sintomas de esca
Uma das hipóteses levantadas para explicar o aumento da mortandade da videira nos últimos anos foi uma sinergia entre fatores ambientais como o aumento da frequência e intensidade das secas e doenças como a esca. Este estudo mostra o oposto. Nenhuma videira sob condições de seca moderada a severa mostrou sintomas de esca nas folhas. A seca inibiu a doença durante as duas estações estudadas, demonstrando o papel central do status da água da videira no desenvolvimento da esca. Os cientistas sugeriram várias explicações para esse resultado inesperado. Um déficit hídrico causado pela seca pode inibir diretamente a atividade de fungos parasitas; ou a seca também pode afetar as respostas de defesa da planta. Outra hipótese é que a forte redução do transporte de água na planta causada pela seca também suprimiria o transporte de moléculas tóxicas produzidas pelos fungos. Embora a seca aplicada tenha um efeito positivo na supressão dos sintomas de esca, é essencial lembrar que a disponibilidade de água é um fator importante na produtividade da lavoura e na perda de rendimento.
Este estudo é um ponto de partida importante para a compreensão da esca e da influência do clima nesta doença da videira. As pesquisas continuarão com o objetivo de compreender melhor o papel do clima (precipitação, temperatura, etc.) na expressão da esca em escala nacional. A longo prazo, esta investigação poderá permitir prever melhor o aparecimento de sintomas de esca através do acompanhamento dos índices de seca e do estado fisiológico dos vinhedos.