O investimento de R$ 60 milhões que a Cargill Agrícola acaba de fazer para ter o seu terminal graneleiro no porto de Santarém, oeste do Pará, com capacidade instalada para exportar 800 mil toneladas de grãos por ano, representa apenas uma parte do investimento total de pequenos e grandes empresários para expandir a fronteira agrícola do estado. A safra de grãos da região deve somar 163,2 mil toneladas de arroz, milho e soja em 2003, com área plantada de cerca de 45 mil hectares.
O volume representa quase o triplo do que foi produzido na safra passada – apenas 18 mil hectares e 60,5 mil toneladas de grãos. Há seis anos não se produzia quase nada em grande escala, segundo informações divulgadas na sexta-feira pela Agência Pará de Notícias, ligada ao governo do estado.
Com porto estratégico, mais próximo aos centros consumidores dos Estados Unidos e Europa, e muita área disponível, Santarém é o centro da produção regional. Outros municípios, como Belterra, Alenquer, Monte Alegre, Prainha, Juruti, Uruará, Itaituba, Trairão e Placas também atraem produtores agrícolas. Informações divulgadas pela a agência revelam que a renda bruta com a safra deste ano gira em R$ 180 milhões, incluindo a venda dos produtos, compra de sementes, combustível, defensivos, fertilizantes, alimentação, aluguel de máquinas e outras despesas de custeio, além dos investimentos destinados à compra de tratores, colheitadeiras e plantadeiras.
Investimento em armazenagem
Um dos produtores pioneiros na região, Clovis Casagrande montou uma agroindústria em Santarém junto com o sócio João Humberto Afonso, e desde então não pára de investir na sua empresa, a Mato Grosso Cereais. Há dois anos ele inaugurou um complexo de silos secadores de grãos com capacidade para 400 mil sacas de 60 quilos. Atualmente o complexo opera com capacidade de 750 mil sacas de grãos, graças a um investimento de R$ 1 milhão na construção de um armazém subterrâneo, com 17 metros de profundidade.
A capacidade instalada na região para armazenagem e secagem de grãos já é de 18,8 toneladas/hora ou o equivalente a 2,1 milhões de sacas de 60 quilos. "É uma atividade importante para a geração de emprego e renda e para o desenvolvimento das economias locais, uma meta do atual governo", diz o secretário estadual de Produção, Sérgio Leão. Ele ressalta que esses investimentos devem seguir o modelo proposto pelo governo estadual, de "desenvolver sem devastar". O Pará, segundo ele, vem implantando políticas de acompanhamento do setor agrícola para garantir que o cultivo de grãos no se dê acompanhando a modelagem estabelecida pelo governo. "É preciso que o cultivo se desenvolva em áreas já alteradas, evitando a pressão sobre novas regiões de floresta e garantindo um ganho completo, inclusive do ponto de vista da sustentabilidade ambiental", diz o secretário.
Expansão agrícola
O Banco da Amazônia, através do Fundo Constitucional do Norte (FNO), vem incentivando a expansão do pólo agrícola paraense."É crescente o número de empresários que chega à região diariamente", diz o superintendente do banco na região, Luiz Euclides Feio.
Jacy Barros, secretário de infra-estrutura da Prefeitura de Santarém, acredita que a produção de grãos da região deverá alcançar 80 mil hectares em 2004. Até 2001 o município comprava arroz do Rio Grande do Sul. E hoje Santarém é auto-suficiente e já vende parte da produção da região para Belém e Manaus. Dos 45 mil hectares de grãos plantados, 28,5 mil foram ocupados com arroz, 7 mil com milho e 10 mil hectares com soja, de acordo com Barros.
Junto com o plantio de grãos chega a polêmica sobre os prejuízos ambientais dessa opção. Os ambientalistas acreditam que obras como o asfaltamento do trecho paraense da rodovia Cuiabá-Santarém possam representar a ampliação do desmatamento na região. Mas o prefeito de Santarém, Joaquim de Lira Maia- também um produtor de grãos- garante que existem mais de 700 mil hectares de áreas alteradas entre os municípios de Santarém e Belterra. E que, desse total, 500 mil hectares estão aptos ao cultivo.
Já a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém, Ivete Bastos dos Santos, ouvida pela agência de notícias, diz que, sem citar um caso concreto, a chegada dos produtores de grãos provoca aumento do êxodo rural, porque muita gente está vendendo a terra ou sendo vítima de grilagem. Ela afirma que o modelo é excludente e que a monocultura contrasta com a principal característica da floresta amazônica, que é a heterogeneidade.