A Bahia, terceiro maior produtor de algodão do País na safra 2002/03, atrás do Mato Grosso e de Goiás, ensaia a conquista da posição de vice-liderança, que deve ser alcançada já no próximo período. Projeções preliminares da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), indicam que a área crescerá 82,5% para 140 mil hectares. Já a produção está estimada em 194 mil toneladas, um aumento de 85% sobre a safra de 2002/03. Tão bom resultado se deve ao surgimento de novas tecnologias, variedades e ao aumento da capitalização dos produtores. Cenário bastante diferente do registrado no final da década de 1980, período em que a produção despencou no estado. Tradicional produtor de algodão no Brasil desde a década de 1930, a Bahia chegou a cultivar 300 mil hectares em meados de 1980, mas teve sua produção praticamente dizimada após a liberação das importações, aumento da incidência da praga conhecida como "bicudo", ausência de novas tecnologias e adversidades climáticas. "O produtor enfrentou tantas dificuldades que aos poucos foi perdendo competitividade", diz João Carlos Jacobsen Rodrigues, presidente da Abapa e vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Com a perda de competitividade, a produção de algodão no estado praticamente zerou na década de 1990. Em meados de 1995, entretanto, grandes produtores de soja do estado, em busca de uma alternativa para a rotação com a soja, investiram no algodão e estão colhendo excelentes resultados desde então. "Muitos produtores migraram da soja para o algodão porque ele é mais resistente ao clima, caracterizado por intensos veranicos no início do ano", avalia o analista Fábio Cardel, diretor da corretora Cotton Class.
Além da região oeste, onde se concentra a produção de arroz de sequeiro, a partir de 2000 cresceu sensivelmente a safra da região sudoeste do estado, conhecida como "vale do rio Iuiú". O produtor Luís Carlos Fernandes de Souza, que cultiva algodão há 25 anos no estado, é o mais antigo produtor da região oeste. Na safra 2003/04 o produtor vai manter os 5 mil hectares de produção de 2002. Fernandes responderá por 25% da área cultivada, estimada em 20 mil hectares no período 2003/04.
Exportações brasileiras
O Mato Grosso pretende dobrar as exportações de algodão nos próximos anos. Para isso, está investindo R$ 2,8 milhões na promoção do produto no mercado internacional com a vinda de missões estrangeiras para conhecer a qualidade da fibra matogrossense. Chega hoje ao estado o segundo grupo de empresários que visita fazendas e usinas este ano. Mato Grosso - que responde por 50% da produção nacional de algodão - deve exportar 150 mil toneladas de pluma (35% da produção) em 2003.
Uma das metas da visita é também antecipar a venda externa do produto. Estimativas de mercado indicam que já foram comercializadas no estado 100 mil toneladas da safra 2003/04. Na Bahia, a venda também foi antecipada. "Cerca de 80% safra 2003/04 do estado já foi vendida e 50% deste volume se refere às vendas externas", diz Jacobsen. Um levantamento da consultoria Safras & Mercados mostra que em todo o País foram negociadas 140 mil toneladas da produção que nem começou a ser plantada. Se a produção nacional do ano que vem for igual a 2003 (850 mil toneladas), a venda antecipada já responde por 15% da safra futura.