A Rússia poderá aumentar a cota de importações de frango do Brasil, diz Júlio Cardoso, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef). "Os Estados Unidos, donos de uma cota de 600 mil toneladas, não estão conseguindo abastecer o mercado russo, o que deve beneficiar o Brasil", afirma. Para Cardoso, há potencial para pelo menos triplicar a cota atual, que é de 33 mil toneladas e entrou em vigor no mês de junho. No ano passado, sem o sistema de cotas, o Brasil exportou 300 mil toneladas de frango para a Rússia.
Com o aumento dos preços no mercado interno norte-americano e a demanda aquecida, os abatedouros preferem vender o frango no mercado local a exportá-lo. Dessa forma, diz Cardoso, os russos estão procurando outros fornecedores, como o Brasil. "Desde o início desta semana empresas de importação da Rússia voltaram a consultar o preço do frango brasileiro, chamando por grandes volumes", diz. "Como os volumes ultrapassariam, em tese, a cota atual, acreditamos que os traders estão antecipando uma decisão já tomada pelo governo russo, de modificar as cotas", afirma o executivo.
Greve na Receita
Em agosto o Brasil embarcou 193,8 mil toneladas de frango, com divisas cambiais de US$ 183,2 milhões. Foi o segundo melhor desempenho da história das exportações de frango, com crescimento de 38% dos volumes e de 61% das receitas. Parte do crescimento é produto da greve da Receita Federal, o que acabou por transferir de julho para agosto parte dos embarques. A Abef prevê que o Brasil deverá exportar entre 1,8 milhão e 1,9 milhão de toneladas neste ano, volume de 12% a 15% maior que o apurado em 2002.
"O setor deve continuar crescendo, apesar das barreiras impostas pela União Européia (UE)", diz Cardoso. A Europa, o terceiro mais importante mercado do frango brasileiro, aumentou a tarifa de importação do peito salgado de 15% para 75% desde agosto. O peito salgado responde por cerca de 70% das exportações brasileiras para a Europa.
"A queda das vendas do frango salgado será compensada pelo crescimento dos embarques do produto ‘in natura’", diz Cardoso. "Embora ‘in natura’ também tenha sido taxado em 75%, ele é muito competitivo: o custo de produção na Europa é duas vezes maior que o Brasil."