Revista desvenda esquema montado em 1987 para disseminar praga
Segundo a revista Veja, técnicos descobriram o primeiro foco de vassoura-de-bruxa numa plantação de cacau no sul da Bahia
Segundo reportagem da revista da Veja, no dia 22 maio de 1989 técnicos descobriram, durante investigação de rotina, o primeiro foco de vassoura-de-bruxa numa plantação de cacau no sul da Bahia. A praga é mortal aos cacaueiros e espalhou-se de forma espantosa e linear, destruindo as lavouras da região. À época, várias hipóteses foram levantadas sobre a chegada da doença nas plantações, inclusive a de sabotagem feita por países produtores de cacau, uma vez que os técnicos econtraram ramos de cacau infectados com vassoura-de-bruxa amarrados em pés de cacau, mas nada ficou comprovado. Dezessete anos depois, o idealizador e executor da sabotagem conta como fez o serviço.
Henrique Franco Timóteo, baiano, técnico em administração e militante do PDT, disse ter se unido a outros quatro amigos do PT para contaminar as plantações de cacau no sul da Bahia. A justificativa dada é a de que queriam acabar com o domínio político dos barões do cacau, cujo poder econômico influenciava a política local. “Só se candidatavam a vereador e prefeito quem eles queriam”, reclama Franco Timóteo, autor da idéia. O restante do grupo era: Everaldo Anunciação, Wallington Duarte, Eliezer Correia e Jonas Nascimento, todos do PT e funcionários da Ceplac, órgão do Ministério da Agricultura que cuida do cacau.
Todo o esquema foi montado no final de 1987, num bar conhecido na região onde os amigos se reuniram. Lá, decidiram que Franco Timóteo viajaria de ônibus até o norte do País, onde a vassoura-de-bruxa é uma doença endêmica, e trariam os ramos contaminados para serem implantados nas plantações baianas. Durante quatro anos repetiram a viagem e a sabotagem até que não foi mais preciso. A praga se alastrou rapidamente, com a ajuda do vento.
A primeira fazenda atacada chamava-se Conjunto Santana e pertencia a Francisco Lima Filho, então presidente local da União Democrática Ruralista (UDR) e partidário da candidatura presidencial de Ronaldo Caiado. O primeiro foco de vassoura-de-bruxa foi encontrado no dia 22 de maio de 1989 e, como medida profilática, os técnicos decidiram incinerar todos os pés de cacau da fazenda. Chico Lima ficou arruinado, conta a revista. Hoje ele arrenda as terras que lhe restaram e vive dos lucros de uma distribuidora de bebidas.
Os ataques aconteceram a várias fazendas ao longo da BR-101 e o destino dos seus proprietários foi o mesmo. A revista Veja consultou Lucília Marcelino, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em Brasília, para saber se a história contada por Franco Timóteo seria viável. “Sob o ponto de vista técnico, sim”, diz ela. O resultado da sabotagem foi queda de mais de 50% da produção de cacau e desemprego de mais de 200.000 trabalhadores na região. Até então o Brasil era o segundo maior produtor de cacau do mundo e desde então passou à condição de importador da fruta. Só nos últimos 15 anos o prejuízo ao País chega a US$ 10 bilhões.
Ainda como resultado da sabotagem, em 1992, o primeiro pleito após a devastação dos lavouras de cacau, Geraldo Simões elegeu-se prefeito de Itabuna (BA) pelo PT – e presenteou os quatro amigos: Everaldo Anunciação foi nomeado secretário da Agricultura por dois anos, substituído pelo colega Jonas Nascimento. Wellington Duarte ficou como chefe de gabinete do prefeito. Eliezer Correia ganhou o cargo de secretário de Administração e Finanças.
Como não pertencia ao PT, Franco Timóteo não ganhou cargo na prefeitura, mas em 1994, com a volta da suspeita de sabotagem na região, ele ganhou do prefeito a quantia de 250.000 cruzeiros (cerca de R$ 800) para deixar Itabuna e mudar-se para Rondônia. Hoje, 17 anos depois, o motivo da confissão, diz Franco Timóteo, é o arrependimento. Os demais envolvidos na história negam qualquer envolvimento e dizem sequer conhecer o técnico baiano Franco Timóteo.
A revista Veja desta semana traz novidades sobre o caso na Bahia. Franco Timóteo prestou depoimento de quatro horas à Polícia Federal, onde confirmou ter sido o responsável pela contaminação das lavouras de cacau do Sul da Bahia pela vassoura-de-bruxa. Confirmou ainda ter recebido ajuda de amigos (técnicos da Ceplac).