Qual é o futuro da armazenagem de grãos no Brasil?
No Brasil somente 14% das fazendas possuem armazéns ou silos nas propriedades
A expectativa para a safra de grãos 2021/2022 é de 268,2 milhões de toneladas, segundo o 5º Levantamento da Safra de Grãos, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Se confirmado, o número representará um aumento de 5% na produção, quando comparado à safra anterior. Esse crescimento mostra o potencial produtivo do agronegócio brasileiro. Porém, a armazenagem de grãos caminha no sentido inverso. Hoje o setor acumula um déficit de 100 milhões de toneladas por safra, segundo estudos da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio de 2021.
Um dos caminhos para superar o déficit é aumentar o percentual de armazenagem em fazendas. No Brasil somente 14% das fazendas possuem armazéns ou silos nas propriedades, uma realidade bem diferente do exterior. A exemplo, no Canadá esse percentual chega a 85% e nos Estados Unidos em 65%. Essa mudança traria um grande impacto nas perdas qualitativas e quantitativas de produtos, logística, além de potencializar e preservar os lucros.
Outra solução necessária é investir em ferramentas tecnológicas que ajudem a preservar a qualidade do grão. O mercado já oferece tecnologias de hardware, software e automação para mensurar e classificar os fatores qualitativos dos produtos agrícolas, que contribuem para diminuição dos gastos com energia elétrica e expurgos, por exemplo, além de dar liberdade para o produtor negociar a safra a um preço mais rentável. Isso é possível pois as ferramentas para gerenciamento da armazenagem dão uma visão completa sobre a produção e dados confiáveis sobre o estado dos grãos, dando autonomia e segurança na tomada de decisão.
Entretanto, a realidade da armazenagem ainda é manual em boa parte das unidades. A defasagem tecnológica em relação aos demais setores da produção de alimentos compromete o produto, contribuindo para o déficit. Se o armazenamento do grão não foi realizado adequadamente, ele está mais suscetível à deterioração, contaminação por fungos, micotoxinas, ou seja, são maiores as probabilidades de perdas dos produtos. Isso tem reflexo direto na competitividade do agronegócio e na lucratividade da produção.
Além das soluções que já existem para evitar esses problemas, ainda há oportunidades de evolução das tecnologias. Um dos exemplos é no que diz respeito à rastreabilidade e automatização de determinados processos. Outro forte agente de transformação no setor, a médio prazo, será o 5G. As soluções cada vez mais demandarão um grande volume de dados em tempo real, o que será facilitado com a baixa latência da nova geração de rede móvel.
O futuro da armazenagem passa, impreterivelmente, pelo investimento em tecnologia para gerenciamento das unidades. Na maioria das vezes, os produtores focam seus investimentos na ampliação das áreas de plantio, pois é onde tem mais habilidades. Mas esquecem que a armazenagem está ligada aos lucros da safra. A armazenagem de grãos bem feita é sinônimo de produto de qualidade, garantia de segurança alimentar e aumento da competitividade de toda a cadeia produtiva do agronegócio.
Enviado por Murilo G. Schneider é Co-fundador e Co-CEO da Procer Agrointeligência de Pós-Colheita, um dos principais players em tecnologias para o pós-colheita.