Projeto de tropicalização da canola apresenta resultados promissores
O projeto tem como objetivo tropicalizar a canola e adaptar o seu sistema de cultivo à região central do Brasil
Os resultados da primeira fase do projeto da Procanola, desenvolvido em parceria pela Embrapa Agroenergia e produtores rurais da Cooperativa Agrícola do Rio Preto (Coarp/DF), foram apresentados nesta quarta-feira, 6/10, durante reunião técnica no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa. O projeto tem como objetivo tropicalizar a canola e adaptar o seu sistema de cultivo à região central do Brasil.
O pesquisador e chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia Bruno Laviola, líder do projeto, apresentou resultados otimistas sobre a produtividade da canola plantada no DF.
“Alcançamos uma produtividade média de 2 mil kg/ha, valor acima da média brasileira, que é de 1.400 Kg/ha”, comemorou. Um detalhe importante mencionado pelo pesquisador foi o baixo índice pluviométrico do plantio à colheita, apenas 70 mm ao todo, cerca de 20% do que a literatura diz ser necessário para um bom desenvolvimento do cultivo.
“Todos os livros sobre canola afirmam que a cultura requer entre 300 e 350 mm para se desenvolver bem”, disse Bruno, que atribuiu a excelente produtividade alcançada à capacidade da planta de acumular o orvalho noturno e fazer a recomposição hídrica. Das três variedades plantadas (Diamond, Nuola 300 e Hyola 433), os dados obtidos mostraram que a semente Nuola 300 foi a que melhor se adaptou ao Distrito Federal, alcançando excelente cobertura de solo, principalmente em cultivo irrigado.
Laviola atribuiu o sucesso alcançado principalmente à etapa de semeadura, considerada pelo pesquisador como uma das mais importantes. “Será publicado em breve o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a canola, o que ajudará o produtor a plantar no período ideal e aumentar as chances de sucesso na hora da colheita”, disse.
lém disso, a Embrapa Agroenergia prepara para o próximo ano o lançamento do aplicativo MaisCanola, que permitirá ao produtor fazer o acompanhamento virtual de todas as etapas do cultivo, do plantio à colheita. “O aplicativo vai levar informações técnicas essenciais e auxiliará o produtor a fazer o preparo da área, a semeadura e o monitoramento da planta. Também poderão ser inseridos dados sobre cultivo e colheita, o que permitirá à Embrapa adaptar o sistema de cultivo à condições e necessidades reais dos produtores”, explica Laviola.
Relato dos produtores
Os produtores Ítalo Meotti e Flávio Benetti, associados à Coarp, compartilharam com o público presente as experiências com o cultivo da canola. Foram realizados plantios experimentais em cerca de 106 ha de cinco produtores da região do Rio Preto, localizada em Planaltina - DF. Além de selecionar três tipos de variedades comerciais para o plantio, a Embrapa Agroenergia validou o sistema de produção junto aos produtores.
Tanto Meotti quanto Benetti consideraram a cultura de fácil manejo, mas ressaltaram a necessidade de fazer adaptações no momento da colheita, para evitar a perda de rentabilidade. Meotti diz que se surpreendeu com os resultados alcançados. “No DF a planta se desenvolveu muito bem em um ano de altíssima deficiência hídrica”, afirmou.
O presidente da Cooperativa Agrícola do Rio Preto (Coarp), Valter Baron, afirmou que a canola está sendo trazida para a região central do País da maneira correta, com organização, acompanhamento técnico e suporte aos agricultores. “Nós já estamos produzindo mais que o Sul do Brasil, graças à dedicação da equipe da Embrapa, orgulho nacional. A canola será de grande importância como alternativa de cultivo safrinha no Centro-Oeste”, acredita.
No evento, estiveram presentes o Diretor de Cadeias Produtivas do Mapa, Alexandre Barcellos; o Secretário de Agricultura do DF, Cândido Teles de Araújo; o Superintendente Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do DF (substituto), Carlos Alberto Ferreira; a diretora de Desenvolvimento Rural do DF, Andrea Perez e o Assessor da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, Willian Barbosa.
As atividades de pesquisa do projeto Procanola contam com o aporte financeiro de cerca de R$680 mil da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento e Irrigação do Ministério da Agricultura (SDI/Mapa), via Termo de Execução Descentralizada (TED). Para Alexandre Barcellos, o Mapa alocou recursos nas mãos certas. “Felizmente alocamos o recurso nas mãos de quem tinha a oportunidade de fazer. Já vislumbro o impacto que a produção de canola pode trazer para o setor produtivo, um valor agregado que garante grande potencial de expansão dentro do Cerrado”, disse.
Cândido Araújo, Secretário de Agricultura do DF, também demonstrou otimismo com o plantio da canola no Centro-Oeste. “A canola vai tomar conta do Cerrado como a soja tomou. Os resultados são altamente promissores”, avaliou.
Mercado da canola e perspectivas futuras
O Presidente da Associação Brasileira de Produtores de Canola (Abrascanola), Vantuir Scarantti, fez uma apresentação sobre as oportunidades do mercado de grãos, óleo e torta de canola no Brasil. Ele afirmou que o Brasil tem condições de dobrar ou até mesmo triplicar a produção de canola, já que possui área para o cultivo e capacidade de processamento instalada.
Scarantti ressaltou a forte liquidez do produto no mercado interno e externo. “Temos um grande apelo para aumentar a produção, especialmente do farelo. Esse ano o Canadá teve um grande período de seca, o que resultou em escassez do produto no mercado mundial. Toda hora recebemos demanda e por isso esperamos que, com a força das cooperativas, possamos ter em 2030 pelo menos 500 mil hectares de canola plantados no Brasil”, disse.
Ainda sobre o panorama mundial da canola, Scarantti informou que atualmente as maiores produtividades são obtidas pela União Europeia (3.240 kg/ha), Ucrânia (2.700 kg/ha) e Canadá (2,270 kg/ha). O Brasil aparece em quarto lugar, com média de produtividade de 1.600 kg/ha.
“Hoje o Canadá é o maior exportador e o Japão, o maior importador de canola no mundo. O Brasil só produz metade da demanda mundial de consumo, sendo 58% de farelo e 36% de óleo”, disse Scarantti, um indicativo de que há um grande potencial de crescimento para a cultura da canola no País.
Sobre a canola
canola (Brassica napus L. e Brassica rapa L.) é uma espécie oleaginosa, da família das crucíferas (mesma do repolho e das couves), e é a terceira planta oleaginosa mais produzida no mundo, atrás da palma de óleo e da soja. Os grãos de canola produzidos no Brasil possuem de 38 a 40% de óleo, ou seja, o dobro do que produz a soja. É um dos óleos com maior percentual de Ômega 3, cerca de 11%, podendo ser utilizado para consumo humano, produção de biodiesel ou ração animal. Atualmente, o valor de mercado do óleo de canola é equivalente ao da soja.