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Produtores de café preparam protesto com queima de centenas de sacas em Brasília



Os cafeicultores brasileiros estão preocupados com o futuro do setor. Dificuldades financeiras, acarretadas por uma relação apertada entre custo de produção e preço de venda no mercado, leva o setor a enfrentar a primeira crise nesse início de século. Na próxima semana, centenas de sacas de café estarão sendo queimadas em Brasília em um verdadeiro grito de socorro.

O protesto, que incluirá também a distribuição de amostras de café torrado, será seguido de um documento de reivindicação da categoria ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo previsão de entidades ligadas ao governo federal, a safra colhida este ano deverá ficar entre 27 milhões e 30 milhões de sacas. Porém, a realidade pode ser outra.

“Viajo muito pelas regiões produtores e acredito que a safra não tenha passado este ano de 25 milhões de sacas. Em Minas Gerais, que tradicionalmente colhe cerca de 50% do café produzido no País, deve ficar entre 12 milhões e 13 milhões de sacas”, comenta o presidente da Comissão Técnica do Café da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Breno Pereira de Mesquita. Atualmente, o preço médio da saca de 60 quilos do grão está na faixa de R$ 170.

“O grande problema é que 2003 está registrando um dos piores anos financeiros para a cafeicultura brasileira. Se mantiver esse cenário, há possibilidade de erradicação de 800 mil hectares de café”, afirma João Roberto Puliti, presidente da Comissão Nacional de Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Na safra passada, a receita das exportações brasileiras do grão chegaram a US$ 1,2 bilhão. Entre janeiro e outubro deste ano, as exportações, segundo o Ministério da Agricultura, já atingem US$ 1,056 bilhão.

Segundo Puliti, os problemas deste ano se agravaram em março, quando o governo balizou no mercado o preço da saca de 60 quilos de café em R$ 190, segundo custo fornecido anualmente pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Levamos ao governo federal nossa preocupação de que ele deveria balizar o peço do café entre R$ 200 e R$ 210 para compra”, diz Puliti.

A falta de preços que banquem o custo do investimento na safra, segundo os próprios agricultores, descapitalizou o mercado. Esse descompasso entre o preço esperado e o obtido para a saca de café trouxe ainda mais instabilidade ao mercado. Em cidades como Monte Carmelo, produtores estão migrando para o plantio de soja, que é mais rentável no país.

Para Otto Vilas Boas, superintendente da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), o fato da safra ter sido menor este ano também prejudicou os rendimentos do cafeicultor. “Com menor produção, o custo ficou acima de R$ 200 por saca. No ano passado, quando tivemos safra recorde, o custo de produção foi de R$ 138 a saca”, explica. “Não sei qual dos dois anos foi pior, o passado ou este. Mas sei que em 2003 as coisas estão mais difíceis”, comenta Vilas Boas.

Reflexos no comércio

O comércio e o setor de serviços são vítimas das variações do café. A Associação Comercial e Industrial de Três Pontas não tem números exatos sobre a influência da produção agrícola no comércio, mas o presidente da entidade, Sebastião de Fátima Cardoso, usa sua confecção e sua loja de enxoval como exemplo. “De um mês de safra para o outro de entressafra chego a diminuir as vendas em até 40%. Alguns meses são considerados mortos para nós”, diz.

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