Produção de mandioca e fécula em crescimento em 2023, mas demanda enfraquecida desafia setor
A produção de mandioca no Brasil, incluindo a destinada ao consumo de mesa e à indústria, deve crescer 1,3% neste ano
Em 2023, as produções de raiz de mandioca e fécula estão previstas para aumentar, mesmo diante de uma demanda enfraquecida. De acordo com as estimativas mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de mandioca no Brasil, incluindo a destinada ao consumo de mesa e à indústria, deve crescer 1,3% neste ano, atingindo um total de 18,4 milhões de toneladas. Esse aumento se deve ao aumento de 0,8% na área plantada, que deve alcançar 1,23 milhão de hectares, e a um incremento de 0,5% na produtividade média, que chegará a 14,9 toneladas por hectare.
No que diz respeito à produção de fécula, considerando os principais estados produtores, como Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo (que juntos representaram 98% da produção total em 2022), espera-se que a área destinada ao cultivo de raiz supere os 247,5 mil hectares, um aumento de 9,1% em relação ao ano anterior. A produção de raízes também deve ser 7% maior, atingindo aproximadamente 5,6 milhões de toneladas, conforme dados do IBGE.
Dados preliminares do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicam que o processamento de raiz para a produção de fécula alcançou 1,8 milhão de toneladas de janeiro a agosto deste ano, um aumento de 12% em relação aos primeiros oito meses de 2022, registrando o nível mais alto para esse período desde 2016. Além disso, as condições climáticas favoráveis na safra 2022/2023 resultaram em um aumento de 12% na produtividade industrial acumulada de janeiro a agosto, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Entretanto, apesar do aumento na produção, o consumo interno de fécula não tem acompanhado o ritmo de crescimento. O Cepea calcula que o consumo aparente no mercado interno cresceu 21% no acumulado do ano, o que é menor do que o aumento na produção.
Além disso, as exportações de fécula no mercado internacional também diminuíram em relação aos dois anos anteriores, com apenas 16,9 mil toneladas exportadas até agosto, uma queda de 43% em relação ao mesmo período de 2022, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Essa combinação de aumento na produção e queda na demanda tem resultado em um excedente de produto no mercado, o que, por sua vez, está pressionando os preços para baixo.
Vale destacar que a fécula de mandioca é utilizada em uma ampla variedade de aplicações, e qualquer mudança na atividade econômica pode afetar o consumo desse derivado de diferentes maneiras.
As projeções do Banco Central do Brasil (Bacen), com base nas estimativas de mercado, indicam um crescimento de 2,6% no Produto Interno Bruto (PIB) este ano. No entanto, ao analisar os componentes relacionados ao consumo e à indústria, observa-se uma trajetória oposta, pelo menos por enquanto.
De acordo com dados do Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a atividade econômica cresceu apenas 0,2% no segundo trimestre deste ano, impulsionada pelo aumento do consumo das famílias em bens de consumo, enquanto os elementos ligados à indústria mostraram retração.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também relata queda no faturamento real e no uso da capacidade instalada na indústria nos últimos 12 meses, resultando em estoques elevados em vários segmentos, o que limita o consumo de fécula de mandioca e outros amidos.
Os dados do Cepea indicam que a quantidade de fécula armazenada em fecularias e modificadoras de amidos aumentou significativamente entre julho e agosto, superando em 28% o volume estocado no mesmo período do ano anterior. Isso tem exercido pressão sobre os preços, que já registraram uma queda de 22,3% em 12 meses até agosto.
Em resumo, a produção de fécula de mandioca em 2023 pode atingir níveis recordes devido a condições favoráveis de safra, mas a demanda não tem acompanhado esse aumento, o que está resultando em pressão de preços e desafios para as empresas do setor. Para enfrentar esse cenário, é necessário avançar na gestão econômica e financeira das empresas, considerando variáveis controláveis e não controláveis.
As informações foram divulgadas pelo Cepea.