Praga silenciosa pode devorar parte da safrinha de milho
A cigarrinha do milho tem aparecido em várias regiões de clima mais quente, como o Centro-Oeste e o Matopiba, e já começou a provocar estragos
Com a safrinha de milho praticamente plantada no Brasil, o que tem preocupado muitos produtores não é o clima, nem o mercado - ainda que as cotações estejam longe do que eles desejam -, mas uma praga silenciosa que vem atacando as lavouras: a cigarrinha.
De Minas Gerais “para cima” no mapa, os relatos são frequentes, conforme acompanhou a Expedição Safra. Quanto mais calor na área cultivada, mais a cigarrinha e as bactérias que ela carrega se multiplicam. O ambiente ideal é de temperaturas acima de 17°C à noite e 27°C durante o dia. Como os últimos invernos foram mais quentes que o habitual nestas áreas, o inseto infestou as plantações.
Na safra de verão, alguns produtores disseram ter perdido quase toda a produção, no entanto, como é o milho segunda safra que predomina na região, não houve um impacto significativo na colheita geral do país. Na safrinha, porém, a história é outra.
“Ela está tirando nosso sono e gastando nosso dinheiro”, diz o produtor Silvio Wegener, de Rio Verde, em Goiás, que cultivou 900 hectares com o cereal. Ele afirma ter praticamente acabado com a praga, mas, para isso, teve que dobrar o número de aplicações de agroquímicos. “Ela voa longe e se reproduz muito rápido. E a doença só vai se manifestar quando o milho já está ‘pendoando’. No começo você não percebe estrago nenhum, nada”, conta o agricultor.
Se no começo não dá para enxergar o problema, depois, em compensação, eles ficam mais do que evidentes: as folhas vão avermelhando pelas margens, a planta não cresce e as espigas mal formam grãos, podendo ficar com menos de um terço do tamanho normal.
A pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, Elizabeth Sabato, explica que a cigarrinha se alimenta exclusivamente da seiva do milho, mas ela em si não causa danos diretos à planta. O inseto, na verdade, é um vetor, isto é, carrega bactérias que geram as doenças conhecidas como enfezamentos. “É como se fosse o mosquito da dengue”, diz ela, “o mosquito não provoca a doença, mas carrega o vírus que provoca.”
Prevenção
Significa que nem toda cigarrinha está infectada, por isso a pesquisadora não recomenda o aumento de aplicações de inseticidas na lavoura. O ideal, de acordo com ela, é a prevenção antes mesmo do início do plantio. “Não há uma medida que seja eficaz para controlar a doença isoladamente”, salienta. “Preconizamos que as sementes sejam tratadas e que eles evitem a semeadura em áreas próximas de uma lavoura que esteja infectada, porque senão pode pulverizar o quanto quiser que não vai adiantar”, complementa Elizabeth.
Utilizar variedades diferentes também é uma saída. Além disso, como a cigarrinha se alimenta de plantas jovens, o ideal é que não haja muita diferença em relação às épocas de plantio, para que os insetos não tenham força para atacar uma fatia considerável da lavoura. Quando há áreas muito próximas e em diferentes estágios de desenvolvimento, o “bando” vai trocando os talhões mais antigos pelos mais novos, pouco a pouco, potencializando os estragos.
“O produtor também tem que eliminar as ‘tigueras’, aquelas plantas que sobram da safra anterior e podem ser uma ilha para que as cigarrinhas cheguem às lavouras ao redor”, completa a pesquisadora da Embrapa. Acesse aqui uma cartilha produzida pela Embrapa, com mais informações sobre a praga e o manejo para evitar prejuízos.