Por que a alta do dólar impacta até o preço do pão no Brasil?
Ttrigo, fertilizantes e soja têm seus preços atrelados ao mercado internacional
O dólar encerrou a última quarta-feira (27) com a maior cotação nominal já registrada no Brasil, atingindo R$ 5,9124, ultrapassando o recorde anterior de R$ 5,9007, de maio de 2020. Essa forte valorização reflete o clima de incerteza no mercado financeiro, intensificado por recentes declarações do governo federal.
Entre os fatores que impulsionaram o movimento, está o anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a intenção de isentar o imposto de renda para rendas de até R$ 5 mil a partir de 2026, promessa que gerou dúvidas sobre como será compensada a perda de arrecadação.
A alta do dólar vai muito além dos impactos no turismo ou em investimentos internacionais. Segundo André Charone, mestre em negócios internacionais, o aumento da moeda americana afeta diretamente a inflação e o custo de vida no Brasil.
“O Brasil é dependente de insumos importados, como combustíveis, medicamentos e componentes industriais. Quando o dólar sobe, o custo desses itens também aumenta, pressionando a inflação e impactando desde o transporte público até o preço de produtos básicos, como alimentos”, explica Charone.
O consultor destaca que a alta dos combustíveis, cotados em dólar, afeta não só os motoristas, mas toda a cadeia de transporte e logística, refletindo no custo de distribuição de produtos essenciais.
Para Charone, um dos setores mais afetados é o de alimentos. Produtos como trigo, fertilizantes e soja têm seus preços atrelados ao mercado internacional, o que torna itens como pão, óleo e carne mais caros. “As classes mais vulneráveis são as que mais sofrem, pois grande parte de sua renda é destinada a produtos essenciais, como alimentos e transporte”, ressalta.
Outro grupo fortemente impactado é o dos micro e pequenos empresários. Charone explica que muitos dependem de insumos ou equipamentos importados e enfrentam dificuldades em manter os custos competitivos com a alta do dólar. “Isso pode levar ao repasse dos custos ao consumidor final, prejudicando ainda mais a economia doméstica.”
Charone reforça a necessidade de ampliar a compreensão sobre os efeitos do dólar. “Associar o impacto apenas ao turismo é uma visão limitada. A valorização do dólar afeta a competitividade das empresas, o orçamento familiar e até o crescimento econômico do país.”