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Pinhão-manso mostra potencial para controlar o pulgão-verde

Planta famosa por sua aplicação como biocombustível obteve bons resultados



Foto: Bruno Laviola

Jatropha curcas, espécie conhecida popularmente como pinhão-manso, mostrou bom potencial para controlar populações de pulgão-verde (Myzus persicae), em estudos realizados na Embrapa. Os cientistas registraram taxas de mortalidade média de 75% desses insetos com óleo de sementes de frutos secos. Com o óleo extraído de pinhões maduros, essa taxa ficou em 68%.

Os resultados abrem perspectivas para o desenvolvimento de bioprodutos que utilizem o pinhão-manso como matéria prima para o controle da pragas. Os dados foram obtidos após 72 horas da aplicação em laboratório e verificou-se que os efeitos são influenciados pelo estágio de maturação do fruto, a concentração do extrato e o tempo após a aplicação.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Jeanne Marinho Prado, a planta é amplamente encontrada em regiões tropicais e subtropicais e tem sido estudada principalmente por seu potencial para produção de biocombustíveis. Também é conhecida por suas substâncias bioativas, que podem ser tóxicas a diversos organismos, incluindo os insetos.

A cientista também explica que o óleo encontra-se ainda em fase de testes em laboratório, sendo necessários outros bioensaios com o objetivo de elucidar os princípios ativos envolvidos nessa ação inseticida dos óleos.

A pesquisa

Soluções em sete concentrações de extratos e óleos de diferentes estágios de maturação de frutos foram pulverizadas sobre discos foliares de repolho, e cada disco foi oferecido a dez indivíduos de pulgões em uma placa de Petri.

“Apenas nas concentrações de 0,0 e 2,0% de extrato e óleos do fruto não houve influência dos estágios de maturação sobre a mortalidade dos pulgões, em qualquer um dos períodos avaliados”, relata o professor responsável pela pesquisa, Anderson Mathias Holtz, do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES).

Entre os métodos utilizados para o controle de pulgões na agricultura, o químico ainda é o mais utilizado. No entanto, o seu uso intensivo – especialmente aqueles não registrados para uma determinada praga – pode selecionar indivíduos resistentes, bem como favorecer o surgimento de novas pragas, uma vez que a maioria desses produtos possui amplo espectro biológico e alto poder residual, que pode comprometer também a saúde de consumidores e profissionais envolvidos na produção. 

De forma geral, os bioprodutos apresentam menor atividade residual e baixa persistência no ambiente. Entretanto, antes de ser recomendado para utilização em campo, os óleos ainda precisam ser avaliados quanto a esses aspectos e em relação à ação sobre organismos não-alvo.

Prado conta que foi realizada somente a avaliação em laboratório de pinhão-manso em pulgões, por meio da pulverização das soluções sobre as folhas de repolho. Nesse trabalho nenhuma outra espécie de praga foi avaliada e nenhum teste foi realizado em campo. Atividades que devem ficar para futuras pesquisas.

Parte dos resultados foram publicados no artigo Insecticidal potential of physic nut fruits of different stages of maturation on Myzus persicae assinado pelos pesquisadores Anderson Mathias Holtz, Jeanne Scardini Marinho-Prado, Tatiane Pereira, Ana Mamedes Piffer, Mylena Gomes da Silva e Vergilio Borghi Neto.

Potencial do pinhão-manso

A eficácia de pinhão-manso para controle de insetos e ácaros provavelmente está relacionada à presença de compostos secundários, conhecidos por sua proteção contra ataque de pragas. Em trabalho avaliando o potencial inseticida do pó de sementes e folhas de pinhão manso sobre o caruncho-do-feijão, praga do grão armazenado, observou-se taxa de mortalidade dos insetos acima de 90% após 96 horas de avaliação em sementes de feijão na concentração de 15 g / 150 g (pó de Jatropha curcas/ massa de sementes).

Outra pesquisa observou alto teor de alcalóides e taninos, além de um baixo nível de flavonóides, saponinas e fenóis, no pó de sementes de pinhão manso, que reduziu significativamente a população do gorgulho Sitophilus zeamais, que ataca grãos de milho, trigo, arroz, além de diversas frutas. O potencial inseticida de óleo de pinhão-manso também já foi observado sobre o caruncho Callosobruchus maculatus, importante praga do feijão.

Além de promissor para o controle de besouros que atacam grãos, o óleo também já apresentou resultados animadores em avaliações contra o ácaro vermelho, que pode atacar seringueiras, algodoeiros, cafeeiros, frutíferas, entre outros, com toxicidade para ovos e adultos, além de repelência e deterrência à oviposição.

Em geral, sementes de pinhão-manso são tóxicas para humanos e animais, entretanto há trabalhos da Embrapa voltados à destoxificação da torta resultante da extração do óleo das sementes para uso na alimentação animal.

Subproduto da produção do biodiesel pode ser bioinseticida

Diversos estudos desenvolvidos no mundo relacionam a toxicidade de pinhão manso ao nível de ésteres de forbol presente na planta. O éster de forbol também pode ser obtido como co-produto da indústria de biodiesel de pinhão-manso e mostrou atividade  de redução da alimentação e de ser prejudicial ao desenvolvimento de lagartas em experimento realizado por cientistas da Alemanha e do México com a espécie Spodoptera frugiperda. De acordo com os autores do trabalho, considerando o rápido crescimento da indústria de biodiesel, grandes quantidades de ésteres de forbol poderiam ser obtidas e usadas para o controle de pragas.

O óleo obtido de frutos maduros e secos de pinhão-manso apresentaram maior eficiência em relação à ação inseticida de frutos verdes quando avaliado após 72 horas nas concentrações mais altas; assim, é possível que com um estágio avançado de maturação, haja um aumento na quantidade de compostos tóxicos responsáveis pela mortalidade observada na população de Mysus persicae.

Estudos relatam que a idade e o desenvolvimento da planta e de seus diversos órgãos são importantes e podem influenciar a quantidade total de metabólitos produzidos, bem como a proporção relativa dos componentes. Assim, pode haver diferenças na qualidade e quantidade de compostos tóxicos, como os ésteres de forbol, presentes nos frutos secos, maduros, e frutas verdes.

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