Os produtores de frutas do vale do submédio São Francisco pretendiam colocar seus produtos no promissor mercado asiático, a partir do último trimestre deste ano, utilizando o Aeroporto Internacional de Petrolina (PE), a 720 quilômetros do Recife. Para tornar viável o projeto, a Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) investiu R$ 10 milhões na ampliação da pista de pouso e na construção do mais moderno terminal frigorífico do sistema aeroportuário brasileiro.O pátio de manobras e estacionamento do aeroporto, entretanto, não tem capacidade para receber aeronaves pesadas como as que são utilizadas para a função e os percursos do projeto de exportação.
Pátio apertado
O pátio de manobras só pode receber aviões do porte do MD-11 e do Airbus A330, e a operação de exportação para a Ásia exigiria o emprego de Boeing 747. O vale do submédio São Francisco é responsável por cerca de 85% das exportações nacionais de mangas e 95% das exportações de uvas de mesa. Todas essas exportações são feitas, pelo menos na primeira parte do percurso, por rodovia, tanto que Petrolina jamais embarcou em avião um só quilo de fruta.
Investimento não recomendado
"O movimento atual de aeronaves não justifica um novo investimento. Além disso, não existe nenhuma solicitação de comprometimento de vinda de aeronaves do porte do Boeing 747", diz o superintendente do Aeroporto de Petrolina, Nilson Silva. Segundo ele, desde que o terminal recebeu os investimentos, em 1999, nunca foi realizada uma exportação de frutas pelo modal aéreo. O aeroporto possui uma pista com 3 mil metros de extensão que possibilita o pouso e a decolagem de aviões de qualquer porte.Sem a possibilidade de receber estes aviões, os produtores dizem que terão que procurar novas opções logísticas para alcançar o mercado asiático.
"Nós temos a carga, o mercado e, por isto, a possibilidade real de finalmente utilizar o terminal. Com a capacidade de receber aviões de grande porte e autonomia de vôo, portanto aptos a voar longos percursos diretos, nós ganhamos escala de exportação, o que é bom para todo mundo", diz Aristeu Chaves, presidente da Valexport, associação que congrega os produtores e exportadores da região. De acordo com Chaves, somente o pouso de cargueiros tipo 747 viabilizaria as exportações para o mercado asiático, em especial o Japão, a partir do município pernambucano.
Caso a melhoria no pátio não seja feita, a alternativa logística estudada é o emprego de aeronaves MD-11 ou Airbus. De acordo com a própria Infraero, neste caso, existem duas alternativas em estudos. Na primeira delas, os aviões fariam a rota Natal (RN), Petrolina, América do Norte e Japão. Na segunda alternativa, a rota seria Santiago do Chile, Petrolina, América do Norte e Japão.
Outra possibilidade avaliada pelos produtores é utilizar os porões de aviões de carreira que seguem para Los Angeles (EUA) e de lá realizar o transbordo com destino ao Japão. Finalmente, outra opção é o fretamento de aviões de retorno.
Os aparelhos cargueiros que vêm ao Brasil para deixar suas cargas pousariam em Petrolina quando da ocasião do retorno ao seu país de origem para embarcar as cargas de frutas. Em Los Angeles, elas seriam transbordadas para aeronaves com destino ao Japão.
Chaves diz que as exportações para o Japão só serão viabilizadas com o transporte aéreo, sendo necessário que a Infraero dote o terminal da infra-estrutura necessária para que a iniciativa privada possa gerar e atrair novos negócios.
Emprego improvisado
De acordo com o superintende da Infraero em Petrolina, o pátio do aeroporto local possui um total de 5.355 metros quadrados. Para receber Boeing 747 seria necessário ampliar essa área em pelo menos 50%. Silva diz que não existem estudos que recomendem este investimento.
Enquanto as exportações não as ocupam, as câmaras frigoríficas da Infraero, com capacidade para armazenar 100 mil caixas, estão sendo alugadas aos produtores locais como forma de reaver parte do investimento feito em 1999. Na época, dos cerca de R$ 10 milhões aplicados na melhoria do terminal, R$ 2,8 milhões foram destinados ao complexo de câmaras frigoríficas. São seis câmaras de armazenagem e duas de pré-refrigeração. Nilson Silva diz que a receita obtida com a estocagem doméstica é mais vantajosa do que seria a do produto destinado à exportação, gerando receita 100% maior (cerca de R$ 70 mil por mês). "A receita direta é maior porque não existem taxas e encargos de exportações. Mas isso é ruim, já que, desta forma, o terminal não cumpre a função original para a qual o foi criado", lamenta o superintendente