Pesquisa identifica oito espécies de abelhas-sem-ferrão
Dados levantados de 2021 a 2023 contribuem para a conservação da biodiversidade local

Um estudo conjunto realizado pela Embrapa Florestas, Itaipu Binacional, Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) revelou a presença de oito espécies de abelhas-sem-ferrão no Refúgio Biológico Bela Vista (RBV) da Itaipu Binacional, sendo uma delas inédita no Brasil. Segundo dados divulgados pela Embrapa, essas espécies são nativas do Paraná, de outras regiões do Brasil e de países da América do Sul. Conhecidas também como meliponíneos e abelhas nativas, desempenham um papel fundamental na polinização das plantas, contribuindo para a manutenção dos ecossistemas. Esses dados contribuem para a conservação da biodiversidade local, uma vez que apontam as espécies mais adaptadas à região, além de apoiar políticas públicas para a criação de abelhas nativas no estado.
O levantamento, realizado entre 2021 e 2023 como parte do projeto "Diagnóstico e conservação da fauna de Hymenoptera em áreas naturais da Itaipu Binacional, com ênfase em espécies da tribo Meliponini", estabeleceu protocolos para avaliação, identificação e registro das espécies de abelhas no Refúgio Biológico. Segundo Edson Zanlorensi, supervisor do projeto pela Itaipu, esse estudo permite considerações sobre a área e apoia iniciativas de conservação, especialmente no oeste do Paraná, onde se localiza o RBV.
Segundo Guilherme Schühli, pesquisador da Embrapa Florestas, responsável pelo projeto e sua composição, esse estudo pode permitir também que sejam feitas considerações sobre a área, e como repercutem as iniciativas de conservação para a região. “Além disso, o Paraná tem iniciativas pioneiras de políticas públicas para a criação de abelhas nativas e esse diagnóstico contribui com o direcionamento adequado dos esforços de conservação, em especial para o oeste do estado”, ressalta.
Para iniciar o levantamento, foi realizado um diagnóstico das espécies de abelhas-sem-ferrão presentes na área de aproximadamente 2 hectares do Refúgio, onde se encontra a Itaipu Binacional e o Refúgio Biológico Bela Vista. Essa região, localizada no oeste do Paraná, apresenta vegetações naturais e áreas de intervenção humana, como, por exemplo, de reflorestamento implantadas pela Embrapa Florestas, há 30 anos, onde também foram amostrados meliponíneos, conforme explica o pesquisador da Embrapa Florestas.
“Para a amostragem, foram desenhadas linhas, chamadas de transectos, onde coletamos insetos, em todas as estações do ano, buscando compreender todas as formações vegetais presentes na área de Itaipu e do RBV. Para garantir que estávamos abrangendo toda a diversidade de abelhas, houve coletas também fora dos transectos, quando se verificavam movimentos dos insetos, plantas em floração ou até mesmo relatos de funcionários sobre a presença delas”, conta Schühli. Redes de mão e iscas-ninho contendo uma mistura de cera de abelhas como atrativo foram usadas para atrair e capturar as abelhas na área desenhada da amostragem.
Além das coletas em campo, os pesquisadores também buscaram registros sobre abelhas-sem-ferrão em fontes bibliográficas internacionais e em coleções de insetos. “Fizemos um levantamento do histórico das abelhas que já foram coletadas na região, em outras iniciativas. No geral, coleções biológicas fazem o tombamento (registro de exemplares) de informações, o que possibilita verificar o que foi coletado de fato e que foi identificado por um especialista”, explica. O resultado desse levantamento foi a formação de duas coleções de abelhas-sem-ferrão: uma coleção viva, localizada no Refúgio Biológico Bela Vista, e uma coleção de referência, armazenada na coleção entomológica Danúncia Urban, da Unila, situada dentro do Parque Tecnológico de Itaipu.
Atualmente, mais de 100 colônias de abelhas estão instaladas na área do Refúgio Biológico Bela Vista. Esse acervo é fruto da aquisição de abelhas por parte da Itaipu e da divisão de colônias feita com a supervisão da Embrapa Florestas e pela equipe do projeto.
Diferente da apicultura, as caixas de abelha-sem-ferrão se mantêm ao longo de muitos anos, se bem manejadas. E a cada ciclo de produção, elas cedem colônias para o ambiente. “Por isso foi fundamental sabermos quais espécies eram pertinentes para aquele espaço, evitando trazer de fora, que podem contaminar a área. O Projeto sugere que uma das alternativas de encaminhamento para o excedente de caixas pode ser a cessão para uma associação de meliponicultores local, podendo também ser direcionado, por exemplo, como subsídio para ações de programas como o Poliniza Paraná, que instala abelhas-sem-ferrão em praças e escolas. Tivemos um grande número de capturas dentro dos nossos ninhos-iscas, como, por exemplo, das abelhas Borá. Insetos dessa espécie podem contribuir muito com esse tipo de programa, uma vez que têm um interesse produtivo para o mel, um produto que chega a alcançar um preço de venda de cinco a dez vezes maior que o do mel tradicional das abelhas Apis”, conta o pesquisador da Embrapa Florestas.
A pesquisa também estabeleceu protocolos de manejo dos meliponíneos e desenvolveu um módulo protetor de caixas para proteger as colônias de predadores. Segundo Schühli, essa iniciativa não só contribui para a conservação das espécies, mas também beneficia as comunidades locais, promovendo a biodiversidade na região.
Confira a lista de espécies de abelhas identificadas:
- Borá (Tetragona clavipes)
- Jataí (Tetragonisca fiebrigi)
- Guiruçu (Schwarziana quadripunctata)
- Canudo (Scaptotrigona depilis)
- Arapuá (Trigona spinipes)
- Mirim Droryana (Plebia droryana)
- Mirim Nigriceps (Plebeia nigriceps)
- Abelha Limão (Lestrimelitta chacoana), registrada pela primeira vez no Brasil.