Perdas no agro são bilionárias, diz consultoria
As perdas totais no campo podem alcançar até R$ 7,5 bilhões
O Rio Grande do Sul enfrenta uma das piores crises climáticas de sua história. Nas últimas semanas, chuvas torrenciais e enchentes elevaram o nível do Rio Guaíba a 5,35 metros, superando o recorde estabelecido em 1941. As precipitações, que chegaram a volumes de até 700mm, têm causado danos devastadores ao estado, especialmente no setor do agronegócio.
De acordo com o boletim da Céleres®, a cadeia produtiva do agronegócio foi profundamente afetada, desde os distribuidores de insumos até os armazéns, produtores e indústrias. O Rio Grande do Sul, responsável por 14% da área total de soja, 19% da área de milho verão e 60% da área total de arroz no Brasil, viu suas colheitas serem severamente impactadas pelas enchentes. A situação das colheitas no estado antes da intensificação das enchentes era a seguinte: 76% da área de soja, 82% de milho verão e 75% de arroz já haviam sido colhidas. Entretanto, as estimativas da Céleres® apontam perdas significativas no campo: 1,8 milhão de toneladas de soja (35% do remanescente), 189 mil toneladas de milho (21% do remanescente) e 580 mil toneladas de arroz (32% do remanescente). Estas perdas representam 8,4% da produção total de soja do estado (1,2% da produção nacional), 3,8% da produção estadual de milho (0,7% da produção nacional) e 8,2% da produção estadual de arroz (5,5% da produção nacional).
Financeiramente, as perdas totais no campo podem alcançar até R$ 7,5 bilhões, com uma estimativa conservadora situando-as em torno de R$ 5,6 bilhões. Este valor corresponde a 7,6% do valor bruto da produção agrícola do estado, estimado em aproximadamente R$ 74 bilhões. Especificamente, as perdas de soja são estimadas em R$ 4,1 bilhões, representando 10% do valor bruto da produção de soja do estado. As perdas de milho somam R$ 172 milhões (4% do valor bruto da produção de milho) e as de arroz, R$ 1,2 bilhão (8% do valor bruto da produção de arroz).
Com os impactos isolados da crise no Rio Grande do Sul, a produção de soja no Brasil deve cair de 150,3 milhões de toneladas para 148,4 milhões de toneladas. Essas estimativas consideram apenas as perdas em lavouras, uma vez que as perdas em armazéns ainda não têm evidências sólidas.
Apesar dos graves prejuízos locais, o mercado global de commodities agrícolas apresenta alguns desenvolvimentos importantes. Nos Estados Unidos, a produção de soja deve aumentar significativamente devido à expansão da área plantada em cerca de 1,3 milhão de hectares (+4%). Este aumento, conforme o USDA, pode resultar em um superávit de soja, pressionando os preços internacionais nos próximos meses. Contudo, o atual cenário de preços em Chicago oferece uma oportunidade para os produtores brasileiros de soja negociarem seus estoques a valores favoráveis, melhores do que estavam há 30 ou 60 dias, e possivelmente melhores do que os esperados na entrada da safra norte-americana.