Europeus acreditam que o Brasil tende a plantar transgênicos. De passagem pelo País rumo a um congresso na Argentina, especialistas na área afirmaram que o preço regulará o mercado e que, por isso, o Brasil deverá vir a cultivar organismos geneticamente modificados (OGMs). "A ambigüidade não pode durar muito tempo para um país da dimensão do Brasil", posiciona-se o senador Jean Bizet, presidente da Comissão de Biotecnologia do Senado francês frente ao fato de o Brasil ainda não ter uma legislação sobre o assunto.
Qualquer produto
Ele diz que, com a queda da moratória no final do ano, a União Européia passará a consumir qualquer produto – tanto OGM quanto não transgênico, desde que os primeiros tenham rotulagem.
Além disso, a nova legislação do bloco não permite que produtos livres de transgenia tenham esta inscrição no rótulo, apenas em caso de presença superior ao índice de 0,9%, nem de animais alimentados com transgênicos.
Para Bizet, o fato de o Brasil produzir ou não OGMs não será obstáculo para a entrada dos produtos na Europa. No entanto, ele ressalta que quem decidirá será o consumidor, que hoje não está disposto a pagar mais por não-transgênicos. "O produto não-transgênico vai ser obrigatoriamente mais caro e o argumento preço, determinante. Após o período de incerteza sobre os transgênicos, o consumidor vai acabar escolhendo o preço menor", conclui. O senador também acredita que seja difícil para os exportadores cumprir a rastreabilidade e o rigor quando à taxa de transgenia. "O europeu é um cidadão que discute transgênicos, mas é um consumidor quando compra. Ele vai decidir pelo custo", diz David Green, consultor da Greenhouse. Segundo Green, pesquisas de opinião nos Países Baixos apontavam que 100% dos consumidores não queriam transgênicos.
Altos custos
Hoje, o índice é de 75%. Além disso, ele ressalta que 90% da soja importada pela Europa é destinada ao consumo animal, que não levará rotulagem. O consultor acredita que o Brasil cultivará transgênicos sob o argumento dos custos de proodução reduzidos. Jean Bizet acredita que sempre haverá mercado para produtos não-transgênicos, mas que, ao longo do tempo, isso será apenas um nicho.
"O mercado de nicho é como o de orgânicos, existe para consumidores que querem pagar mais", diz Green. No entanto, ele acredita que o prêmio pago hoje ao sojicultor não estimularia o plantio de não transgênico.
Segundo ele, o valor pago a mais varia, atualmente, entre US$ 5 e US$ 20 por tonelada. O consultor diz ainda que, no início de 2002, este prêmio era de US$ 30, na Inglaterra e hoje chega a US$ 6 por tonelada. Bizet acrescenta que além do custo de produção, deverá haver ainda o da rotulagem, que encarecerá o preço final do produto. "Se eu fosse brasileiro, logicamente produziria transgênicos", afirma ele.