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O que reservam ao Brasil os bioinsumos?

Programa Nacional, lançado nesta semana, foca no grande potencial dos biológicos na agricultura brasileira



Foto: Pixabay

Há quem diga que o Brasil é o melhor país do mundo. Não dá para questionar quando o tema é agricultura: temos solos favoráveis, clima, água, tecnologia, produtores fortes, referência mundial em diversos produtos, desde a soja até a proteína animal, celulose, mel e até frutos nativos como a castanha, e, mais do que isso, uma biodiversidade invejável. Agora o país dá mais um passo: “entra, oficialmente, na bioeconomia”. As palavras da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, no lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos na última quarta-feira (27), evidenciam a importância que a natureza e a sustentabilidade ganharam nos últimos anos.

O reflexo desse mercado é um crescimento expressivo do uso de produtos biológicos na agricultura, pecuária, floresta e aquicultura. O Brasil aprovou o registro de 474 agrotóxicos em 2019. Nos biológicos o país tem um total de 265 registros. Pouco? Não. Enquanto o mercado mundial cresce 9% ao ano, o brasileiro, 15%. Em 2016 o professor da ESALQ, José Roberto Parra, apontou os custos de desenvolvimento de três segmentos: químicos US$ 250 milhões; transgênicos US$ 125 milhões; e biológicos de US$ 2 a 10 milhões. 

>> Veja na reportagem em vídeo ao final deste texto o que são biodefensivos e os benefícios de uso na agricultura <<

Menos impactos, mais economia

O Programa Nacional de Bioinsumos, conforme mostramos em outra reportagem, busca fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de novas soluções que usem componentes naturais para muitas culturas. Já era uma demanda antiga dos produtores de orgânicos mas chega para atender toda a cadeia. 

Um dos diretores do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS), entidade que trabalha por uma agricultura menos dependente de químicos, Eduardo de Souza Martins, ressalta que os bioinsumos quando produzidos on farm (dentro da fazenda) têm custos muito baixos, representando economia significativa de 30 a 60% em relação a fungicidas e inseticidas. “Além disso você deixa de colocar no solo moléculas que geram outros impactos. O fungicida, por exemplo, atrapalha os fungos do solo quando aplicado direcionado para controlar doenças a folha. Isso impacta não só na fertilidade mas reduz fatores que têm importância para o meio ambiente”, comenta.

Martins acredita que a iniciativa do Mapa é muito positiva em um momento em que nunca se falou tanto em sustentabilidade. Esse programa também valorizou o produtor, na opinião do técnico. “Todos os dias o produtor é abordado por diversas soluções e nem sempre acha a solução correta. Quando você fala em uma lavoura infestada de nematóides, por exemplo. As populações que atacam a planta são resultado de manejos errados, falta de diversidade biológica no solo derivado da compactação e falta de rotação. O produtor compra um monte de produtos, mas antes disso deveria pensar em manejo. Com esse programa nossa agricultura vira de processo, respeitando cada região, sendo rentável com insumos que estão disponíveis na biodiversidade local”, acredita.

Resultados na lavoura animam

A primeira forma de controle biológico relatada remonta ao século III antes de Cristo, na China. No Brasil o primeiro inseto introduzido para controle biológico foi em 1921, com o Encarsia berlesei, contra a cochonilha-branca do pessegueiro. 

Hoje já há sucesso com muitos outros exemplos. O professor do Centro Universitário Moura Lacerda, Alexandre Pinto, explica que uma pesquisa com sementes de soja tratadas com os fungos B. bassiana, Metarhzium anisopliae e Isaria fumosorosea, reduziu em 60% a incidência da falsa-medideira, 30% de Helicoverpa armigera e 60% de mosca-branca na parte aérea, além da redução de 50% no consumo das folhas pelas pragas. Resultados semelhantes foram obtidos com hortaliças e feijoeiro. “A planta com sementes tratadas com qualquer desses microrganismos produz tanta peroxidase, que fica impalatável a essas pragas”, informa.

Outro exemplo é uma proteína hidrolisada secretada por bactérias fitopatogênicas de ocorrência natural no meio ambiente, que traz resultados para cana-de-açúcar. Em experimentos de lavouras da Coplacana, de Piracicaba (SP), ela aumentou a produtividade em até 23% em tonelada de cana e de açúcar por hectare. O promotor de crescimento foi lançado em 2016 no mercado brasileiro, pela empresa Plant Health Care, com escritório em São Paulo (SP) e fábrica nos Estados Unidos. Veja a diferença na foto:

Rodrigo de Miranda, engenheiro agrônomo e diretor da empresa, acredita que a chegada dos biológicos na agricultura é uma evolução natural para enfrentar a resistência de pragas e doenças ao manejo tradicional e também para atender à crescente demanda dos consumidores, focados em alimentos produzidos de maneira cada vez mais natural.

Além da cana-de-açúcar há trabalhos de pesquisa em outras culturas  utilizando o produto, como café, soja, milho, batata, tomate, alface, laranja, pêssego, quiabo, mandioca, batata-doce e pastagem. "Temos que incentivar o desenvolvimento de tecnologias, utilizando a diversidade natural e o potencial tecnológico de nosso país. Não substituímos os químicos diretamente, mas o uso de nossa tecnologia permite que a planta utilize mais eficientemente os insumos químicos que são fornecidos”, destaca Miranda.

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