O que esperar da soja em 2018?
"Um fator baixista e pelo menos três fatores altistas"
“O ano começa com um fator baixista e pelo menos três fatores altistas, o que nos leva a ser otimistas (mas não muito) quanto aos preços da soja para 2018”. A projeção é do analista da T&F Consultoria Agroeconômica, Luiz Fernando Pacheco.
O fator baixista, segundo ele, diz respeito aos estoques mundiais, que passaram de 77,92 milhões de toneladas na safra 2015/16, para 96,62 MT na safra 2016/17, um aumento considerável de 24% e para uma projeção de 98,32MT em 2017/18, mais 1,76%. Estes estoques se concentram principalmente no Brasil (18,20MT, 24,86MT e 22,26MT, respectivamente, segundo o USDA) e na Argentina (31,7MT, 36,42MT e 37,17MT, respectivamente).
“O estoque brasileiro teve uma leve queda nesta temporada, porque a demanda por soja do país por parte da China aumentou inusitadamente, durante um período fora do costumeiro [agosto-dezembro] mais do que o esperado. Os estoques americanos também aumentaram no período, mas são bem menores (5,35MT, 8,20MT e 12,12MT, respectivamente, segundo o USDA). Além disso, as vendas do grão no Brasil estão atrasadas (não precificadas): há 30 dias eram de apenas 26,7%, contra 28% no ano anterior, 46% em 2015 e 33% da média dos últimos 5 anos”, afirma.
De acordo com Pacheco, os fatores altistas são três:
1º) A dinâmica climática que tem sido presenciada na América do Sul e a grande possibilidade de uma intensificação da interferência de um La Niña na Argentina e Sul do Brasil, reduzindo a produção esperada, é o primeiro e principal deles. Por enquanto, nenhuma perda de produção por conta de intempéries climáticas já foi contabilizada, mas, o cenário é delicado e sensível à qualquer variação meteorológica. Rodadas extras de chuvas ainda são necessárias para a Argentina, as melhores chances de precipitações são previstas para os próximos 3 dias. Este fator é sobremaneira importante porque afetaria o fornecimento e soja em grão de dois dos três maiores exportadores mundiais (Brasil e Argentina) e de farelo e óleo (Argentina), principalmente para a China, cuja indústria de carnes aumentou a demanda nesta temporada;
2º) No mercado interno brasileiro, a antecipação do B10 – mistura de 10% de biodiesel no diesel mineral – para março de 2018, o que demandará mais de 3,5 milhões de toneladas de soja para a obtenção de 700 mil t de óleo. Desse processamento resultarão 2,8 milhões de t de farelo proteico;
3º) O comportamento do dólar no Brasil em 2018 deverá ser extremamente errático e para cima, com as oscilações provenientes das negociações sobre a Reforma da Previdência, no primeiro trimestre e, depois, com os humores da disputa eleitoral, no segundo e terceiro trimestres. Os agricultores deverão estar atentos para aproveitar os picos que o dólar oferecer, pois não serão altas contínuas, mas muitos altos e baixos no decorrer do período. A recuperação da economia brasileira é outro fator de alta do dólar internamente. Do ponto de vista externo, a redução de impostos nos EUA deverá fortalecer o dólar a nível mundial, jogando contra as altas internas no Brasil.