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O gargalo do leite

Produtores pedem menos tributação para seguir na atividade



Que os produtores de leite não vivem um bom cenário há tempo já não é novidade. Um levantamento feito pela Embrapa Gado de leite no ano passado dizia que a cada 24 horas, cerca de 45 produtores de leite abandonam a atividade no Brasil. Entre os principais motivos o baixo preço pago pelo litro, os custos de produção maiores do que em países diretamente concorrentes como Argentina e Uruguai e a tributação.

Lideranças do setor lácteo entregaram à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, um ofício que pede ajustes no Programa de Escoamento da Produção (PEP). O objetivo é incluir a comercialização de leite UHT e derivados, já que hoje existe somente para leite cru. O presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat/RS), Alexandre Guerra, ressalta que muitos produtores e indústrias estão em situação crítica. A entidade também pediu a compra imediata de 30 mil toneladas de leite em pó e de 200 milhões de litros de leite UHT, para diminuir a oferta.  “Precisamos de políticas estruturantes de fomento e assistência técnica para ampliar ainda mais a sanidade de nossos rebanhos e a qualidade do leite produzido", defendeu.

A Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Apil/RS), entende que a tributação é um dos principais obstáculos mesmo que o Brasil tenha potencial para ser um grande exportador graças à extensão territorial, clima, genética e sanidade do rebanho. O presidente da Apil, Wlademir Dall’Bosco, diz que há produto e qualidade mas não há preço competitivo para exportar. Ele explica que um leite em pó integral na China tem que chegar a U$S 3 mil/tonelada. Com o custo de produção, transformação, com logística, embarque no Brasil não é possível produzir a esse custo. “Uruguai e Argentina, por exemplo, tem custo até 12% menor que o brasileiro. Eles são mais competitivos. Para reduzir custo temos que reduzir preços de insumos, ração, semente, logística, que são altamente tributados, reduzir tributos na produção e passar ao consumidor. Um trator produzido no Rio Grande do Sul vai para argentina 40% mais barato que no mercado interno. Nós estamos pagando essa conta” desabafa.

Programa Leite Seguro

Durante a 42ª Expointer, em Esteio (RS), foi lançado o Programa Leite Seguro, que pretende beneficiar toda a cadeia láctea do Rio Grande do Sul. Desenvolvido pelo Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do estado (LFDA-RS), em parceria com a Embrapa Clima Temperado, o projeto obteve financiamento de R$ 30,5 milhões, por meio de edital do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, e vai atuar em diferentes linhas.

Uma delas será junto aos produtores, com o desenvolvimento de ferramentas e diagnósticos que melhorem a gestão dentro das propriedades. Também serão realizadas atividades de divulgação e transferência de conhecimento ao produtor e de informação e esclarecimentos à população.

No nível laboratorial, o projeto vai buscar a introdução de metodologias mais rápidas e sensíveis que identifiquem fatores de qualidade e segurança dos produtos, como aqueles para a detecção rápida de fraudes.

Para complementar, o Leite Seguro vai atuar na estruturação de ferramentas de tecnologia da informação (TI) que permitam a compilação, monitoramento e tratamento de dados de produção gerados, para subsidiar tomada de decisão pelos gestores, em alinhamento com as políticas já estabelecidas pelo ministério.
“Como ponto central, está o consumidor. Pretendemos tornar o consumidor mais consciente e ele ser um dos promotores da qualidade também. Um consumidor mais consciente vai demandar produtos mais qualificados”, afirma Fabiano Barreto, coordenador do LFDA-RS.

A previsão é que o projeto comece a ser executado em setembro e continue a ser realizado nos próximos 36 meses. 

Abertura mercado chinês

Em julho o governo chinês habilitou 24 estabelecimentos brasileiros a exportar produtos lácteos como leite em pó, queijos, manteiga e leite condensado. Desde 2007, já havia certificação acordada com o país asiático, mas nenhuma planta brasileira estava habilitada a exportar. Os chineses são os maiores importadores do mundo de lácteos. Somente de leite em pó, o país compra 800 mil toneladas por ano, 200 mil toneladas a mais em comparação à produção do Brasil. Com a abertura do mercado chinês, a Viva Lácteos - Associação Brasileira de Laticínios estima exportar US$ 4,5 milhões em produtos.

Veja na reportagem em vídeo o que o produtor está pensando sobre o assunto:

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