Nova variedade de cana tem resistência à broca e glifosato
Cultivar geneticamente modificada foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com startup
As novas variedades de cana-de-açúcar são resistentes até quatro vezes a dosagem comercial do herbicida glifosato e à infestação com larvas da broca-da-cana em testes realizados em casas de vegetação. As variedades geneticamente modificadas da cana BtRR combinam dois genes de resistência com modos de ação diferentes que ampliam a proteção. O projeto foi desenvolvida pela Embrapa Agroenergia (DF) em parceria com a startup paulista PangeiaBiotech.
Essa “dupla transgenia” otimiza o controle da broca-da-cana, feito por meio de inseticidas químicos e controle biológico. “O grande diferencial dessa tecnologia é a expressão de duas proteínas bioinseticidas em toda a extensão da planta, tóxicas para insetos suscetíveis, porém inócuas para outros organismos. Dois modos de ação aumentam a vida útil da tecnologia”, explica o pesquisador da Embrapa Agroenergia Hugo Molinari, líder do projeto. “Aliado a isso, a resistência ao herbicida facilita o manejo de plantas daninhas no campo”, completa.
Atualmente não há proteção no território brasileiro para a exploração comercial da cana BtRR. O mercado dispõe de duas variedades de cana-de-açúcar transgênicas, desenvolvidas pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) para resistência a broca-da-cana, porém, com apenas uma proteína Cry e sem resistência ao herbicida glifosato.
Economia na atividade
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e a economia em aplicações de defensivos é significativa com a nova variedade.
Os prejuízos por ervas daninhas chegam até 85% sobre as soqueiras e até 100% sobre a cana-de-açúcar. Quando estabelecidas nos canaviais, elas interferem em seu desenvolvimento e reduzem a produtividade agrícola, principalmente devido à elevada capacidade de competição por nutrientes, água e luz e produção de substâncias tóxicas que dificultam a formação de pelos absorventes nas raízes da cultura.
Já a broca-da-cana (Diatraeasaccharalis) é atualmente a principal praga da cana-de-açúcar. A lagarta jovem alimenta-se da folha para depois penetrar as partes mais moles do colmo formando galerias que provocam grandes perdas de biomassa. Estudos apontam que sua incidência e dispersão vêm crescendo junto com a colheita mecanizada crua e com o aumento da palhada nas lavouras de cana, causando prejuízos estimados da ordem de R$ 5 bilhões por ano-safra, ou R$ 2 mil reais por hectares.
Chegada ao mercado
Agora as duas desenvolvedoras buscam empresas parceiras para colocar a variedade no mercado. Os pesquisadores procuram interessados no licenciamento da tecnologia para inserção do ativo em outras variedades comerciais já existentes, ou para o codesenvolvimento para as etapas de desregulamentação de eventos transgênicos, o que inclui a realização de ensaios de biossegurança para organismos geneticamente modificados, etapa obrigatória antes do lançamento comercial da variedade.