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Nova crise de grande impacto no mercado mundial do arroz?

Em julho e no início de agosto, os preços mundiais do arroz atingiram níveis nunca vistos em 15 anos



Foto: Divulgação

Em julho e no início de agosto, os preços mundiais do arroz atingiram níveis nunca vistos em 15 anos. A decisão da Índia de proibir as exportações de arroz não- basmati desencadeou uma onda de pânico e gera incertezas sobre a capacidade de oferta global de arroz nos próximos meses. Alguns analistas até falam de um possível caos comparável à crise de 2008, dado o papel importante que a Índia desempenha hoje no mercado mundial. O ponto de inflexão pode ser uma situação em que os preços mundiais fossem tão voláteis que os importadores procurassem arroz massivamente, enquanto os exportadores podem limitar os contratos por receio de ter que se abastecer nos mercados domésticos a preços mais altos do que os preços acordados com seus clientes.

Esse foi o clima especulativo que vimos em 2008. Além disso, está o risco de El Niño em 2023 que poderia desestabilizar e agravar ainda mais o esquema atual. Mas o mais grave nunca é garantido. Três fatores poderiam evitar ou atenuar esse cenário catastrófico. Os estoques globais de arroz são abundantes, 150% maiores do que em 2008 (excluindo os estoques chineses), e os estoques dos países exportadores são duas vezes maiores (embora o comércio mundial tenha aumentado 80% desde 2008). Para Tailândia e Vietnã, o segundo e o terceiro maiores exportadores do mundo, respectivamente, seria uma grande oportunidade. Eles já estão planejando aumentar suas exportações em 2023, compensando boa parte das restrições da Índia.

Por sua vez, o Paquistão voltará este ano aos níveis normais de produção e também espera aumentar sua oferta de exportação. Por fim, a Índia já anunciou que poderá relaxar suas medidas restritivas em favor de países cuja segurança alimentar dependeria em grande parte do arroz indiano. Essa é uma opção que poderia se repetir, seguindo a flexibilização nas restrições às exportações de arroz quebrado indiano, adotadas em setembro de 2022, atingindo assim um novo recorde de exportações em 2022. Em última análise, a amplitude da crise atual dependerá da postura adotada pelos países exportadores e importadores nas próximas semanas. Após das reações preventivas iniciais, os atores podem se lembrar de que as crises no mercado do arroz raramente duram muito tempo e que ajustes de preços (para baixo) podem ser igualmente brutais. Entretanto, é provável que os preços de exportação permaneçam firmes nas próximas semanas, até que as novas safras asiáticas comecem a chegar durante o último trimestre de 2023.

Em julho, o índice OSIRIZ/InfoArroz (IPO) aumentou drasticamente em 15,6 pontos para 253,3 pontos (base 100=janeiro de 2000), contra 237,7 pontos em junho. Meados de agosto, o índice IPO permanecia firme em 276 pontos

Produção mundial

De acordo com as últimas estimativas da FAO, a produção mundial de arroz em 2022 caiu 1,6%, para 779,4 Mt (517,6 Mt base benediciado), contra 792,1 Mt em 2021. As regiões do sul da Ásia foram afetadas por más condições climáticas, especialmente no Paquistão, onde as colheitas caíram 30%. Em 2023, as estimativas atuais apontam um aumento da produção global de 1,5% para 788,7 Mt, apesar do retorno do fenômeno climático El Niño. A recuperação da produção paquistanesa e a estabilidade da produção chinesa devem compensar  as  reduções  previstas  na  Índia  e  na Tailândia. Nos Estados Unidos, a produção também deve se recuperar, voltando a ficar acima de seu nível de 2021.

Comércio e estoques mundiais

Em 2022, o comércio mundial de arroz aumentou 7,5%, atingindo um recorde de 56 Mt, já 11% da produção global. Em 2023, as expectativas marcam uma diminuição de 5%, para 53 Mt, em parte por causa ao declínio na produção mundial em 2022 nas regiões excedentárias da Ásia. É provável que esta tendência seja agravada pela proibição da Índia de exportar arroz não-basmati, que representa um quarto das exportações indianas e 11% das exportações mundiais. Se essa proibição for prolongada, muitos países importadores, especialmente na África Subsaariana, provavelmente tenham que reduzir o consumo  de  arroz.  As  projeções  iniciais  para  o comércio mundial em 2024 apontam para uma queda adicional para 52,5 Mt. No entanto, parte da redução das exportações indianas será compensada pelas exportações da Tailândia e do Vietnã, onde os suprimentos exportáveis são satisfatórios.

Os estoques mundiais de arroz terminando no final de 2022 teriam aumentado em 1% para 197 Mt contra 195 Mt em 2021. Isto representa 38% das necessidades de consumo global e permanecem acima da média dos últimos cinco anos. A queda de 2% nas reservas chinesas foi amplamente compensada pelo aumento das reservas indianas de 16% em 2022. Entretanto, as reservas chinesas permanecem abundantes, equivalentes a 70% do consumo interno e 50% dos estoques mundiais. Nos principais países exportadores, os estoques aumentaram 17% em 2022 para 58 Mt, já 30% dos estoques mundiais. Em 2023, espera-se que os estoques mundiais diminuam 1%, para 195,1 Mt, devido à possível queda na produção mundial em 2022/2023 e redução na demanda de importação após o recente aumento dos preços mundiais.
 

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