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Modernização dos acordos entre Brasil e México busca aumentar comércio bilateral

Fórum Empresarial México – Brasil reuniu representantes dos setores público e privado



Foto: Pixabay

Promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), pelo Conselho Empresarial Mexicano de Comércio Exterior (Comce), com apoio do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Fórum Empresarial México – Brasil ocorreu nesta segunda-feira (30/10), na Cidade do México, com presença presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente da Agência, Jorge Viana, e mais de 400 empresários de ambos os países. Após a cerimônia de abertura, o evento contou com cinco painéis que, ao longo do dia, reuniram especialistas e profissionais dos setores público e privado dos dois países para discutir o cenário, caminhos e o futuro das relações comerciais bilaterais.

Modernização dos acordos 

Com moderação da ministra-conselheira representante suplente do Brasil na Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) e no Mercosul, Ivana Gurgel, o primeiro painel teve a participação da diretora de Negócios ApexBrasil, Ana Paula Repezza, que apresentou um panorama do comércio entre Brasil e México e lembrou que os acordo vigentes foram negociados há mais de 20 anos, quando o comércio mundial era bem diferente. “O mundo mudou, a dinâmica do comércio global mudou, as economias mudaram. Apesar do dinamismo e desta trajetória ascendente, a integração ainda é limitada”, disse a diretora.

Repezza também destacou o recorde histórico do fluxo comercial entre os dois países, que ultrapassou US$ 14 bilhões em 2023, e reafirmou o propósito da ApexBrasil de conectar empresas e compradores, promover encontros, missões empresariais, apresentar e fomentar oportunidades de negócios. Para ela, além dos valores, é importante frisar a qualidade desta corrente comercial descentralizada, que vai além da indústria de automóveis e inclui toda a cadeia de autopeças, além de setores da indústria da transformação, móveis, moda, calcados, têxteis. “São setores relevantes para a geração de emprego e renda e este comércio bilateral tem impactos positivos para os dois países”.

No mesmo painel, o diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI), Rafael Lucchesi, detalhou como as mudanças climáticas impõem desafios e vão nortear futuros acordos. “O mundo vai viver, nos próximos anos, considerando as emergências climáticas, uma transição energética rápida e a descarbonização das economias”, afirmou. Segundo ele, este cenário vai criar uma enorme abertura de possiblidades de negócios para pensar em acordos mais abrangentes, inclusive com mútuo conhecimento de certificados e supressão de barreiras comerciais que podem travar negócios. “A aproximação entre Brasil e México tem não apenas uma importância comercial, mas fundamentalmente uma importância estratégica”, finalizou.

As múltiplas possibilidades de comércio entre os dois gigantes da América Latina e a importância da modernização dos acordos comerciais foram destacadas também pelo presidente do Comitê Empresarial Bilateral México Brasil (Comce), Lic. Enrique Gonzalez Calvillo. “Os acordos precisam contemplar soluções para proteger investimentos mexicanos no Brasil e investimentos brasileiros no México”.

Para o diretor do Departamento para o Mercosul do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Francisco Cannabrava, as duas maiores economias da América Latina têm todos os atributos para um acordo de livre comércio.  Ao defender a atualização dos acordos bilaterais, o diplomata usou a metáfora de que os acordos firmados entre México e Brasil, há mais de 20 anos, são como uma criança que cresceu e hoje não cabe mais nas roupas usadas no passado. Segundo ele, há um grau de complementariedade entre as economias brasileira e mexicana e é possível trabalhar de forma realista. “É preciso atualizar, reforçar e expandir nossas relações bilaterais. Recentemente avançamos em outros acordos e aqui também temos que avançar”, defendeu.

De acordo com a diretora geral do Instituto Mexicano para la Competitividade, Valeria Moy, há um ambiente de cooperação mútua que favorece os avanços, mesmo que neste momento não haja a efetivação de um acordo de livre comércio entre México e Brasil. “O objetivo é ambicioso e devemos fazer hoje com o que temos e ir paralelamente avançando”, ponderou.

Visão do empresariado 

Desafios e expectativas dos investimentos mexicanos e brasileiros na visão de empresários dos dois países foram temas centrais de um dos painéis do Fórum. Na ocasião, CEOs e diretores do Banco da Amazônia, Braskem Idesa, Bradescard, Pilgrim's Mexico, Nubank, America Movil, Oxxo, Terminal Química Puerto México, Bimbo falaram sobre novos negócios em áreas como agroindústria, manufatura, finanças, serviços, além do acesso a novos mercados. “É uma oportunidade única para gerar sinergias, melhorar condições regulatórias e fiscais”, destacou a moderadora, diretora geral do Comité Empresarial Bilateral México Brasil (COMCE), Susana Duque.

Entre as oportunidades identificadas pelos participantes, destaque para a área digital, com foco na digitalização bancárias e nas operações financeiras, respeitando as diferenças e as semelhanças entre os consumidores brasileiros e os consumidores mexicanos. Outro setor mencionado é o do agronegócio, com destaque para proteína animal e alimentos preparados. Há investimentos brasileiros em regiões do México com abertura de postos de trabalho que geram renda e giram a economia local.

Entre os desafios citados, está a necessidade de projetos e investimentos que respeitem os critérios de sustentabilidade. O foco é conhecer as facilidades oferecidas para os empresários que tenham interesse em investir na região amazônica.

Oportunidades para os dois lados 

O gerente de Agronegócio da ApexBrasil, André Muller, abriu o painel  “Segurança alimentar e o controle da inflação” chamando atenção sobre a importância do componente de política econômica dentro da questão da segurança alimentar. “Brasil e México são grandes produtores e grandes consumidores de alimentos e, juntos, estes países vão impactar a segurança alimentar”.

Laudemir citou o exemplo do “Paquete contra la inflación y la carestia” (PACIC - Pacote contra a inflação e a carestia), implementado pelo México, que deu isenção de imposto de importação para itens da cesta básica como carnes de aves, suína e bovina, milho, arroz e ovos. A medida possibilitou o aumento do volume de exportação do setor do agronegócio do Brasil para o México - que girava em torno de US$ 1 bilhão, passando para US$ 3 bilhões e devendo chegar a US$ 4 bilhões neste ano. Do lado mexicano, a inflação que era de 13% caiu para 6%. No segmento do agronegócio, o Brasil passou então a ser o segundo parceiro comercial do México. Os participantes do painel seguiram o debate sobre a renovação das ações do PACIC e a necessidade de ter garantias de reciprocidade comercial com os acordos.

De acordo com a gerente de Exportação da Expoente Agronegócios, Carolina Machado, na produção de arroz o PACIC foi fundamental para o forte aumento das exportações, passando de 32 mil toneladas para 450 mil. Em sua fala, Machado assegurou que o aumento das exportações não impacta a demanda interna. “Temos segurança para o nosso país e podemos atender o mercado mexicano sem interferir no mercado interno”.

Bastante consumido nos dois países, o feijão, que não é considerado um produto tão nobre quanto as proteínas animais, tem espaço para ampliar a comercialização de diferentes tipos de grãos. No caso da proteína animal, em especial a de frango, a abertura e diversificação comercial são boas notícias para todos: produtores, compradores e consumidores, como explicou o vice-presidente Institucional, Jurídico e Compliance da BRF, Bruno Ferla: “A produção interna das proteínas tem capacidade de se adequar às demandas sem perder qualidade e competitividade”. De acordo com André Muller, “O PACIC é uma relação de sucesso e agora é seguir e aprofundar este caminho”.

Prioridades para o futuro 

Ao ser questionado se o Brasil está preparado aumentar o volume das exportações, o CEO da Minerva Foods, Fernando Queiroz, explicou que, com a competência e a força do Brasil no agro é possível fazer mais para que o alimento brasileiro seja um fator de inclusão e de acessibilidade para classes menos favorecidas. “Podemos fazer isso ao reduzir ou eliminar barreiras alfandegárias e não-alfandegárias, permitir acesso livre aos mercados e estarmos certos de que os alimentos são produzidos com sustentabilidade. O Brasil pode fornecer com competitividade”, defendeu. 

Sobre o futuro, o presidente do Consejo Nacional Agropecuario, Juan Gallardo, disse que os temas discutidos devem estar entre as prioridades da agenda dos países. “Devemos ser mais sustentáveis e a ciência e tecnologia terão um papel fundamental na solução dos problemas”.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), Antonio Camardelli, encerrou falando que o “Brasil tem o combo ideal qualidade, quantidade, competitividade e alinhamento de regras sanitárias”.

Mobilidade e logística

No painel sobre “Integração das cadeias produtivas em mobilidade”, representantes da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), Nissan, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Indústria Nacional de Autopartes do México e Associação Mexicana da Industria Automotora apresentaram alguns avanços do setor de transporte. O segmento passa por adaptações e enfrenta o desafio da transição energética diante das dificuldades de mobilidade. De acordo com o debate entre os participantes, os dois países têm necessidades de infraestrutura e abrem oportunidades de negócios do setor de logística. Há novas sinergias nas áreas de energia renovável e biocombustíveis e a tecnologia será uma das grandes aliadas para vencer o desafio de ampliar a produção com sustentabilidade.

Para fechar o Fórum, o último painel, que tratou do tema “Nova indústria e sustentabilidade”, teve moderação do gerente de Inteligência de Mercado da ApexBrasil, Igor Celeste, e reuniu representantes MDIC, de empresas brasileiras e mexicanas como Natura, Eurofarma, Mabe, Weg, Coca Cola Femsa e InBev. Ao longo do painel, todos foram unânimes ao falar sobre o potencial de ambas as nações para continuarem ampliando os laços econômicos não apenas via investimentos estratégicos, mas via inovação e adoção de práticas sustentáveis.

Para os participantes, é necessário criar uma agenda de prioridades que favoreça os negócios internacionais com equilíbrio no fluxo comercial, com foco em sustentabilidade e que resulte no desenvolvimento para os dois países. Por fim, concluíram que há um ambiente favorável à integração econômica entre México e Brasil e que a tendência é a ampliação das oportunidades e dos negócios com cooperação mútua e visão de longo prazo.

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