De acordo com dados do artigo da engenheiro agrônomo João Paulo Pennacchi publicado no Blog da Aegro, a geração de resíduos é uma constante em processos produtivos em todo o mundo, e na agropecuária não é diferente. Subprodutos inevitáveis da produção agrícola e pecuária, os resíduos precisam ser cuidadosamente manejados para evitar impactos ambientais e, ao mesmo tempo, aproveitados de forma a gerar valor e promover a sustentabilidade no campo.
Com o avanço da consciência ambiental e a regulamentação mais rígida, os resíduos agrícolas, antes tratados como descarte sem importância, passaram a ser vistos como recursos valiosos. Essa transformação desafia produtores, empresas e governos a adotarem práticas modernas de manejo e reaproveitamento.
A agricultura global gera bilhões de toneladas de resíduos anualmente, provenientes de diversas etapas da produção, desde o preparo do solo até o processamento pós-colheita. Esses resíduos são classificados em:
- Resíduos sólidos: Restos de culturas, bagaços, cascas, embalagens plásticas e peças de maquinários.
- Resíduos líquidos: Águas residuais de lavagens e beneficiamento, vinhaça e restos de agroquímicos.
- Resíduos gasosos: Gases emitidos por motores de maquinários, fumaça de queimas e vapores industriais.
Além disso, os resíduos podem ser orgânicos, como restos vegetais, ou inorgânicos, como plásticos e metais.
O manejo inadequado de resíduos agrícolas pode gerar sérios problemas ambientais. A queima de restos culturais contribui para a poluição do ar, enquanto o descarte em aterros sanitários libera metano, um potente gás de efeito estufa. Além disso, os resíduos inorgânicos, como embalagens de agrotóxicos, requerem descarte regulamentado devido aos riscos de contaminação do solo e das águas.
Desafios como a logística de recolhimento, a conscientização dos produtores e a infraestrutura adequada ainda são barreiras a serem superadas no Brasil.
No país, o manejo de resíduos agrícolas é regido por legislações específicas, como as Leis Federais 7.802/1989 e 9.974/2000, além do Decreto Federal 4.074/2002. Essas normas estabelecem responsabilidades para cada elo da cadeia produtiva:
- Produtores: Devem lavar e devolver embalagens vazias e restos de produtos a pontos indicados.
- Comerciantes: Precisam receber e armazenar resíduos corretamente e conscientizar os agricultores.
- Fabricantes: São obrigados a recolher e dar o destino final às embalagens devolvidas.
A gestão de resíduos agrícolas pode se transformar em uma oportunidade sustentável e rentável com práticas inovadoras, como:
- Biomassa para energia: Subprodutos agrícolas podem ser convertidos em biogás, bioetanol e biodiesel, substituindo combustíveis fósseis.
- Compostagem: Resíduos orgânicos são transformados em adubo, melhorando a fertilidade do solo.
- Reciclagem de nutrientes: Técnicas como o uso de vinhaça e carvão vegetal ajudam a reintroduzir nutrientes no solo.
- Produção de papel e embalagens: Resíduos como o bagaço da cana podem ser reaproveitados para a fabricação de papel e papelão.
Para produtores, práticas de manejo correto dos resíduos podem gerar certificações e vantagens competitivas. Já para empresas, iniciativas como descontos e crédito para quem segue as normas ambientais fortalecem laços com clientes e estimulam boas práticas.
No âmbito governamental, programas de subsídio e bonificação, como incentivos para a geração de créditos de carbono, podem fomentar a adoção de práticas sustentáveis.
Ao transformar resíduos em recursos, o setor agropecuário brasileiro pode não apenas reduzir impactos ambientais, mas também agregar valor à cadeia produtiva, promovendo um futuro mais sustentável.