Mais municípios decretam situação de emergência
Com a assinatura do documento em Mato Leitão e Pantano Grande, número chega a cinco apenas no Baixo Vale do Rio Pardo
Mais dois municípios da região do Baixo Vale do Rio Pardo estão em situação de emergência em decorrência dos danos com a escassez de chuva nas últimas semanas. Depois de Encruzilhada do Sul, Venâncio Aires e Sinimbu, agora foi a vez de os prefeitos de Pantano Grande, Cássio Nunes Soares, e Mato Leitão, Carlos Alberto Bohn, assinarem o documento. O número pode aumentar ainda esta semana, pois equipes da Defesa Civil e órgãos ligados à agricultura de Santa Cruz do Sul e Candelária realizam o levantamento da situação.
O prejuízo financeiro em diversas atividades agrícolas de Mato Leitão supera o montante de R$ 10,3 milhões, envolvendo mais de 450 famílias. A decisão pelo decreto ocorreu durante encontro na segunda-feira entre o prefeito Carlos Alberto Bohn, o secretário da Agricultura, João Carlos Machry, coordenador municipal da Defesa Civil, Gilberto Pfeifer, e o chefe local da Emater, Claudiomiro Oliveira. A estiagem atinge milho, soja, tabaco, bovinos de corte, produção de leite, pastagens, hortaliças e ainda o abastecimento de água para animais em diversas propriedades.
Na cultura do milho (grão e silagem), em cerca de 2,5 mil hectares, o dano é estimado em 45%, com estimativa de perda em R$ 7,5 milhões. Outra atividade com sérios problemas é a produção de leite, cuja previsão de prejuízo chega a R$ 930 mil. Com a perda das pastagens e grande parte da silagem de milho, a alimentação do rebanho está comprometida. As altas temperaturas das últimas semanas causaram queda brusca de produção no rebanho, o que determina quebra atual ao redor de 30%.
Reunião na Famurs tratará sobre os problemas no Estado
A Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) realiza uma reunião nesta quinta-feira, 9, para a avaliação dos danos e propostas para auxiliar os produtores por causa da estiagem. O encontro, a partir das 14 horas, ocorre na sede da entidade, em Porto Alegre, e reunirá representantes da Secretaria da Agricultura, Defesa Civil e entidades agrícolas, além do presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, o deputado Heitor Schuch (PSB/RS).
O deputado Schuch afirma que a situação é alarmante. Em roteiro de visitas no Vale do Taquari, nessa terça-feira, o parlamentar pôde constatar pessoalmente a situação difícil no interior, especialmente no milho, com prejuízos irreversíveis. “Os agricultores precisam de ajuda”, ressalta, lembrando que outras culturas, como a uva e a soja plantada mais cedo, também estão afetadas.
O deputado já formalizou à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a preocupação com a estiagem no Rio Grande do Sul, que só aumenta diante das previsões climáticas que indicam um período longo de chuvas escassas no Estado. Também já solicitou reunião emergencial da bancada gaúcha com entidades ligadas ao setor para se ter um quadro atualizado das perdas e as providências que devem ser tomadas em Brasília para minimizar os prejuízos.
Para Schuch, além de medidas emergenciais, é preciso avançar num plano de infraestrutura, com a construção de açudes , barragens, sistemas de retenção da água e irrigação, ações preventivas, e não apenas incentivar “a adoção de seguro para engordar as seguradoras”. “Nosso temor é que se repita aquela seca terrível de 2005, quando voltou a chover regularmente somente em março, com perdas gigantescas e na economia dos municípios e do Estado. Só que, de lá para cá, o que se fez de ações concretas de combate e prevenção?”, questiona.
O prefeito Cássio Soares ressaltou a importância da mobilização dos setores neste momento de dificuldades. “Iremos nos reunir para mobilizar todos os setores da economia. A estiagem não só prejudica o produtor rural, mas toda a cadeia de produção. Nosso trabalho será o de mobilizar e buscar alternativas para amenizar as perdas daqueles que produzem”, ressaltou.
Perdas superam R$ 46 milhões em Pantano
O prefeito de Pantano Grande, Cássio Soares, assinou o decreto de situação de emergência baseado no laudo da Secretaria de Agricultura, Emater e Defesa Civil do município. Ele aponta as perdas parciais e dados meteorológicos que indicam a continuidade da falta de chuvas expressivas para os próximos dias. O levantamento assinala que o município está há cerca de 30 dias sem a ocorrência de chuvas consideráveis, o que prejudicou a germinação das plantas. Além das perdas na agricultura, o setor de pecuária deve registrar diminuição da produtividade.
O secretário nacional de Agricultura Familiar e Cooperativismo, Fernando Schwanke, participou de encontro no município na sexta-feira. Ele relatou que irá levar ao Ministério da Agricultura informações referentes ao problema enfrentado pelo Estado. Segundo o relatório, Pantano Grande poderá ter perdas superiores a R$ 46 milhões na agricultura e cerca de R$ 2,3 milhões na pecuária. No período de novembro a dezembro, o acumulado de chuvas foi de somente 120 milímetros, muito abaixo do necessário para que a produção não sofra prejuízos.
Estimativas de perdas
Soja: área prevista de cultivo de 21.300 hectares com produtividade estimada inicialmente em 3 mil quilos/hectare, estando em fase vegetativa. Estima-se uma perda de 45% em relação ao previsto, pela falta de umidade e temperaturas muito elevadas, com morte de plantas no início do desenvolvimento.
Arroz: área prevista de cultivo de 4.530 hectares com produtividade estimada inicialmente em 8 mil quilos/hectare. A cultura está em fase de desenvolvimento vegetativo com estimativa de perdas de 20% até esse momento. As reservas de água diminuíram drasticamente pela estiagem e também em função da evaporação pelas altas temperaturas e ventos constantes.
Milho: área prevista de cultivo de 600 hectares com produção de grãos e silagem. Toda a área foi implantada estando em fase de desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, com perdas estimadas em 80% da estimativa inicial.
Feijão: área prevista de cultivo de 15 hectares com produtividade estimada inicialmente de 1,8 mil quilos/hectare. As lavouras estão em fases de floração, enchimento de grãos e colheita. Estima-se uma perda de em torno de 80% em relação à estimativa inicial.
Olericultura: área prevista de cultivo de várias culturas comerciais, sendo 8 hectares de aipim, 2 hectares de repolho, alface e outras hortaliças, com produtividade estimada inicialmente de 8 mil quilos/hectare somadas todas as culturas. Contabilizam perdas de 70% da estimativa inicial.
Fruticultura: culturas de noz pecan e moranguinho, com 67 hectares. Há perdas na fase de produção do morango e de aproximadamente 60% da produção na etapa reprodutiva de noz pecan.
Bovinocultura de corte: com 26 mil cabeças, com média de perdas peso/dia de 200 gramas por animal, contabiliza em torno de 312 toneladas de prejuízo. As pastagens de verão estão com crescimento irregular e campo nativo com desenvolvimento vegetativo comprometido. Com isso, os animais estão perdendo peso há mais de 40 dias.
Bovinocultura de leite: o setor contabiliza uma perda de 40% em razão das pastagens estarem secando e os animais perdendo peso. As perdas somam 120 mil litros no período da estiagem até esse momento.