Maior cidade do país, São Paulo tem área rural com pomares e bois pastando pelas ruas
O município de São Paulo tem 1.509 quilômetros, dos quais 90 quilômetros (6,12% do total) compõem as chamadas zonas rurais
Para quem enfrenta mais de 100 quilômetros de congestionamentos todos os dias e respira ar poluído, o lado rural de São Paulo pode parecer um oásis no deserto. Tome o extremo leste da cidade. Ali, segundo a subprefeitura de São Mateus, existem três regiões consideradas rurais: São Mateus, São Rafael e Iguatemi. Mais de 300 mil pessoas vivem nesses locais. No Iguatemi, existe uma das maiores reservas de Mata Atlântica do estado de São Paulo. Bois e vacas pastam nesses bairros como em cidades onde a pecuária é a principal atividade econômica. Até criação de cavalos se faz nestes locais.
- Cadastramos 96 agricultores que vivem de plantar hortaliças e frutas como laranja, limão, bananas e até cambuci - diz a bióloga Vandineide Cardoso Lopes, da subprefeitura de São Mateus.
Ela conta que a Prefeitura mantém um programa de agricultura urbana para elevar a produtividade dessa turma de agricultores urbanos.
" No extremo leste da cidade, 96 agricultores vivem de plantar hortaliças, frutas como laranja, limão, bananas e até cambuci. Tudo é orgânico "
- Se a produção aumenta, a tendência é que eles não expandam sua área de plantio e preservem a Mata Atlântica. E há gente que nem tem para onde expandir sua horta, já que elas estão debaixo de torres de alta tensão, por exemplo - diz a bióloga.
Esses chacareiros são estimulados a praticar uma agricultura orgânica. Toda quarta-feira fazem uma "feirinha" de orgânicos na própria sede da subprefeitura de São Mateus. A bióloga Vandineide quer expandir o número de agricultores que participam do programa. Outro objetivo dela é fazer uma espécie de "censo pecuário" e descobrir quantas famílias vivem dessa atividade na região. Já se sabe que, além da criação de cavalos e bois, há também criação de porcos e galinha para consumo próprio.
- Queremos regularizar essas atividades, fazer convênios com abatedouros oficiais, com frigoríficos - diz ela.
Há anos, a alface que chega ao prato dos paulistanos diariamente é produzida às margens da represa de Guarapiranga, na zona rural na porção sul da capital. Mas essa produção cai ano a ano e perde mercado para as hortaliças vindas de outros municípios da Grande São Paulo. Para os ambientalistas, isso é uma pena.
- A agricultura existente no extremo sul da capital ainda é muito pujante, mas tem sofrido bastante com a falta de políticas públicas - afirma a pesquisadora Iara Chagas de Carvalho, do Instituto de Economia Agrícola, ligado à secretaria estadual de Agricultura.
Represa de Guarapiranga vira área de lazer no verão para quem mora na região. Foto: Diário de S. Paulo Em levantamento feito pela pesquisadora, a agricultura dessa região ainda é muito importante para a cidade. Além das hortaliças, ali também se plantam eucaliptos usados como árvores de natal em toda a Região Metropolitana, plantas ornamentais e até orquídeas para exportação.
- Esses produtores são extremamente voltados para o mercado. Sabem como ter um alto aproveitamento da área sem provocar devastação. Pelo contrário, eles são ótimos parceiros, porque ficam bem atentos à qualidade da água da região e ao nível dela, detectando rapidamente se há pessoas mexendo nas nascentes da represa - diz Iara.
É perto de Guarapiranga, que descendentes de japoneses e alemães também aram a terra.
Morar ao lado de Mata Atlântica, pesqueiros e pomares em plena metrópole pode parecer o melhor dos mundos, mas a realidade mostra um cenário diferente. Os moradores dessas áreas são prejudicados pela ocupação desordenada da terra e pela violência. São regiões carentes de tudo. Nessas áreas não há teatro, cinema com ar refrigerado ou centro esportivo. Isso para não falar de coisas mais básicas como hospitais públicos. Na região de Marsilac, extremo sul, não existe um único hospital público, embora 89% da população dependa do Sistema Único de Saúde (SUS). Em Parelheiros, não há sequer agência dos Correios e o único posto bancário fica dentro da subprefeitura. A criminalidade também assusta.
- Em 2004, fizemos um levantamento com 75 famílias da região. Todas, sem exceção, haviam sido vítimas da violência. Com assaltos dentro da propriedade. Mas, apesar disso, eles ainda se mantêm na terra, moram e trabalham ali. Mesmo em cidade pequenas, o que temos atualmente é a maioria dos produtores rurais morando nos centros urbanos - afirma a pesquisadora Iara Chagas.